Hoje fazem três dias que não estou no DF. Vim fazer um curso, longe dos meus amores, e a saudade já começa a me visitar em pequenos intervalos. Mas, como a vida tem seus caprichos, fomos liberados mais cedo nesta tarde um probleminha no local interrompeu a rotina, e uma amiga e eu aproveitamos para arejar a cabeça com um passeio e uma conversa num café.
O café fumaçava na mesa, e minha amiga, sempre prática, disse quase sem cerimônia:
Eu não entendo, Fernanda, sério mesmo. Você fala tanto de Jesus… mas olha, eu não acredito em nada disso. Religião é só gente falando de Deus da boca pra fora.
Sorri. Eu já esperava aquela provocação, vinda dela que não tem paciência para o que não consegue ainda enxergar.
Eu até concordo com você em parte respondi, girando a colher na xícara. Muita gente fala de Deus por conveniência, como quem decora uma frase bonita para impressionar. Mas Jesus não cabe em discursos. Ele cabe é na vida.
Ela me olhou de lado, cética.
Tá, mas e aí? Onde isso muda alguma coisa?
Respirei fundo.
Outro dia reli uma frase Dele que ficou latejando em mim: “De que serve ao homem conquistar o mundo inteiro se perder a alma?”. Pensa nisso… O que adianta, amiga, a gente ganhar dinheiro, status, viajar, postar fotos lindas e aqui dentro, viver vazia?
Ela mexeu no café, pensativa.
É… mas eu não sinto essa tal “alma”.
Pois é. A alma não aparece em selfie, e nem modelando com as mãos. Mas aparece no jeito que a gente ama, perdoa, encontra paz. Eu sou feliz porque sinto que Jesus me devolveu essa inteireza. Não é sobre religião é sobre não me perder de mim mesma.
Ela riu, meio debochada, mas com brilho nos olhos.
Você sempre arranja um jeito bonito de falar.
Risos...
Não é jeito bonito. É só o jeito verdadeiro. E olha, se um dia você quiser, não precisa acreditar em dogma nenhum. Só experimenta conversar com Ele em silêncio. Pode ser que você descubra que não está tão sozinha quanto pensa.
Ela não respondeu. Só bebeu o café, devagar, como quem, sem querer, saboreia também a ideia.
Minha amiga ergueu as sobrancelhas, surpresa com o rumo da conversa. Eu mesma soltei, como quem abre uma janela escondida da própria história:
Sabe, eu não nasci nesse lar onde hoje vivo com tanta paz, já sofri tantas perdas.E sabe mais? Eu fui menina de rua, no Rio de Janeiro. Ficava jogada nas calçadas, fazendo castelos de areia na praia para ganhar um trocado. Precisava me alimentar e assim conhecia muitas pessoas, fazia amizades.
Ela arregalou os olhos.
Mentira! Você? Mas você nunca me contou isso…
Sorri, lembrando da voz firme e doce da minha mãe adotiva.
Disse que me viram ali, pequena, suja, mas com os olhos brilhando. Se encantaram comigo e eu, com eles. Mas é uma longa, longa história. Por fim lutaram até conseguir me adotar.
Minha amiga parecia engasgar no café.
Mas… e o sofrimento? Você devia ter sofrido demais!
Olhei para ela e balancei a cabeça, com calma.
Sofrer? Não, amiga. Eu estava aprendendo a viver. Enquanto alguns riam de mim, eu já sabia rir da vida. Eu via beleza até na areia, porque conseguia imaginar um castelo. Para mim, foi muito bom. Foi meu jeito de treinar a esperança. E encontrar meus pais., ou melhor eles me encontrarem rsrs.
Ela silenciou. Talvez pensasse em como eu podia falar de Jesus com tanta convicção.
Então completei, suavemente:
É por isso que eu acredito. Porque se eu tivesse conquistado o mundo casa, estudo, trabalho, viagens mas tivesse perdido aquela menina que acreditava em castelos, aí sim eu teria perdido a alma. Mas não perdi. Jesus cuidou dela em mim, mesmo quando eu não sabia o nome Dele.
Minha amiga desviou o olhar, mexendo na xícara já fria. Não me respondeu mas fiquei com a impressão de que, naquele silêncio, ela estava erguendo um castelo dela também.
Minha amiga respirou fundo, como quem tenta arrumar coragem para não chorar na frente de todo mundo. Fernanda… eu não sei o que dizer. Eu achei que você tivesse tido uma vida certinha, protegida.Sua pele, seus dentes, seus cabelos, tudo! Nunca imaginei.
Segurei sua mão, rindo baixinho para quebrar o peso do momento.
Pois é, amiga. Eu vim de muito longe até chegar aqui. E sabe o que me impressiona? É que naquela época, sem entender nada, eu já estava sendo cuidada. Deus não me deixou perdida. Ele só estava preparando o caminho.
Ela sacudiu a cabeça, meio desconcertada:
Mas eu não acredito em Deus. Não consigo.
Tá tudo bem.
respondi com doçura.
Você não precisa acreditar agora.
Ele acredita em você.
O silêncio ficou bonito entre nós. Não foi silêncio de constrangimento, mas de quem sente que algo maior está ali, respirando junto.
Talvez seja isso, Fernanda… ela murmurou, quase sem querer.
Talvez o que você chama de Jesus seja essa força que não me deixa desistir, mesmo sem acreditar em nada.
Sorri, com aquele calor no peito que só a fé traz:
Eu chamo de Jesus, sim. Mas o nome é só detalhe. O que importa é que Ele já está aí, do seu lado, mesmo quando você não percebe.
Ela enxugou discretamente os olhos, tomou o último gole de café e disse, com um meio sorriso:
Tá, vai. Um dia eu vou experimentar falar com Ele em silêncio, como você disse. Só pra ver no que dá.
E eu apenas apertei sua mão mais forte, sabendo que aquele dia já tinha começado, mesmo que ela não percebesse.
Com carinho,
Fernanda!
Sabe, Fernanda, diferente de você tive uma excelente educação pela minha mãe que ficou viúva de meu pai, pois quando ele faleceu eu era apenas a menina dele, bebê com o nome de Maria( Nossa Senhora)que ele adorava e Luiza a mulher que ele escolheu e amou. Minha mãe, voltou para a casa de minha avó e lutou bravamente numa máquina de costura até eu me formar como professora, pois ela cumpriu rigorosamente o sonho de meu pai que sonhava em me ver com uniforme escolar, fita nos cabelos indo para a escola! Enfim, escrevo demais, mas foi para falar que desde garotinha eu conversava com Deus quando estava sozinha e eu também via a beleza em tudo, conseguia enxergar uma pequenina flor entre ramagens, conversava com as estrelas e hoje continuo assim, vendo belezas em tudo, até nos galhos secos eu encontro beleza que ninguém vê. Minha caminhada de fé começou ali e entre descrenças e dúvidas encontrei Jesus que alicerçou minha fé Nele e meu mantra é: Deus é Pai, Deus gosta muito de mim! Um encanto sua narrativa de seu encontro com jesus e feliz porque você foi um evangelho vivo para sua amiga. Minha mãe, sempre dizia que devemos ser um evangelho vivo porque talvez alguém precisasse de um para crer. Creia-me, e ela foi um evangelho vivo e muito querida onde moro até hoje na comunidade e na cidade em que nascemos! Fique bem! Suas palavras são hinos de louvor! beijo!
ResponderExcluirMaria Luiza querida,
Excluirque presente receber sua partilha tão cheia de vida, memória e fé! Pode escrever o quanto quiser eu adoro ler e é como se estivéssemos lado a lado, conversando com calma.
Amo conversar com vocês!
Sua mãe foi mesmo um evangelho vivo, e o seu testemunho também é cheio de beleza, força e delicadeza, como a flor que você vê mesmo entre galhos secos.
Obrigada por me deixar entrar nessa história tão bonita, que toca e inspira. Suas palavras também são hinos de louvor, pode acreditar.
Um beijo cheio de carinho,
😘🙏🏻
Boa noite de Paz, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluir"Foi meu jeito de treinar a esperança."
Sabe, fiz minha retrospectiva de vida novamente...
Deus segue treinando minha esperança a cada dia, desde que me entendo por gente.
Fui cuidads por Ele até aqui.
Em cada decepção, respiro fundo e falo com meu Deus que sei que Ele não vai me abandonar nunca.
"Deus não me deixou perdida. Ele só estava preparando o caminho."
O caminho vai chegar... por ora, foi um atalho... agora está bem perto da vitoeia Dele em minha vida..
Eu vivo pela Graca Divina.
Tenha outros cafés assim onde Deus passa como a fumaça que fumega e aquecs a alma!
Beijinhos fraternos
Olá minha linda amiga!
ExcluirBoa noite, querida Roselia!
Que linda sua reflexão… realmente, a esperança é um exercício diário, e que bênção sentir o cuidado de Deus em cada passo da nossa história né?
Como você mesmo disse, Ele nunca nos abandona; às vezes, só precisamos esperar o caminho se revelar, confiando na Sua graça. Que continuemos vivendo com essa fé serena, sentindo Deus presente nos atalhos e nas vitórias, sempre aquecendo a alma.
Beijinhos fraternos e cheio de luz para você!
😘🙏🏻
Você escreve com uma verdade que toca o coração, sem forçar nada,apenas vivendo e compartilhando. A forma como fala de fé, com leveza e autenticidade, é inspiradora. Uma escrita que acolhe, emociona e deixa marcas bonitas em quem lê. Um grande abraço
ResponderExcluirQuerida Anna,
Excluirque carinho tão bonito!
Suas palavras aquecem o coração e me lembram por que continuo escrevendo: para tocar, acolher e compartilhar pequenas verdades da vida e da fé.
Fico feliz que minha escrita possa emocionar e deixar marcas, assim como a sua mensagem deixa em mim.
Um grande abraço cheio de luz e gratidão!
🙏🏻😘
Nanda há pessoas que nem de longe conseguem pensar na alegria que podemos ter Deus vivendo em nós e imagino que depois de teres contado tua linda história de vida , finalmente ela tenha entendido o motivo de tua felicidade e alegria interior. Valeu muito essse café e pausa! beijos praianos, chica
ResponderExcluirChica querida!
ExcluirAmo receber suas palavras… realmente, quando compartilhamos nossa história, às vezes o outro consegue perceber a alegria e a paz que Deus nos dá por dentro.
Foi um café e uma pausa preciosa para nós duas. Essa conversa precisava fluir.
Beijos de volta, com carinho e gratidão! 🙏🏻 😘