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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

29 abril, 2025

Entrada de diário

Aleatoriamente um toque de poesia

Hoje voltei  naquele quarto de adolescência dentro de mim. Aquele lugar onde eu escrevia com pressa de existir, onde cada palavra era de certa forma um grito mudo pedindo espaço. Lembro da menina que eu era encantada com o aprendizado da vida, mas cheia de histórias por dentro. Ela escrevia como se o mundo fosse acabar a qualquer momento. E de certa forma, muitos dos seus “mundos” acabaram mesmo, mas outros nasceram.

Eu cresci. Formei uma família. Conheci Felipe  meu amor sereno, meu par, minha metade. Adotamos quatro crianças, e depois chegaram os trigêmeos. A casa virou um redemoinho de risos, choros e pequenas mãos. Foi o tempo mais cheio de vida que já vivi. E mesmo assim, ele se foi. Uma apendicite. Simples, cruel, inesperada.

Quando Felipe partiu, eu desmoronei por dentro, mas continuei de pé por fora. Ninguém sabia a quantidade de noites em que chorei tentando não fazer barulho. Ninguém sabia o quanto me doía sorrir para os meus filhos enquanto tudo em mim ainda despencava.

Meus sogros, a quem chamo de pai e mãe também me ajudaram a respirar. Me disseram que a vida continuava. Eu não queria admitir.

Depois de tanto refletir segui.

E um longo tempo depois, alguém apareceu. Alguém que me olhou com paciência e não tentou ocupar o lugar de Felipe  só quis me ver florescer de novo, de outro jeito. Eu resisti. Mas, no fim, aceitei. Porque amar novamente não é trair o que passou. É honrar o que continua vivo em nós.

Segui em frente, não por força, mas por fé. Troquei a fisioterapia pela medicina. Virei pediatra. Talvez porque cuidar de crianças seja minha forma de lembrar do que é puro, de reencontrar cada um dos meus filhos, e a mim mesma. Criei um centro para crianças e idosos. Vivo correndo entre plantões e responsabilidades. Vivo cansada. Mas viva.

Hoje, voltei ao blog. Ao diário. Ao lugar onde tudo começou. Não sei quem vai ler. Talvez ninguém. Mas escrever é a forma mais sincera que tenho de existir.

E se eu pudesse encontrar aquela menina que escrevia escondida, eu diria: Você vai passar por muitas coisas, mas vai sobreviver. E mais do que isso vai florescer em lugares que nem sabia que existiam em você.

Ela ficaria orgulhosa de mim.

E hoje, pela primeira vez em muito tempo, eu também fico Euzinha.


3 comentários:

  1. Olá, querida amiga Fernanda!
    temos muitos pontos em comum.
    "Ninguém sabia a quantidade de noites em que chorei tentando não fazer barulho."
    O mesmo se sucedeu comigo e foi um sofrimento que ainda não teve fim de todo.
    Ser abandonada pelo amor da nossa vida numa pandemia cruel é terrível. Uma dor dilacerante. Fiquei destruída.
    Aos poucos, Deus vai nos consolando para uma dor que ficará para sempre sem extinção...
    Também eu me debruço sobre as palavras pois ela tem mais paciência do que as pessoas.
    "Escrever é a forma mais sincera que tenho de existir."
    Vamos engolindo o choro como em criança quando a mãe ralhava pelo estado de nervo e o medo invadia o coração sem nada entender.
    O blog nos permite amigos que aliviam nossa solidão de alma e tristeza do âmago.
    Deus merece nossa luta constante em sobrevivermos o melhor possível mesmo sem entender tantas coisas.
    A ajuda ao próximo é um álibi impressionante. Como disse Caio Abreu: Botei minha dor no bolso e fui ajudar o próximo.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos fraternos

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  2. Nanda querida, eu que te acompanho há tantos anos senti e vivi tua dor com a partida do Filipe e depois o outro amor, as mudanças, a criançada toda! Que bom nunca desististe! E assim, mesmo cansada, trabalhando muito, ajudando aos outros vais seguri! Felicidades SEMPRE! beijos, chica

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  3. Olá

    Cativante sua história. Chegar trigêmeos depois de já ter adotado 4 filhos? Isso é uma aventura...perder seu companheiro assim, por uma apendicite....um daqueles baques que a vida nos dá pra que nós venhamos a ver do que somos feitos. Você não quebrou. Seguiu em frente. Evoluiu. Você é uma grande mulher!

    abraços

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)