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16 maio, 2025
Quando o mundo me assusta
4 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Olá, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirLi aqui com admirada coincidência com o que acabo de postar.
Talvez o novo não fosse tão solitário.
Até linkei seu post aqui:
https://www.idade-espiritual.com.br/2025/05/solidao-do-amago.html
Sabe, "há um vazio de autoconhecimento ", é tão verdadeiro o que disse aqui, com tanta sabedoria.
Quando fiz o Eneagrama em 2000, tive uma clareza de quem eu era formidável.
Sei do que sou capaz e ninguém me tira do meu ideal.
Saber das nossas limitações e virtudes é assombradamente feliz.
Não nos consideramos mais nem menos, em condição de olhar no olho nem de cima nem para baixo
O afeto fica do lado esquerdo do peito, bem guardadinho para quem o mereça e deseja.
Bom ler algo profundo de reflexão.
Tenha dias abençoados!"
Beijinhos fraternos de paz
Por vezes nos assustamos de verdade,Nanda! Impressiona! Bjs,chica
ResponderExcluirObrigado pelo lúcido comentário ao meu “No café".
ResponderExcluirMuito boa sua nova postagem. É você pontuando ritmicamente tantas coisas que nos obliteram ao longo do seu poema que, imediatamente, associei à música Sinal Fechado de Paulinho da Viola em que ele faz uma reflexão profunda sobre a vida moderna e a falta de tempo para as relações humanas. ”Me perdoe a pressa, é alma dos nossos negócios...”- diz Paulinho da Viola, enquanto você pergunta: "Mas onde ficou o afeto?". Cada um que responda em que ruela o deixou.
Belíssimo texto. Você escreve bem e você sabe disso. Não é nenhuma novidade dizer-lhe.
Um abraço,
Nossa sociedade hoje está cada vez mais fragmentada por vários motivos. Um deles, político, da excessiva compartimentação de pequenos grupos que alcançaram poder político. Num cenário assim, onde todos lutam politicamente contra todos, não dá tempo pra gentilezas. Todos hoje são inimigos de alguém: feministas, LGBT..., antifascistas, extremistas de direita, antifaracistas, extremistas religiosos...uma lista bem grande.
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