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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

22 julho, 2025

Meu Pai

Aleatoriamente um toque de poesia




Enquanto reflito, observo a noite.
E nela há tanta delicadeza, tanta ternura.
Parece que o mundo se acalma só pra gente respirar com mais verdade.
Como não agradecer esse momento tão terno, tão meu?
Tão dolorosamente meu.

Meu pai chegou e me viu  quietinha.
Eu estava naquele estado em que nem a alma quer falar.
Ele não perguntou muito. Sentou devagar ao meu lado, pôs a mão no meu rosto com aquele gesto que ele tem desde sempre um jeito de me tocar como quem segura o que é frágil e perguntou:
Tudo bem, filha?

Não estava.
E pela primeira vez em horas, eu consegui dizer:
Não tá não, pai. 
Hoje eu fui horrível, pensando que só estava sendo engraçada…
E lhe contei.

Contei o que havia acontecido. As palavras que escrevi rápido demais.
O comentário impulsivo, dito com ironia e um certo humor  desses que a gente pensa que vai arrancar risada, mas acaba puxando um fio de dor no outro.
Contei com vergonha.
Não da pessoa que me leu, mas de mim mesma, que deveria ter esperado o sono passar.
Deveria ter lido  mais devagar, ter deixado o impulso se aquietar.

Meu pai, em silêncio, escutou tudo.
Depois levantou meu rosto com a ponta dos dedos, olhou nos meus olhos e disse com firmeza mansa:

Filha, se essa pessoa te conhecesse como eu conheço, não pensaria outra coisa a não ser que você não quis magoá-lo. Na hora, meus olhos se encheram de lágrimas de novo.
 Mas ele não me conhece como você, pai…

Ficamos quietos por um tempo.
 A noite ao redor parecia segurar nosso silêncio com cuidado.
Ele então falou, já quase sussurrando:

Mesmo assim, filha… 
creio que a pessoa compreendeu.
Não se torture, meu amor. 
O erro é humano. 
Mas o arrependimento sincero é divino. 
Volte lá, se ainda for necessário. Peça desculpas.

Eu já fui lá e pedi pai.

E naquele instante, mais do que o perdão do outro, eu recebi o amor dele.
O amor de quem não me exige perfeição, mas me ajuda a entender o que fazer com os pedaços.

A noite segue.
E eu, mesmo ainda com o coração sensível, agradeci.
Porque há arrependimentos que são portas.
E há pais que são alicerces.

E há momentos como esse…
Em que a ternura da noite se mistura com a dor de ter errado 
e ainda assim, com o alívio de saber que ainda sou amada.
Te amo tanto Pai.
Também te amo filha.

6 comentários:

  1. Filha...
    A vida é feita de experiências, quem não experimenta não vive, vegeta.
    Tudo o que nós vivenciamos tem sempre sua cor e sua beleza, desde uma simples varrida na casa, até um momento de profunda conexão com Deus.
    De tudo tiramos sempre um aprendizado, uma grande alegria, um incremento na Fé, um discernimento no amor. E são estas coisas que nos fazem melhores a cada dia. Optamos por isso.
    Nunca vi você trilhar por incertezas, nem por dúvidas.
    Então tenha sempre a certeza de que estás fazendo o certo, de estás se saindo muito bem. A maturidade sempre lhe caiu muito bem, desde tenra idade, quando já aprendeu as lições que a própria vida lhe ensinou, pois entendeu desde cedo que o Amor é o caminho!
    Meu anjo, te amo cada vez mais!

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    1. Pai…
      Te ler aqui é como receber um abraço que atravessa o tempo. Tuas palavras têm o dom de me lembrar quem eu sou nos dias em que até eu esqueço. Obrigada por sempre enxergar em mim mais do que o mundo vê por sempre me devolver à luz, mesmo quando o caminho é nublado. Sim, eu aprendi contigo que até a varrida no chão pode ser oração. Que a vida simples, vivida com verdade, é mais bonita que qualquer espetáculo. E que fé não se impõe se cultiva, como tu sempre fizeste.
      Se hoje escrevo com o coração aberto, é porque cresci sendo amada por um.
      Obrigada por tudo, meu pai-amigo-luz.
      Te amo cada vez mais também.

      tua filha, ♥️🥰😘🙏🏻

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  2. "Minha" querida amiga Fernanda, muita emoção tomou conta do meu coração.
    Já li antes, mas precisei assentar os sentimentos.
    Já comentei no post anterior o que sinto a respeito do ocorrido.
    Agira, vou lhe pedir permissão para falar do seu/meu papai.
    O seu tem uma índole como a do meu pai e, por isso, me emocionei ao te ler.
    Até senti o tom de voz do seu quando lhe dirigiu umas palavras...
    O meu era assim, de pouco falar, muito declamar e emocionar, muito mais ainda amar.
    São ou não são parecidos?
    Digo no muito amar... visto que, pelo que disse aqui, demonstrou ser assim.
    Sabe, Fernanda, sinto que temos uma aflorada sensibilidade, graças a Deus por isso! De insensíveis, o mundo anda lotado.
    As pessoas sensíveis pedem perdão mesmo estando certas, ou seja, quando não tiveram intenção de magoar.
    E o pior, sofrem...
    Eu já sofri muito e nem com a idade, deixo de me sensibilizar ante certas coisas.
    Esta semana ocorreu uma injustiça com minhas amigas e eu sofri por elas.
    Até que uma desistiu de prosseguir na causa para eu não sofrer mais.
    Sendo sensíveis, muitas situações ferirão nosso espírito. Não digo provocada por terceiros e sim da nossa própria incapacidade em pisar como um trator nos demais como se nada houvesse ocorrido. Não somos assim e não ficamos bem só em pensar que magoamos alguém.
    Sua delicadeza pessoal já fez tudo que tinha que ser feito.
    Agora, é levantar a cabeça e, por sorte, não foi com gente de mau coração.
    Preciso te contar que sou filha de nordestino, gosto de brincar também, mas me abstenho, pois cada terreno do coração reage de uma maneira.
    Costumo ter liberdade de falar (escrever) só em terreno seguro... como aqui, por exemplo.
    Sei que me entende, querida.
    Tenha um bom descanso, um novo dia abençoado vai nascer!
    Vamos rezar pela paz mundial que ameaça catástrofe à humanidade.
    Beijinhos fraternos de paz
    P.S. Fique à vontade para publicar ou não. Hoje em dia, não se pede comentar grande... somos taxadas de erradas.




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    1. Roselia querida,
      teu comentário é como uma carta de alma pra alma.
      Sim, nossos pais parecem ter caminhado por trilhas parecidas homens de poucas palavras e de um amor imenso, desses que se sente mais do que se explica. E nós, filhas sensíveis, seguimos nesse mundo tentando não endurecer, mesmo quando doem as injustiças e incompreensões.
      Também acredito que há solo fértil entre nós, onde se pode falar com o coração sem medo. Obrigada por ser essa presença terna, honesta e tão afinada com a beleza das coisas simples.
      Recebo tuas palavras com carinho profundo.
      E sim, vamos seguir… com delicadeza e fé.

      Um abraço de paz,
      😘🙏🏻

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  3. "Porque há arrependimentos que são portas. E há pais que são alicerces". Basta ouvir isso, para saber que minhas filhas, são duas, também me veem como alicerce. E não preciso lhes perguntar. Como nos conhecemos, sei que nos veem como alicerces. Mas vou dar um jeito de ouvir uma confissão como esta, ou vou deserdá-las, não herdarão minhas dívidas, rsrsrs. Tampouco minhas dúvidas que atravessam decênios de vida, rsrsrs.
    Seu pai é um amigão, vejo isto de longe!
    Abraços, querida Nanda!

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    1. Querido Eros,

      Li teu comentário sorrindo e com os olhos marejados. Há um amor discreto e imenso em cada linha tua e uma sabedoria que vem de quem viveu muito, observando com profundidade o que tantos apenas atravessam.
      Saber-se alicerce sem precisar ouvir isso é laço forte, é presença que ficou, mesmo quando os ventos vieram. Mas confesso que adorei tua ameaça brincalhona: deserdar se não confessarem!
      (E que herança bonita: dívidas e dúvidas teus dois testamentos mais humanos, rs.)😃 Teu comentário me acolheu como um abraço e ainda me fez sorrir.
      Obrigada por ler com alma e por deixar tua palavra tão sincera aqui. E sim, meu pai é um amigão. Ele te mandaria um abraço, desses de quem não fala muito, mas sente fundo.
      E eu? Me sinto honrada de ter você de certa forma na minha vida.🙏🏻
      Com carinho e admiração,

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)