Por Fernanda
Durante anos, pareci ter desaparecido das postagens. Sumida das timelines, fora do radar das redes. Mas não se engane com esse silêncio. Enquanto o mundo pensava que eu não escrevia, eu estava era guardando mundos, meu diário no Word, no blog, em rascunhos escondidos entre o cheiro do café e a troca de plantão.
Escrever é uma dessas coisas que faço sem plateia, sem aplauso, sem prazo. Como quem respira. Porque, mesmo quando a vida grita com filhos, plantões, panela no fogo e boletos nascendo feito cogumelos em dia de chuva, há sempre um espaço onde o verbo me chama. E eu vou.
Teve texto escrito entre um descanso e outro. Parágrafos pensados no corredor do hospital. Ideias que escaparam durante a troca de fraldas, mas voltaram fielmente na madrugada. Enquanto outros descansam nas pausas do plantão, eu… descanso escrevendo viu querida Tais! Risos... Durmo melhor na minha cama de casa, é claro, mas nos intervalos longos da vida, é no teclado que estendo meu cobertor.
Tenho tantos rascunhos que, se um dia resolver organizar tudo, viro editora de mim mesma.Risos.
Cada pasta do computador é uma espécie de útero: cheia de textos prestes a nascer. Uns já prontos para o mundo, outros ainda tímidos, encolhidos, esperando coragem. E tem aqueles que talvez nunca saiam mas que cumpriram seu papel de me salvar no exato momento em que foram escritos.
Não sei viver sem escrever. Mesmo sendo mãe, esposa, filha, mulher múltipla com horários improváveis, encontro nas palavras o que nenhum descanso técnico me daria: abrigo. Quando escrevo, volto pra casa. Mesmo que esteja longe. Mesmo que o cansaço pese.
Escrever, no fundo, é minha forma de existir por inteiro. Sem cobrança, sem vitrine. Com amor, como tudo que faço.
E sigo assim: acumulando vidas em silêncio.
Porque quem escreve todos os dias… nunca desaparece de verdade.
Às vezes me perguntam: “Mas como você consegue?” E eu rio. Porque nem sempre eu “consigo”. Às vezes estou no meio de uma frase quando alguém grita “mãe!” do outro cômodo. Outras vezes, a palavra perfeita me escapa no instante em que o feijão ferve ou a campainha toca. Já abandonei mais de um parágrafo para atender um choro no meio da madrugada ou para buscar alguém atrasado na escola. Ou quando o descanso nos plantões terminam.
Mas aí, quando tudo se acalma, volto. Porque a escrita me espera. Ela não se ofende com as interrupções, ela entende talvez porque a escrita também seja mãe, também seja mulher, também saiba dividir-se em mil e ainda assim continuar inteira.
Meus rascunhos são esse retrato fiel: imperfeitos, interrompidos, mas cheios de verdade. Neles, cabem meus dias bons, os difíceis, os absurdos e os maravilhosos. Cabem confissões que nunca tive coragem de dizer em voz alta, pequenas alegrias do cotidiano, pensamentos que brotam na fila do mercado ou no silêncio de um domingo à tarde.
E, curiosamente, mesmo sem publicar por tanto tempo, nunca me senti longe de quem lê. Porque escrever é uma forma de manter laços invisíveis. Um jeito de dizer “estou aqui”, mesmo quando o mundo me vê em mil outros papéis.
Um dia, talvez eu abra essas pastas antigas e monte livros com cheiro de tempo. Talvez organize essas memórias e transforme tudo isso que parece cotidiano em algo que também sirva para os outros porque sei que há gente por aí precisando encontrar nas minhas palavras o reflexo dos próprios dias.
Até lá, sigo escrevendo. Não para ser lida. Mas porque escrever é onde moro. É meu lugar secreto dentro da vida.
E mesmo que o mundo ache que parei, eu sigo como aquelas sementes que germinam no escuro.
Silenciosamente.
Com profundidade.
E com amor.
Querida amiga Fernanda, boa tarde!
ResponderExcluirAconteceu de novo, estava eu terminando meu comentário e pifou, sumiu...
Quando venho aqui, tenho que respirar fundo...
Nunca vi uma pessoa que me diz tanto no mundo virtual, sobre o que escreve.
Adoro pessoas leves, que escrevem como se estivessem falando...
Tenho ojeriza por formalidades o tempo todo...
Uma vez ou outra, sim, sempre, Deus me livre.
A escrita livre me encanta muito.
"Escrever é uma dessas coisas que faço sem plateia, sem aplauso, sem prazo."
Sabe, eu tenho um monte de blog secretos... rs... um deles até você o descobriu... rs...
Um amigo me disse que eu era uma fábrica de livros, diferente de ser a própria editora por não saber tudo de uma, entrego tudo ao Clube (independente) e deixo registrado todos meus escritos para os tataranetos... quiçá?!
Um amigo me disse que escrever é um vício, nós sabemos que os vícios bons se transformam em virtudes.
Tudo que fala aqui me faz lembrar do primeiro lançamento em minha cidade onde as pessoas ficaram de queixo caído, literalmente me disseram, pois não imaginavam que eu escrevesse tanto com prazer e por puro prazer. Uma vizinha me disse: "nerd"... Outra vizinha perguntou se eu estava sempre viajando de tanto que não ouvia minha voz sequer no condomínio.
Um ponto muito positivo da escrita, como dom nosso é não darmos vazão às fofocas da vizinhanças, sempre estou "trabalhando", elas sabem e não me incomodam.
Além do mais, com o tempo, vamos nos aprimorando, os blogs nos ensinam muito.
A escrita tira todo meu desânimo, minha ansiedade que não dou espaço, meu cansaço, minha melancolia crônica resolvida e curada pela escrita, acreditem se puderem. Às tantas outras faces minhas, ela vem em auxílio.
Meu surto criativo é meu melhor amigo.
Enfim, minha querida, vamos escrevendo e permitindo nossos amigos serem ajudados pela escrita de outros, como você faz aqui e bem.
Nosso refúgio público ou secreto nos vale muito.
Tenha um julho cheio de inspirações e bênçãos!
Beijinhos literários e poéticos
Querida Roselia, que delícia te ler! Você transforma a escrita em casa, refúgio e estrada. É lindo ver como ela te sustenta e te liberta ao mesmo tempo.
ExcluirE adorei a parte dos blogs secretos… somos mesmo feitas de palavras escondidas e também expostas com coragem.
Que bom te encontrar aqui sempre verdadeira, sempre inspiradora.
Um beijo cheio de poesia nesse julho criativo!
Com carinho,
Fernanda!
Amiga, não lhe agradeço sempre, mas leio todas suas respostas que me fazem carinhos no coração.
ExcluirSão poucos os blogs que podemos ganhar espaço...
Beijinhos muitos e noite abençoada
Roselia querida,
ExcluirSuas palavras sempre chegam como um sopro doce. Obrigada por estar aqui, mesmo em silêncio.
Beijinhos com carinho e uma noite de paz!
Fernanda!
Fernanda, que texto legal!
ResponderExcluirMe identifiquei muito com ele.
Eu já escrevi dois romances policiais, estão à venda no site da editora Uiclap, e um deles tem o Kindle na Amazom.
Mas no momento eu parei um pouco de escrever textos longos e voltei a escrever no blog.
Sabe, vida de escritor iniciante no Brasil não é fácil.
Mas, eu, assim como você, nunca parei de escrever e também de ler.
Tem livros maravilhosos sobre a arte de escrever.
O que sempre indico pra todo mundo é: Sobre a escrita, do Stephen King. Muito bom.
Eu não escrevo todos os dias, mas tenho um monte de idéias todos os dias.
Ultimamente, cada cena que vejo nos erviço, na rua, no mercado, acaba virando uma cena para colocar no blog.
Kkkkkkkkkkkkkkkkk, coisa de maluco, né?
Mas nós somos assim mesmo.
Escritores são um pouco malucos!
Um abração viu!
Fica com Deus!
André, que alegria ler seu comentário! Fico muito feliz em saber da sua trajetória com a escrita e mais ainda por ver que você não parou, mesmo com os desafios que nós, escritores “iniciantes” por aqui, enfrentamos. Essa paixão que nos move é mesmo uma coisinha de doido, né? A gente transforma fila de mercado em cena, plantão em crônica, silêncio em diálogo! 😂 E sim, conheço o livro do Stephen King, é mesmo uma joia. Também sou dessas que têm ideias todos os dias (e um monte de rascunhos esperando vez rsrs). Que bom que voltamos todos pro blog, nosso cantinho mais livre, mais nosso. Obrigada pelo carinho e parabéns pelos livros! Depois quero o link! 🙌📚
ExcluirUm grande abraço,
E que Deus continue te inspirando sempre!
Com carinho,
Fernanda!
Ah, voltei pra falar uma coisa.
ResponderExcluirSabe o que tem me chateado na blogosfera ultimamente?
As pessoas não gostam de ler crônicas grandes.
E o pior! Algumas pessoas não lêem, e comentam coisas genéricas.
Mas eu resolvi não ligar mais pra isso.
Cada um faz o que quer, né?
Gosto dos seus textos, mesmo que sejam grandes.
André, ahhh… você voltou, e ainda voltou dizendo uma verdade cabeluda! 😂
ExcluirTambém sinto isso! Tem gente que vê três parágrafos e já escorrega de fininho, tipo novela com comercial: “Ai, depois eu volto” e nunca mais!
E os comentários genéricos? Aqueles clássicos “lindo texto” ou “parabéns pela partilha”, que servem pra tudo, desde receita de pudim até desabafo existencial! 😅
Mas sabe o que penso? Quem gosta, fica. E lê. E volta. E comenta com o coração. A gente escreve pra isso, né? Pra tocar alguém, nem que seja só um. Então que bom que você voltou… e leu!
Continue aparecendo, mesmo quando o texto for grande e a paciência da blogosfera pequena.
A casa é nossa.
Risos…
Abraço,
Fernanda!
Fernanda, minha amiga, há tantas imagens roladas neste breviário sobre a sua escrita, neste seu processador, que me deixa abismado sua capacidade de traduzir com frequência suas vivências e sua arte.
ResponderExcluirGosto da sua casa, desta sua morada, da sua intimidade com as palavras, de saber que você não vive sem elas. E, seguramente, as palavras, elas sabem o quanto são seu alimento diário, como elas a alimentam, como elas procriadas em suas mãos. Não me diga como um dia disse Lúcio Cardoso à sua secretária: "pode cortar as minhas mãos. Não escrevo com as mãos". Sei que você não escreve com as mãos.
Seguirei suas pegadas. Sei que você está sempre brincando seriamente com as palavras. Elas gostam da sua ludicidade com elas.
Um abraço, Nanda!
Querido Eros,
ResponderExcluirLer suas palavras é como receber um abraço que reconhece a alma da gente e isso é raro, precioso.
Você me vê. E mais que isso: você escuta o que as palavras sussurram antes mesmo de virarem frases.
Sim, eu não escrevo com as mãos escrevo com o que me atravessa. Às vezes é dor, às vezes é riso. Quase sempre é memória. E, como você bem percebe, brinco com elas como quem monta um quebra-cabeça que nunca se completa, mas que sempre me revela.
Sua leitura é morada também. Obrigada por caminhar comigo por entre essas páginas que não têm fim, por reconhecer que há algo de lúdico no sério e de sério no lúdico quando o que está em jogo é o verbo que pulsa. Sigo tecendo, sempre com afeto.
Um abraço,
Nanda