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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

03 setembro, 2025

Conhecimento e sabedoria

Aleatoriamente um toque de poesia



Hoje, 
enquanto esperava o café coar lentamente, como quem deixa a vida decantar junto com a água quente no pó, me peguei pensando nessa frase que ouvi de um senhor numa palestra antiga: “Não confunda jamais conhecimento com sabedoria. Um o ajuda a ganhar a vida; o outro a construir uma vida.”

Na hora, anotei num guardanapo, como quem guarda um segredo precioso, mas só hoje me dei ao trabalho de decifrar o que aquilo realmente queria me dizer.

O conhecimento, reconheçamos, é vaidoso. Ele gosta de títulos pendurados na parede, diplomas com moldura dourada, medalhas que tilintam no peito e até frases difíceis que impressionam em reuniões. É útil, claro: abre portas, garante salários, paga contas. Conhecimento é meio de transporte rápido, certeiro, quase como um carro último modelo que nos leva de um ponto ao outro da vida.

Já a sabedoria… ah, essa não tem pressa. É aquela senhora de cabelos brancos que fala baixo e olha fundo, que prefere um banco de praça a um púlpito. Sabedoria não se adquire em cursos; ela se acumula em silêncios, em quedas, em amores que doem e em perdas que transformam. Se o conhecimento se exibe, a sabedoria se oferece. É como uma estrada de terra: mais lenta, cheia de curvas, mas que leva a lugares onde a alma respira.

Quantas vezes confundimos um com o outro! Basta lembrar de pessoas que sabem de cor as leis da física, mas não conseguem respeitar o espaço do vizinho. Ou dos que têm doutorados em comunicação, mas não escutam nem o próprio filho. Conhecimento sem sabedoria é como ter uma casa luxuosa sem janelas: falta ar, falta horizonte.

Lembro-me de uma amiga, estudiosa incansável, que fez todas as especializações possíveis em sua área. Um dia, em meio a tanta certidão acadêmica, desabou em lágrimas: “Eu sei tudo sobre meu trabalho, mas não sei nada sobre mim.” Ali estava o retrato vivo da frase no guardanapo. O conhecimento deu a ela a profissão, mas não o rumo. A sabedoria, se cultivada, daria o norte, o sentido, a serenidade para suportar os dias.

É curioso: nas rodas de conversa, o conhecedor fala; o sábio escuta. O primeiro traz respostas prontas; o segundo devolve perguntas que nos fazem pensar. O conhecedor nos impressiona; o sábio nos transforma.

Talvez a maior tragédia do nosso tempo seja acreditar que basta acumular informações para estar preparado para a vida. Nunca tivemos tanto acesso ao conhecimento a internet é uma biblioteca infinita e, paradoxalmente, nunca estivemos tão carentes de sabedoria. Porque sabedoria não se clica, não se copia e cola; ela se vive.

No fundo, penso que o conhecimento é como a semente e a sabedoria é como o fruto. De nada adianta ter o celeiro cheio de sementes se não aprendermos a plantar, regar e esperar o tempo certo da colheita.

Por isso, desconfio que a sabedoria se constrói nas pequenas coisas: no cuidado com quem amamos, na paciência com quem nos irrita, na capacidade de rir de nós mesmos e na coragem de pedir perdão. Ela não rende diploma, mas rende paz. E, convenhamos, paz é um bem que não se compra nem com o mais alto salário.

No final das contas, o café terminou de coar e ficou ali, fumegando, como quem também queria participar da reflexão. Peguei a xícara e, antes do primeiro gole, prometi a mim mesma: que o conhecimento me ajude a ganhar a vida, sim, mas que a sabedoria essa companheira discreta seja a responsável por me ensinar a construir uma vida que valha a pena ser vivida.



Fernanda

9 comentários:

  1. Oi, Fernanda, tudo bem? Gosta de coar café, é? Eu uso café solúvel...mais prático...rs em compensação, não consigo poetizar o café sendo coado...mas aí, tudo bem, você poetisa tudo!!!

    E está certa. Conhecimento e sabedoria são distintos. E como eu já penei em situações onde não tive sabedoria para agir!!

    O ideal é ter conhecimento e sabedoria. Mas veja, Einstein chegou a dizer que a imaginação é melhor do que o conhecimento.

    abraços.

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    1. Oi, Eduardo!

      Tudo bem, sim! Só muito trabalho.E você? Ah, coar café tem mesmo algo de ritual, de poesia silenciosa… cada gota caindo devagar é como um pequeno instante de atenção plena. Mas eu entendo perfeitamente o café solúvel! Prático, rápido… e ainda assim, quem sabe, dá para poetizar o ato de tomá-lo😊até a pressa pode ter poesia escondida, não é? 😉
      E você tem razão: conhecimento e sabedoria são distintos, mas a vida nos dá oportunidades de exercitar ambos. Quem nunca se viu perdido sem a sabedoria para agir? Eu mesma me pego refletindo sobre isso o tempo todo.
      E Einstein… ah, Einstein! Como a imaginação é generosa: ela nos permite sonhar, criar, reinventar o mundo e, às vezes, até a nós mesmos. Talvez a poesia do café coado seja só mais uma forma de exercitar a imaginação!

      Abraços poéticos,🤗
      Fernanda

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  2. Bom dia, Fernandinha! Pois é, acabou a obra ontem, agora é só casa abagunçada e tudo o mais... Mas vou indo lentamente.
    Li ontem tuas postagens na cama, já tarde, mas tuas postagens são o meu descanso à noite!E tem uma crônica lá que não havia lido, me passei...mas vou nela!
    Essa do conhecimento e Sabedoria está um "Brinco" como dizemos aqui no sul há dezenas de anos. Significa o máximo! Prefiro ter sabedoria, se tivesse de escolher uma, apenas. Nesse mundinho atrapalhado, precisamos da sabedoria. E muita! Esse assunto é ótimo, e com tua vivência, acertaste em cheio, aliás, como sempre, né amiga?
    Vou comentando meio atarantada que ando, mas estarei sempre presente.
    Um beijinho, querida, adorei o comentário por lá. Consegui postar.
    Uma boa quinta-feira!
    Ah, o café passado é até romântico, mas... aqui é o solúvel batidinho, também gostoso, fica espumoso.😂😅

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    1. Bom noite, minha querida Taís!

      Que bom saber que minhas postagens são um descanso à noite isso aquece meu coração!
      Fico feliz que a crônica sobre Conhecimento e Sabedoria tenha tocado você… ah, se pudéssemos escolher apenas uma, realmente, a sabedoria seria minha aposta também!
      Entendo bem a correria da vida e da casa “bagunçada”, mas vá devagar, respirando e limpando cada cantinho em cada momento.
      E quanto ao café… solúvel, batidinho, espumoso… quem disse que não tem charme e poesia? 😂
      Um beijo enorme, amiga, e uma quinta-feira leve e cheia de pequenas alegrias!

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  3. Bom dia de Paz, querida amiga Fernanda!
    Que post!
    "O outro a construir uma vida.”
    Estou assim há tempos...
    Embora goste demais de aprender, prefiro dar atenção à sabedoria de vida...
    Também embora a vida me ponha microfones na mão, púlpitos à leituras, eu prefiro de verdade:
    "um banco de praça a um púlpito. "
    Como aprendemos e saboreamos o viver!
    Sim, pois o que vale a pena não é o muito saber e sim sentir e saborear as coisas intimamente (S. Inácio de Loyola).
    Teve uma altura da vida em que dei maior ênfase ao autoconhecimento, comecei nos retiros contemplativos, parti para o Eneagrama e outros caminhos onde tive uma certeza de quem sou e do que realmente eu preciso para viver serena.
    A vida pede passagem de forma democrática, sem pisar em ninguém, muito menos mostrar conhecimentos a quem quer que seja.
    O sustento garantido já é nossa maior vitória sobre nós.
    As perguntas que moveram minha paz:
    De onde venho?
    Quem sou eu?
    Para onde vou?
    "No cuidado com quem amamos, na paciência com quem nos irrita, na capacidade de rir de nós mesmos e na coragem de pedir perdão. "
    Aqui, você revela os segredo da Sabedoria.
    Vou saborear a xícara de café fumegando que nos oferece aqui, Amiga.
    Tenha uma tarde abençoada!
    Beijinhos fraternos de muita Sabedoria

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    1. Bom noite, querida Roselia!

      Que alegria ler suas palavras tão profundas e cheias de serenidade!
      Adoro a sua forma de saborear a vida realmente, a sabedoria vem do sentir e do viver, não apenas do saber. O seu caminho de autoconhecimento e contemplação é um exemplo de paciência e delicadeza com a própria alma. Concordo plenamente: a vida pede passagem com leveza, respeito e coragem.
      Fico feliz que minha postagem tenha tocado você e que o café fumegando seja também um instante de pausa e prazer para o espírito.
      Desejo que sua noite seja serena e abençoada, amiga querida!
      Beijinhos fraternos,

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  4. E agora, José, o que faço do meu café que esfriou? Café requentado talvez não depure poesia porque perdeu o tempo do aliciamento que a poesia necessita para o depurar-se. Mas a poesia deglute-se em qualquer estado, ainda que lhe falte água. Qualquer coisa parece servir para constituir-se poesia; é o que você sabe fazer e bem: a poesia escoa de tudo que você escreve. De forma simples, genuína, você discorre com leveza sobre conhecimento e sabedoria desembocando nesses dois afluentes para revelar as variabilidades de um sobre o outro constituindo um poema em que se aglutinam e nos servem filosoficamente sobre o percurso de cada. Mas sempre viajamos atentos aos ventos que se deslocam do conhecimento e demarcam a sabedoria. E seguimos aprendemos a lições de cada dia...
    Meu abraço bem, apertado, Nanda!

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    1. Querido Eros,

      receber suas palavras é como saborear um café que, mesmo esfriando, deixa aroma e sabor que aquecem o espírito. 🤣
      Fico feliz que consiga perceber a poesia que escapa dos detalhes do cotidiano e das pequenas reflexões é exatamente nesse diálogo entre o simples e o profundo que ela se revela. Agradeço por caminhar comigo nessa viagem atenta aos ventos do conhecimento e da sabedoria.

      Meu abraço apertado de volta🤗

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  5. Bonita prosa com analogias perfeitas Fernanda. Há uma miscelanea com conhecimento e sabedoria. Parece que a sabedoria é prima e irmã do tempo, poque só o com o tempo, é que se percebe o poder da sabedoria. É como se ela fosse aquela senhora que fez faculdade na terceira idade.
    Gostei de ver como dissecou estas duas senhoras, que fazem toda a diferença pela vida.
    Um abração amiga.

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)