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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

12 maio, 2025

O que deixamos quando partimos?

Aleatoriamente um toque de poesia
Herança

Há heranças que o tempo apaga são papéis, posses, paredes frias. Há outras que o tempo abençoa raízes invisíveis, plantadas com fé e silêncio. A herança material pode ser medida, contada, distribuída em partes iguais.

Mas a espiritual… ah, essa não se mede. É o gesto que ensinava sem palavras, o olhar firme e terno, a oração sussurrada no quarto, o pão repartido mesmo na escassez.

Bens podem ser herdados. Mas valores são absorvidos. A honestidade que molda, a compaixão que sustenta, a fé que acalma. Herança espiritual não entra em testamento, mas permanece no jeito do filho andar, na memória que aquece, no conselho que ecoa mesmo depois da partida.

Talvez Deus nos confie, enquanto vivemos, não só a tarefa de acumular, mas de semear. Porque o que fica de nós não é o que deixamos nas mãos, mas o que deixamos nos corações.


11 maio, 2025

O batalhão que me completa

Aleatoriamente um toque de poesia
Diário 
Muitas vezes, ao olharem para quem mora nas calçadas, veem ameaça. Desvio de rota, pressa no passo, olhos que não querem encontrar os olhos. Mas eu aprendi cedo que nem tudo que assusta é perigoso, e que às vezes, o que parece desordem por fora é apenas dor que ninguém soube acolher.

Convivi com tantos rostos esquecidos gente com fome de pão, sim, mas também com fome de abraço, de escuta, de uma chance. Meu batalhão vem daí: das margens, dos descuidos do mundo. São meus porque me reconheço neles. Porque vi nos olhos deles o mesmo desejo que me habitava: o de ser vista, o de ter uma história, o de ser amados.

Quando eu era pequena, queria tanto aprender a escrever que catava folhas sujas no lixo. Nenhuma palavra me era dada de graça  eu fui juntando letras como quem costura retalhos, formando frases com os restos do descaso. Mesmo assim, aprendi. E escrevi. E continuo escrevendo.

A vida, por mais dura, me ensinou mais com seus silêncios do que com seus discursos. E se hoje posso ensinar alguma coisa, que seja isso: o amor precisa ser exemplo, não só palavra. Amor é ato. É olhar sem medo, é acolher sem julgamento, é resistir ao egoísmo cotidiano com pequenos gestos de dignidade.

Meu batalhão é grande. E não é feito de soldados, mas de sobreviventes. De corações que não se renderam. De gente que sorri com os olhos, mesmo quando os” bolsos” estão "vazios". E eu, no meio deles, me sinto inteira, privilegiada, agraciada! Nenhum deles carrega diferenças, carregam o sangue do meu coração.


10 maio, 2025

O que veio antes do colo

Aleatoriamente um toque de poesia
Diário 


Cada filho que adotamos foi antes um gesto do meu coração apaixonado. Eu os quis com uma urgência feita de lembrança, de ausência. Eles também nos quiseram como se nos reconhecêssemos num espelho de afetos não vividos. O carinho, as histórias, os olhares… tudo me lembrava a menina que fui. E que ninguém olhou com ternura.

Fugi pequena demais daquele lugar que chamavam abrigo, mas que me feria com milho nos joelhos e castigos como rotina. As ruas me deram liberdade. Tive o céu como teto, as estrelas como companhia, e a lua como vigia. Dormia nos bancos das praças, escondia folhas na igreja páginas arrancadas do mundo onde eu começava a escrever minha história. Aprendi a sobreviver entre papelões e sonhos, com o rosto pintado de graxa e o corpo moldado ao concreto frio. Aos 14, conheci meus pais adotivos. Eu já sabia ler, escrever, e carregava nos olhos a fome de futuro. Estudava onde me deixavam entrar, graças à compaixão de adultos que viam em mim algo que eu mal sabia nomear: esperança.

Mas mesmo na sala de aula, o mundo seguia me julgando. Faltavam-me os sapatos. Eu ia com sandálias de correias trocadas, os pés marcando o chão, mas o olhar firme. Nunca foi fácil. O descaso doía mais que a falta  mas nunca apagou o desejo de pertencer.

Hoje, quando olho para meus filhos, vejo neles o abraço que esperei um dia. E percebo que cada colo que dou a eles é também o colo que faltou em mim e que agora, enfim, encontro.


09 maio, 2025

Como é ser mãe de oito crianças?

Aleatoriamente um toque de poesia:
Entre risos, choros e milagres cotidianos
Poderia postar no domingo, mas mães somos todos os dias.

Às vezes, nem eu sei explicar. Quando escuto a pergunta dita com espanto, admiração ou pura curiosidade eu sorrio. Não é um sorriso de resposta pronta. É um sorriso de quem vive, sente e resiste.

Tenho quatro filhos do coração e quatro de minha barriga. Aos quais há trigêmeos. O caçula, é o mais novo deles que André e eu geramos. A primogênita já é uma mocinha. Para mim ainda é “criança”. Ainda me chama quando tem pesadelo, quando quer conversar, quando não entende o próprio coração. E mesmo assim, já é referência para os irmãos. Já ensina, já cuida, já empresta seus olhos mais maduros a um mundo que ela mesma ainda está aprendendo a decifrar.

Ser mãe de oito é viver num turbilhão que também é ninho. É acordar com chorinho de bebê e, no mesmo dia, responder perguntas existenciais de uma adolescente. É preparar café da manhã com um no colo, dois puxando a barra do vestido e outros três cantando alto demais. É rir da” bagunça”, lagrimar no banho rsrs e, no fim, agradecer.

É não lembrar mais como é comer quente. É saber que silêncio demais na casa não é paz  é suspeita. É conhecer cada choro, cada jeito de andar, cada olhar que pede sem palavras.

Mas também é ver o amor se multiplicar de forma impossível de calcular. É entender que o coração não se divide, ele se expande. É ver os irmãos se abraçando sem que ninguém mande, compartilhando brinquedos, risadas, sonhos, broncas e camas.

Não é fácil, nem romântico. Há dias em que tudo parece demais. Em que a tranquilidade some e a exaustão pesa. Mas há também os dias em que olho ao redor  e vejo um lar que não tive, uma família que nasceu da coragem e da fé. Cada filho é um pedacinho da minha história recontada com mais ternura. São vidas que brotaram da esperança, do amor e da escolha diária de cuidar.

Eu escolhi c u i d a r. 

Escolhi ser Mãe!!!

Ser mãe de oito é, no fundo, ser abrigo para oito mundos inteiros  e descobrir, a cada dia, que também sou abraçada por eles. Sou amada oito vezes 

E sei que Deus me ama em cada filho amado. Essa frase não é apenas um pensamento meu. Não, não é. É uma certeza que mora no meu coração. Cada olhar, cada gesto, cada pequeno cuidado que dou e recebo dos meus filhos é uma lembrança viva do quanto sou abençoada. Ao invés do espanto, imagine a importância de tudo isso.

Ser mãe de oito não é só missão, é milagre diário. É ver o amor multiplicado, refletido em diferentes vozes, risos, jeitos. É entender que Deus, em Sua infinita bondade, escolheu me amar também através deles. E mesmo nos dias difíceis, nos silêncios, nas dores, eu sei: sou amada oito vezes. E em cada amor que dou, Deus me abraça de volta porque conhece inteiro meu coração.

PS: minha viola, também tem seu valor rsrs. Basta que eu toque e eles se reúnem para escolher a canção.



As histórias que me fizeram sobreviver

Aleatoriamente um toque de poesia

Quando a solidão apertava demais, eu escrevia histórias. Dizia pra mim mesma: "Menina, sua mãe está em algum  lugar distante, sem poder sair. E seu  pai é um  marinheiro e vai mandar lhe  buscar num navio azul. Às vezes, eu me dizia que fui deixada por engano  no orfanato que iam perceber logo, logo, e voltar correndo. Outras vezes, me dizia  que eu era filha de estrelas e que, por descuido, caí na Terra.

Essas histórias não eram mentiras. Eram cordas que me seguravam do lado de cá da esperança. Quando o vazio ameaçava me engolir, eu puxava uma dessas fábulas do bolso e me aninhava nelas. Elas me aqueciam. Ouvia que eu era “criativa”. Mas o que eu era, na verdade, era carente de um enredo que me fizesse sentido. Precisava de um motivo, de uma explicação que não doesse tanto quanto a realidade mais era muito menina pra entender.

E assim fui crescendo, entre histórias e silêncios que engoli. Cada uma delas me salvou um pouco. Cada uma me ensinou que, mesmo sem passado, eu podia criar futuro. Bastava seguir contando até que a dor virasse poesia e virou.


08 maio, 2025

Pares de mãos

Aleatoriamente um toque de poesia
Entrada de diário:

Hoje, sem que fosse combinado, os quatro estavam sentados na cozinha ao mesmo tempo. Meus sogros  os pais do Felipe, e meus pais adotivos. Duas histórias tão diferentes, duas formas de amor que me sustentaram em épocas distintas da vida… agora dividindo o mesmo pão, o mesmo café, o mesmo silêncio cheio de significado ali.

Olhei para as mãos deles. As mãos que me seguraram em tantos momentos. Mãos que cuidaram dos meus filhos, que embalaram netos, que ajudaram a me reerguer quando eu mesma duvidei que conseguiria.

Meu pai adotivo contava uma história antiga daquelas que já ouvi mil vezes, mas que sempre vem com um sorriso. Minha mãe ria baixo, enquanto minha sogra mexia o chá como quem mexe o tempo, descrevendo dos dias em que Felipe chegava correndo da escola.

Houve um instante em que todos riram juntos. Riram de algo simples, cotidiano, mas a risada deles parecia costurar o passado e o presente numa manta quente de pertencimento. E ali, naquele instante, entendi que  a vida me deu mais de um lar. Mais de um colo.

Eles me ensinaram que o amor não tem forma única, nem exige sangue para ser real. E que, mesmo depois da dor, é possível acolher de novo. Sentar-se à mesa com o que foi, com o que é, e brindar a vida como ela se apresenta cheia de surpresas e novas chances.

Andre me aconchegou em seus braços e eu sorri. Hoje, vi nos olhos deles um acordo silencioso.Todos ali ainda estão cuidando de mim, à sua maneira. E eu tão agradecida por tudo!


Minha religião é amar

Aleatoriamente um toque de poesia

Hoje, uma amiga me perguntou: Fê, me responde com sinceridade… qual é a religião certa para ti? Olhei para ela com carinho. E, por dentro, um silêncio bonito se fez. Respirei fundo, como quem ouve uma Voz antiga, que mora lá dentro, aonde nenhuma doutrina chega. E respondi, sem pensar muito, porque o coração foi mais rápido que a razão: Para mim, a religião certa é amar. É isso. Amar. Não conheço verdade mais simples nem mais exigente.

Já vi gente com os joelhos marcados pela reza, mas com o coração fechado para o outro. Já vi quem soubesse de cor os livros sagrados, mas não enxergasse a dor de quem dormia no mesmo quarto. E também vi o contrário: pessoas sem religião, mas com um amor tão verdadeiro que iluminava tudo ao redor.

Amar é a única prática que não precisa de templo, porque faz do próprio corpo um altar. É a única oração que se reza com os braços estendidos, com o prato dividido, com o perdão oferecido mesmo quando dói.

Talvez, no fim das contas, a gente não seja salvo por pertencer a essa ou àquela religião. Talvez sejamos salvos cada vez que escolhemos amar, quando seria mais fácil virar as costas. Amar quando há espinho. Amar quando há silêncio. Amar, mesmo sem retorno.

Se um dia me perguntarem no Céu qual era a minha religião, quero poder dizer com serenidade:  Senhor, tentei amar. Escolhi amar. Porque vi de perto o que o desamor faz. Vi a fé ser pretexto para julgar e vi Deus sendo usado como ameaça. Mesmo pequena, mesmo falha. Mas amei.

Amar é a oração mais profunda que conheço. E se Deus habita mesmo em algum lugar, e sei que habita em todos os lugares. Deve ser naquele instante em que alguém escolhe amar em vez de revidar. Amar em vez de condenar. Amar, simplesmente amar.

Escolhi amar, essa é minha fé. Essa é minha estrada. Porque amar me devolve à essência e me aproxima do Céu, mesmo com os pés na terra.