14 dezembro, 2025
Branca de Neve
6 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)

Muito bom!
ResponderExcluirQue todas mulheres entendessem assim ! Se valorizassem, ficassem inteiras, sem competições!!! Adorei!
beijos, chica
Todas essas histórias infantis eu nunca me preocupei em fazer análises.
ResponderExcluirSempre vi só como histórias infantis.
Beijo,
Boa tarde de domingo querida Branca de Neve redimida e empoderada!
ResponderExcluirEu também:
"Gosto de imaginar outra versão.
Uma em que Branca de Neve acorda sozinha.
Entende que não precisa competir com espelhos.
Nem provar pureza.
Nem esperar resgate."
Além do mais, príncipes não existem...
Sejamos inteiras mesmo depois de 'envenenadas' pelo desamor.
Vale a pena ter amor próprio e autoestima no lugar certo.
Eu me escolhi e acabei de ser escolhida. Primeiro temos que optar por nós, depois alguém casualmente nos escolhe e a gente se sente valorizada de verdade.
Lindíssimo conto onde Anselm Grun tem uma linda versao que já postei também.
Tenha dias de dezembro abençoados!
Bejinhos fraternos
"Ser protagonista da própria vida". Entendi muito bem a sua versão da história da branca de neve. Tantas vezes ficamos agarradas ao que acham, ao que pensam ao que dizem de nós. Afinal não precisamos de estar a competir com nada, nem com ninguém. Apenas com nós próprias. É sempre um prazer enorme lê-la minha Amiga Fernanda.
ResponderExcluirAproveito para lhe desejar um Natal cheio de amor e um ano de 2026 com muita saúde e conforto para si toda a sua família.
Um beijo.
Há mulheres muito sofridas, não por terem madrasta más, mas, sim, por que a vida é para muitas, madrasta. Chegam a casa cansadas do trabalho e ainda têm muito a fazer no que deveria ser um lar; por várias razões, não passa de uma casa, com paredes, teto e pouco conforto. Os filhos pedem atenção, mas o que vêem, é tantas vezes violência, física ou psicológica. Há tanta violência doméstica, querida Fernanda...
ResponderExcluirUltimamente, temos tido conhecimento pelas noticias, que esses terríveis desmandos estão a ser cometidos contra os idosos pelos próprios filhos. Não conseguimos encontrar palavras para justificar estas atrocidades, cometidas pelo tal " homo sapiens "
E sim, há mulheres cansadas que calam para sobreviver e muitas , creio, optam por " escolherem-se", mas, nem sempre são capazes. Hoje, conseguem refúgio, elas e os filhos, mas, ao primeiro descuido, lá aparece aquele a quem tentaram não incomodar e o pior acontece. Felizmente, ainda há casos em que elas superam, curam as feridas e seguem..." sem madrasta...sem anões...sem maçã...inteiras "
São umas heroínas, estas mulheres!
Um beijinho, Fernanda e obrigada pelas reflexões que nos levas a fazer, tentando que, assim, façamos o nosso melhor, nestes casos e em tantos outros que atormentam o nosso mundo.
Emília 🎄 🔔
Oi, Fernanda! Boa tarde! As mulheres conquistaram, com dignidade e esforço, seu espaço de destaque na tapeçaria vibrante da sociedade contemporânea. No entanto, ainda se observa que muitas permanecem à espera do príncipe encantado, ou do amor idealizado que habita os recessos de seus sonhos. É importante ressaltar que não estou a desmerecer esses anseios; ao contrário, encorajo a continuidade desses desejos. Contudo, talvez seja benéfico que algumas possam se ancorar na realidade, equilibrando suas esperanças com a pragmática do cotidiano. Essa reflexão, como é habitual, se alinha ao seu admirável foco no empoderamento feminino, que tanto enriquece suas postagens e sua poesia. Abraço minha amiga
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