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13 julho, 2025
A vergonha que também é nossa
5 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Olá, amiga Fernanda, como aconteceu com você, eu também gostei muito do texto publicado pelo nosso amigo Edu, tratando sobre essa magnífica obra, Édipo, o Rei, escrita por Sófocles, tragédia escrita em 427 a.C. e que no século XX foi inspiração para essa grande obra literária do grande escritor tcheco Milan Kundera, que inspirou Edu na sua publicação recente. Édipo, o Rei , inspirou muitos escritores, romancistas e dramaturgos. Aliás, tive a oportunidade de assistir no Teatro no Rio de Janeiro, essa maravilhosa obra, obra que continuará exercendo sua atração à grande número de intelectuais, como ocorreu com Sigmund Freud , com o seu estudado e famoso Complexo de Édipo.
ResponderExcluirParabéns, Fernanda pela sua bela postagem!
Grande abraço, minha amiga, uma excelente semana!
Pedro, querido, que alegria encontrar sua leitura generosa por aqui!
ExcluirÉ sempre uma dádiva quando as palavras atravessam tempos e geografias, tocando a sensibilidade de quem pensa e sente com profundidade, como você. A força mítica de Édipo continua nos convocando seja no palco, no divã ou nas páginas de Kundera a revisitar as perguntas que nos atravessam desde sempre: quem somos, de onde viemos, o que fazemos com os destinos que nos dão ou que escolhemos.
Edu, trazendo a crônica dele foi fantástico 🤩
Obrigada pelo carinho de sempre, pela partilha e por manter viva essa corrente de pensamento e afeto.
Uma semana iluminada para você também!
Abraço grande,
Fernanda
Grato Fernanda por partilhares este excelente texto reflexivo. Magnífico!
ResponderExcluirÉdipo, nos deixa sempre pistas para análise. É como um poliedro, onde cada uma das faces pode ser lida de várias formas.
Diria que não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; Somos também o que lembramos e aquilo que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos e os impulsos a que cedemos sem querer.
Somos ainda o amor que hesita, e o amor que ousa e ainda o amor que não sabemos compreender...
Direi ainda que é fácil destruir o que não se quer, negar o que não se compreende e desvalorizar o que se inveja...
Como tu dizes, no final de contas, talvez todos tenhamos um pouco de Édipo!
Um beijo Fernanda.
Albino, que comentário precioso… Você toca em pontos tão delicados da experiência humana, que me deu vontade de reler o próprio texto à luz do que escreveu. Essa imagem do poliedro é perfeita múltiplas faces, múltiplas leituras, e um centro de mistério que talvez nunca se revele por completo. Sim, somos também o que
Excluiresquecemos… e o amor que não compreendemos. Às vezes, penso que o mais essencial em nós vive justamente nesse intervalo entre a lembrança e o esquecimento, entre o gesto que se contém e aquele que se lança. Obrigada por seguir trocando palavras que iluminam.
Um beijo grande, com carinho,
Fernanda
Olá querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirLi o diálogo entre você o Eduardo lá no blog dele.
Quanto ao que colocou aqui:
"È fácil falar do que faríamos se estivéssemos na pele de outro. "
E como...
"Difícil é olhar pra dentro e reconhecer que muitos dos nossos erros também vieram embrulhados de boas intenções, de tentativas de fazer o certo, de fugir da dor."
Perfeito!
O 'mea culpa' precisa ser feito a cada ação nossa... pode ser que nos surpreendamos...
Inclusive, já vivenciei algo na família:
"Você não devia e não podia viver uma situação assim".
Ou seja, uma parte se eximiu de toda possibilidade de culpa colocando só na outra parte.
Acusa-se para se livrar de culpa (responsabilidade) pessoal...
Hoje, na missa, por exemplo, a homilia me deixou cada vez mais certa de que certas pessoas que se acham santas e nos acusam, pondo dedo em riste, se arvorando em nosso juiz, é colocada em nossa vida para nossa santificação, mesmo que não entendamos no momento.
"Felizes os humilhados porque serão exaltados."
"Todos temos algo de Édipo."
Aquele que não tem erro no alvo é um mentiroso, diz a Palavra...
Se não temos o do Édipo, temos outros complexos... senão não seríamos humanos.
Até os extraterrestres devem ter os deles, se duvidar...
O pior é quando nos apaixonamos por nós mesmos, pois não somos mais crianças para o sentido literal do tal complexo.
Aí sim é um terror, narcisismo puro.
"Até onde vai a culpa? E onde começa o destino?"
Não tenho sabedoria suficiente para responder. Algo de culpa (consciência de culpa) e algo de destino sei que houve em minha vida e como... A porcentagem deixo nas Mãos do Divino.
Um grande tema que fez bem em trazer ao diálogo aqui também.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos de Paz e obrigada pelo delicioso café.