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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

13 julho, 2025

A vergonha que também é nossa

Aleatoriamente um toque de poesia


Li lá no Eduardo a crônica dele com o título "A vergonha de Édipo "e, confesso, o texto virou mais que uma leitura: virou debate interno, e depois externo também porque comentei. E comentei grande. Comentei jornal. Mas como não? O assunto pedia voz, pedia fôlego, pedia profundidade.

A ideia central da crônica dele não me escapou: até onde vai a culpa? E onde começa o destino?

Édipo, o homem trágico que fez exatamente o que tentou evitar. Fugiu da profecia como quem corre do fogo, só para descobrir que o incêndio era ele mesmo. Assassinou o pai, casou com a mãe, virou rei de um trono construído sobre o abismo. E quando a verdade veio como sempre vem ele não se escondeu. Enfrentou o horror do que era, do que fez, mesmo sem saber. Pagou o preço. Pelo crime, pela ignorância, pela profecia.

E aqui começa o que mais me tocou: será que somos mesmo livres?

A pergunta de Eduardo ecoa forte: “Será melhor gritar e precipitar o próprio fim, ou calar-se e barganhar uma agonia mais lenta?”

Quantos de nós já nos calamos quando deveríamos gritar? Quantos já nos calamos por medo de perder o pouco que ainda nos resta? Quantas vezes chamamos de sabedoria o que, no fundo, era covardia vestida de prudência?

A vergonha de Édipo talvez seja a vergonha de todos nós. Porque é fácil falar do que faríamos se estivéssemos na pele de outro. Difícil é olhar pra dentro e reconhecer que muitos dos nossos erros também vieram embrulhados de boas intenções, de tentativas de fazer o certo, de fugir da dor. E ainda assim… erramos.

Talvez a tragédia maior nem seja errar mas se recusar a olhar o erro nos olhos.

Por isso, agradeço ao Eduardo pela coragem do texto. Não é qualquer um que pega na mão de Édipo e o convida para um café, para um papo reto sobre culpa, liberdade e silêncio.

No fim das contas, todos temos algo de Édipo. E o verdadeiro heroísmo talvez seja, como ele, ter a coragem de se ver por inteiro e ainda assim continuar andando.😜



Inspiração daqui: https://ascronicasdoedu.blogspot.com/


Fernanda

5 comentários:

  1. Olá, amiga Fernanda, como aconteceu com você, eu também gostei muito do texto publicado pelo nosso amigo Edu, tratando sobre essa magnífica obra, Édipo, o Rei, escrita por Sófocles, tragédia escrita em 427 a.C. e que no século XX foi inspiração para essa grande obra literária do grande escritor tcheco Milan Kundera, que inspirou Edu na sua publicação recente. Édipo, o Rei , inspirou muitos escritores, romancistas e dramaturgos. Aliás, tive a oportunidade de assistir no Teatro no Rio de Janeiro, essa maravilhosa obra, obra que continuará exercendo sua atração à grande número de intelectuais, como ocorreu com Sigmund Freud , com o seu estudado e famoso Complexo de Édipo.
    Parabéns, Fernanda pela sua bela postagem!
    Grande abraço, minha amiga, uma excelente semana!

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    1. Pedro, querido, que alegria encontrar sua leitura generosa por aqui!
      É sempre uma dádiva quando as palavras atravessam tempos e geografias, tocando a sensibilidade de quem pensa e sente com profundidade, como você. A força mítica de Édipo continua nos convocando seja no palco, no divã ou nas páginas de Kundera a revisitar as perguntas que nos atravessam desde sempre: quem somos, de onde viemos, o que fazemos com os destinos que nos dão ou que escolhemos.
      Edu, trazendo a crônica dele foi fantástico 🤩
      Obrigada pelo carinho de sempre, pela partilha e por manter viva essa corrente de pensamento e afeto.
      Uma semana iluminada para você também!
      Abraço grande,

      Fernanda

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  2. Grato Fernanda por partilhares este excelente texto reflexivo. Magnífico!
    Édipo, nos deixa sempre pistas para análise. É como um poliedro, onde cada uma das faces pode ser lida de várias formas.
    Diria que não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; Somos também o que lembramos e aquilo que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos e os impulsos a que cedemos sem querer.
    Somos ainda o amor que hesita, e o amor que ousa e ainda o amor que não sabemos compreender...
    Direi ainda que é fácil destruir o que não se quer, negar o que não se compreende e desvalorizar o que se inveja...
    Como tu dizes, no final de contas, talvez todos tenhamos um pouco de Édipo!

    Um beijo Fernanda.

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    1. Albino, que comentário precioso… Você toca em pontos tão delicados da experiência humana, que me deu vontade de reler o próprio texto à luz do que escreveu. Essa imagem do poliedro é perfeita múltiplas faces, múltiplas leituras, e um centro de mistério que talvez nunca se revele por completo. Sim, somos também o que
      esquecemos… e o amor que não compreendemos. Às vezes, penso que o mais essencial em nós vive justamente nesse intervalo entre a lembrança e o esquecimento, entre o gesto que se contém e aquele que se lança. Obrigada por seguir trocando palavras que iluminam.
      Um beijo grande, com carinho,

      Fernanda

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  3. Olá querida amiga Fernanda!
    Li o diálogo entre você o Eduardo lá no blog dele.
    Quanto ao que colocou aqui:

    "È fácil falar do que faríamos se estivéssemos na pele de outro. "

    E como...

    "Difícil é olhar pra dentro e reconhecer que muitos dos nossos erros também vieram embrulhados de boas intenções, de tentativas de fazer o certo, de fugir da dor."

    Perfeito!

    O 'mea culpa' precisa ser feito a cada ação nossa... pode ser que nos surpreendamos...
    Inclusive, já vivenciei algo na família:
    "Você não devia e não podia viver uma situação assim".
    Ou seja, uma parte se eximiu de toda possibilidade de culpa colocando só na outra parte.
    Acusa-se para se livrar de culpa (responsabilidade) pessoal...
    Hoje, na missa, por exemplo, a homilia me deixou cada vez mais certa de que certas pessoas que se acham santas e nos acusam, pondo dedo em riste, se arvorando em nosso juiz, é colocada em nossa vida para nossa santificação, mesmo que não entendamos no momento.
    "Felizes os humilhados porque serão exaltados."

    "Todos temos algo de Édipo."

    Aquele que não tem erro no alvo é um mentiroso, diz a Palavra...
    Se não temos o do Édipo, temos outros complexos... senão não seríamos humanos.
    Até os extraterrestres devem ter os deles, se duvidar...

    O pior é quando nos apaixonamos por nós mesmos, pois não somos mais crianças para o sentido literal do tal complexo.
    Aí sim é um terror, narcisismo puro.

    "Até onde vai a culpa? E onde começa o destino?"

    Não tenho sabedoria suficiente para responder. Algo de culpa (consciência de culpa) e algo de destino sei que houve em minha vida e como... A porcentagem deixo nas Mãos do Divino.

    Um grande tema que fez bem em trazer ao diálogo aqui também.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos fraternos de Paz e obrigada pelo delicioso café.

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)