Diário
As férias acabaram.
Cada um voltou à sua rotina as crianças, os adultos, a casa que outra vez desperta com cheiros de café e pressa. Foi maravilhoso.
Agora, me arrumo para trabalhar.
André continua de folga e vai com as crianças mais tarde, fazer algumas atividades, aproveitar o dia.
Enquanto isso, eu sigo meu pequeno ritual: arrumo os cabelos, faço minha trança, termino minhas preces e agradeço.
O tempo parece voltar ao seu compasso normal, e há uma doçura nisso.
Porque a poesia mais bela não está nos grandes acontecimentos,
mas neste cotidiano simples que nos sustenta.
Em acordar com saúde, em ter um trabalho que nos chama, em ver os filhos crescendo, em sentir o amor de quem fica em casa te esperando.
A rotina, tão desprezada às vezes, é um milagre discreto.
Ela é o chão firme da vida, o abrigo onde o coração descansa.
E, enquanto tomo meu café antes de sair, penso:
Obrigada, meu Deus,
por cada pequeno movimento que me leva de volta ao essencial.
Por me permitir viver a poesia escondida nas coisas comuns.
Fernanda
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)