Neste domingo, o tempo parecia correr devagar e ainda bem. Fiquei em casa, cercada pelos meus, e foi maravilhoso. Senhor, como é grande a Sua generosidade na minha vida.
Os filhões espalhados pela sala, gargalhadas que iam e vinham, histórias contadas entre filhos e pais, e até meus pais ali também, os dois casais de avós. Do coração brotaram conversas sobre caráter e amor, e percebemos, mais uma vez, como esses dois pilares fazem uma diferença tão enorme no viver.
As crianças já estão de pijama, prontas para a escola de amanhã. Histórias contadas, sonhos embalados. A casa repousa em silêncio, mas meu coração continua em festa.
E eu? Venho para o meu “preguicinha” o computador que ainda não me deixou na mão.
(Que continue assim, por favor! Rsrs).
Entre a tela que brilha e o dia que termina, guardo a certeza de que esses encontros simples são a verdadeira herança da vida: o amor que se multiplica no aconchego do lar.
E enquanto escrevo aqui no meu “preguicinha”, sinto que o domingo não terminou. Ele se prolonga em mim, feito aquele cheiro de bolo que fica na casa mesmo depois que já acabou.
As vozes, as risadas, as conversas tudo ecoa ainda. A cena dos avós com os netos, os filhos dividindo histórias, eu observando de canto, tentando guardar cada detalhe. Parece pouco, mas não é. É muito. É imenso. É herança invisível.
Agradeço, Senhor, porque sei que cada momento assim é um presente que não se compra, não se repete e não se garante para sempre. É só hoje, só agora. E por isso vale tanto.
As crianças dormem. A casa descansa. Eu, entre teclas e memórias, faço a prece que cabe neste instante: que nunca me falte a consciência daquilo que realmente importa.
Sei que amanhã a rotina volta, com despertador, correria, lancheira, trânsito. Mas guardo este domingo como quem coloca uma joia dentro da caixinha mais bonita. Porque a vida é isso: uma sucessão de dias comuns, que, quando vividos com amor, se tornam eternos.
Senhor, eu agradeço.
Pelo teto que nos abrigou neste domingo,
pelo riso que se espalhou entre os cômodos,
pelos pais que ainda posso abraçar,
pelos filhos que me ensinam diariamente o que é amor verdadeiro.
Agradeço pela mesa farta, pelo abraço sincero,
pela saúde que sustenta nossos passos
e até pelas pequenas diferenças,
porque nelas aprendemos a olhar além de nós mesmos.
Peço, Senhor, que abençoe o sono das crianças,
a coragem dos adultos,
a sabedoria dos avós
e a minha fé.
E que o amor, esse fio invisível,
continue nos costurando como família sempre.
Amém.
E depois da prece, o coração repousa.
Não é que a vida seja perfeita sei que não é.
Mas nesses instantes em que consigo ver o essencial,
parece que o céu se aproxima só para me lembrar:
“Tudo valeu a pena.”
Então desligo o computador, abraço o silêncio
e me deito com a alma leve,
na esperança de que amanhã, na correria da segunda-feira,
eu não esqueça que fui inteira feliz neste domingo.
Fernanda
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)