15 dezembro, 2025

Minas de mim

Aleatoriamente um toque de poesia



Há lugares em mim
que ainda não toquei.
Cavernas silenciosas
onde a dor virou som
e o amor aprendeu a esperar.

Sou feita de minas 
umas de ouro,
outras abandonadas,
outras perigosas
que só se atravessam com fé.

Carrego explosões contidas
em forma de calma.
Quem me vê inteira
não imagina
quantas vezes precisei
me reconstruir em pó.

Mas sigo.
Porque até do fundo da terra
nasce água.
E até de mim, cansada,
brota luz
quando escolho continuar.


Fernanda

14 comentários:

  1. Nanda, tenho cereteza que de ti brota tanta luz que poderias uma usina alimentar...
    Mesmo cansada ela aparece e brilha!

    Linda poesia!

    beijos, tudo de bom! Adorei teu comentário lá ! Obrigadão sempre!
    chica

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    1. Querida,Chica…

      que coisa mais bonita de se ler assim, de repente, como quem recebe um abraço no meio do dia

      Gostei dessa imagem da usina ri sozinha aqui. A verdade é que tem dias em que a luz falha um pouco, sim… mas a gente aprende a brilhar do jeito que dá, nem que seja em lâmpada de cabeceira. E já é suficiente.

      Obrigada pelo carinho generoso, pelo olhar atento e por essa troca tão boa que a escrita permite. Fico feliz demais em saber que o poema te tocou e que meu comentário por lá te fez bem também. Isso é encontro de carinho, e encontro de carinho sempre ilumina.

      Beijos cheios de afeto,
      tudo de bom pra você também 😘🙏🏻

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  2. Querida Fernandinha, que maravilha de poema, tão humano, tão verdadeiro que li, reli, reli... e quanto mais li, mais beleza descobri!
    Estou atrasada nas minha visitas aos amigos, ontem a luz e água só chegaram as 23 horas, e já está chovendo novamente, ainda há luz 😄 tenho de rir para não chorar. Já recebemos o Alerta Vermelho novamente, vem mais coisa...
    Mas uma hora a coisa se acomoda. Paciência é preciso.
    Queridona, aplaudo daqui, beleza, emociona de tão puro e verdadeiro teu poema.
    Beijinhos, Nandinha.
    🙋‍♀️❤️🌹

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    1. Querida…

      que alegria te ler!
      Fiquei imaginando você aí, entre a chuva insistente, os alertas vermelhos e essa coragem bonita de rir para não chorar, isso também é poesia da vida real. Às vezes o cotidiano nos testa, mas o coração encontra jeitos delicados de não endurecer.

      Saber que você leu, releu e ainda encontrou novas belezas no poema me emocionou profundamente. É como se o texto tivesse ganhado morada em você, e isso é o maior aplauso que um poema pode receber.

      Que essa tempestade passe logo, que a luz permaneça acesa, fora e dentro e que a paciência continue sendo esse abrigo silencioso que sustenta enquanto tudo se acomoda.

      Recebo teu carinho com gratidão e afeto.
      Um abraço desses que aquietam,
      e beijinhos cheios de luz,

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  3. Boa tardinha de paz, querida amiga Fernanda!
    Hoje à tarde chorei muito... não se preocupe, pois não foi de tristeza atual.
    Estava conversando no coração com uma pessoa... Você conversa com uma pessoa querida no coração?
    Deve conversar sim...
    Pois bem, enquanto eu falava para ela minhas implosões, em meu rosto rolavam lágrimas de explosões...
    A pessoa com quem eu conversava era (é) uma calma em forma de gente. Assim que meu ouvinte do coração sabia me entender e consolar com toda ternura.
    Mais uma vez eu também me reconstruí em pó...
    Estou escolhendo continuar, amiga.
    A felicidade tarda, mas não falha porque Deus é Fiel.
    Ainda bem não somos minas de bombas... Graças a Deus!
    O amor resolveu nos esperar e nos conduz a um final feliz.
    Tenha dias de dezembro abençoados!
    Beijinhos fraternos

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    1. Boa noite de luz, querida Roselia

      Li suas palavras com o coração em silêncio, desses silêncios que não doem acolhem.
      Sim… eu converso com pessoas queridas no coração. Converso muito. Elas moram num lugar onde as palavras não precisam de som e as respostas chegam em forma de calma, exatamente como você descreveu.

      Chorar assim é oração que escorre. Não é fraqueza, é limpeza. Às vezes a alma precisa se desfazer em pó para reaprender a ser chão fértil.

      Que bonito isso que você disse: “estou escolhendo continuar”. Há escolhas que são verdadeiros atos de coragem espiritual. Continuar é fé em movimento.

      E não somos minas de bombas, graças a Deus… somos jardins em reconstrução. O amor, quando é verdadeiro, sabe esperar. E Deus, esse sim, nunca falha. Ele chega sempre no tempo certo, mesmo quando a gente acha que se atrasou.

      Que dezembro te abrace com suavidade,
      que seus dias sejam mansos,
      e que a calma essa pessoa em forma de gente continue te visitando por dentro.

      Beijinhos fraternos, com carinho e presença

      🙏🏻😘

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  4. Um tom confessional que fica ressoar; fez lembrar-me a autenticidade do Torga, aquele gesto desvelado e corajoso. O autoconhecimento é a primeira estação para conhecermos o resto, este poema é essa primeira estação que poderá não coincidir com o início do caminho. Pode ser que caminhemos afinal da morte para a vida, e que morrer não seja mais do sair de um novo útero para uma outra vida. Poema coeso e consistente. É daqueles que devido ao tema, à sintaxe e ao campo lexical presta-se a ser lido em voz alta. Boas festas, Fernanda

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    1. Luís,

      que leitura profundamente atenta. Fiquei tocada por esse paralelo com Torga pela coragem do gesto desvelado, mas sobretudo pela ideia de autenticidade que você destaca. É ali que a escrita me interessa: nesse ponto em que não se inaugura um caminho, mas se reconhece uma estação.

      Gostei muito dessa jeito de caminhar da morte para a vida, como quem sai de um útero para outro. O poema se amplia para além do escrito, num movimento maior, quase ontológico. Talvez o autoconhecimento seja mesmo isso: não um começo, mas um atravessamento.

      Saber que o texto pede voz, que se presta à leitura em voz alta, me alegra palavra precisa de corpo, de respiração, de som. Obrigada por esse olhar que escuta.

      Boas festas para você também, com poesia, silêncio bom e recomeços possíveis.🙏🏻

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  5. Você é luz, Nanda! Aliás, é álgebra. Uma álgebra diferente da que ouvi falar na escola, pois nunca estudei álgebra, só ouvi falar. Troquei a álgebra por sete anos de latim e, em lugar de números, letras, terminei lendo as Cartas de Cícero, em Latim, a minha álgebra, não poderia ser diferente.
    Como eu a entendo, ou como nos entendemos, era o que queria dizer-lhe depois da leitura desse poema; como admiro seu tempo para a colheita, apesar de tanto labor. Você escreve com uma delicadeza e espontaneidade como se fosse feita das vibrações do orvalho, ah, como eu gosto da sua humanidade e dos eus que habitam seus poemas.
    Ah, também gosto do seu olhar cuidadoso, penetrante, arguto, nas minhas mal traçadas linhas, pelo menos as de hoje, rsrsrs.
    Preciso dizer objetivamente que gostei demais do seu poema?
    Sabe, não vejo é a hora que você vai chamar-me para um cafezinho, rsrsrs.
    Um fraternal abraço, dileta amiga!
    José Carlos

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    1. Meu amigo querido,

      que texto afetuoso e inteligente você me oferece desses que a gente lê devagar, como quem segura uma xícara quente entre as mãos. Gostei muito dessa tua definição da álgebra: não a dos números, mas a das letras, do latim, do pensamento que combina signos para tentar compreender o ser. Talvez seja isso mesmo que nos aproxime: essa tentativa de decifrar a vida por vias menos óbvias.

      Teu olhar sobre meu tempo de colheita me tocou, porque ele existe justamente por causa do labor e também da espera. Se há delicadeza no que escrevo, ela vem dessa escuta atenta do mundo, dos outros, de mim mesma. E saber que você percebe isso dá sentido ao caminho.

      Agradeço, com carinho sincero, a leitura generosa e o cuidado com que você se aproxima dos meus versos. Quanto ao cafezinho… ele fica prometido, sim porque boas conversas sempre pedem mesa, tempo e riso.

      Um abraço fraterno e grato,😘🙏🏻

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  6. Muito lindo Fernandinha, esse tirar agua das pedras é de uma profundidade imensa. Somos minas e a exploração inesgotável. Sei bem de suas palavras, que bem emolduram sua existencia na resiliencia e na têmpera para superar as as mais profundas minas. Poder-se-ia dizer que você, é uma destas aguias que se recolhem para renascer cada vez mais forte e bela na arte de se superar com graça e arte, porque viver é mesmo uma arte do reaprender, reconstruir-se continuamente.
    Gostei de ler e saber o quanto isto espelha voce.
    Carinhoso abraço e que Deus te abençoe sempre com carinho amiga.

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    1. Toninho, tão querido,

      que leitura linda e cheia de sentimento forte você me entrega. Fiquei especialmente tocada por essa ideia de “tirar água das pedras” como profundidade porque, muitas vezes, é exatamente disso que se trata viver: encontrar fonte onde parecia só dureza.

      A metáfora das minas me acompanhou enquanto lia teu comentário. Somos mesmo vastos por dentro, cheios de veios escondidos, alguns luminosos, outros difíceis de atravessar. E a resiliência, como você bem diz, vai sendo essa têmpera silenciosa que a vida nos oferece às vezes à força, é verdade, mas sempre com possibilidade de aprendizado.

      A águia recolhida para renascer é bonita e exigente. Não romantiza o processo, mas reconhece a coragem de se refazer. Viver, no fim, é essa arte contínua de reaprender e reconstruir-se, com falhas, com beleza, com verdade.

      Agradeço de coração tuas palavras, o carinho e a bênção. Que esse afeto também te acompanhe e te fortaleça sempre. 🙏🏻😘

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  7. Que bonito, Fernanda. Tenha uma ótima semana. bj

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)