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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

26 outubro, 2025

Despedida à beira-mar

Aleatoriamente um toque de poesia
Diário

Antes de sair, fui me despedir das meninas da cozinha. Elas foram uns amores o tempo inteiro  sempre com um sorriso pronto, uma palavra doce, um cuidado discreto que tornava o café da manhã um pequeno afeto diário. É bonito quando a gente percebe que o carinho nasce assim, simples, sem precisar de motivo. Que há pessoas que servem com o coração e que, sem perceber, tornam o ambiente mais leve, quase caseiro.

Acho que cativar é isso: algo espontâneo. Não dá pra planejar, nem forçar. Acontece quando a atenção vem da alma, quando o “bom dia” é dito com verdade. E elas, com aquele jeito tão genuíno, acharam especial o modo como eu as ouvia, como reparava nos detalhes, como agradecia o café bem feito. Mal sabem que o especial, na verdade, era o que elas me davam aquele afeto silencioso que só os simples sabem oferecer.

Antes de sair, caminhei até a beira do mar. O vento trazia o sal e uma leve melancolia, dessas que visitam o coração quando a gente vai embora de um lugar que fez bem. As ondas vinham mansas, sem pressa, como se também soubessem que era hora de se despedir.

Olhei o mar e falei baixinho, como quem conversa com um velho amigo:
“Continue sendo poesia no cansaço alheio, e alegria nos dias nublados de quem precisa sorrir com mais frequência.”

Ele entendeu, eu sei. O mar sempre entende, a fala da alma não precisa de tradução.

Voltei para o hotel. André já terminava de organizar as malas nos carros, e as bisas observavam o movimento com aquele olhar terno de quem vive tudo em silêncio, mas sente cada instante. Fizemos o check-out, o ritual de quem fecha um ciclo. Cada viagem é assim: um parêntese no cotidiano, um intervalo de gratidão.

E então, com o coração sereno, seguimos para o nosso valioso lar.
Porque não há luxo que se compare ao conforto de voltar 
ao cheiro familiar, à cama que nos espera, ao simples que é só nosso.

Enquanto o carro partia, olhei mais uma vez pela janela.
O mar ainda estava lá, respirando calma e beleza.
E eu pensei: há lugares que ficam dentro da gente mesmo depois que partimos.
São eles que nos lembram que viver, no fundo, é colecionar afetos 
e devolver ao mundo, sempre que possível, o carinho que recebemos.



Fernanda

Enquanto escrevo,
 ouvindo: Dive 
de Olivia Deon




Um comentário:

depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)