Não consigo comentar um texto sem explicá-lo detalhadamente. Talvez isso soe exagerado, mas para mim, ler é um gesto de afeto e comentar, um prolongamento desse gesto. Quando gosto de um texto, quero tocá-lo por dentro, entender suas dobras, suas intenções, o modo como uma frase se encosta na outra como quem busca abrigo.
Há quem leia e apenas diga: “bonito”. E está tudo bem às vezes a beleza é mesmo indizível. Mas eu, não. Eu preciso dizer por que achei bonito. Preciso destrinchar o sentimento, como quem abre uma flor com cuidado para ver o miolo.
Explicar um texto é, para mim, uma forma de gratidão. É dizer ao autor: “eu te vi”. Vi o esforço entre as linhas, percebi o silêncio antes da vírgula, o suspiro depois do ponto. E, principalmente, senti o que quiseste dizer ou até o que tentaste esconder.
Talvez eu explique demais. Mas é que a leitura, quando me toca, não me deixa em paz.
E então, em vez de guardar, eu devolvo com palavras, sempre com palavras
porque comentar um texto é, no fundo, uma forma de amar.
Mas de maneira alguma quero ser inconveniente.
Por ser extremamente vertical dessas pessoas que mergulham de cabeça gosto de comentar o que penso, embora o que penso, às vezes, seja entendido de outro jeito. Há sempre o risco do mal-entendido à espreita, o ruído entre o que se quis dizer e o que o outro escuta.
Ando com medo de comentar, sabe? Medo de parecer demais, de soar arrogante, de entrar onde não fui chamada. Medo de que o meu entusiasmo seja visto como intromissão.
Mas comento mesmo assim.
Com medo mesmo.
Porque o silêncio me parece mais perigoso do que a exposição. Porque deixar de dizer o que senti ao ler algo bonito seria quase uma omissão e omitir-se diante da beleza também dói.
Então sigo comentando, mesmo tremendo um pouco por dentro, com o coração batendo entre as linhas e as intenções. Sigo tentando transformar o medo em cuidado, e o comentário em gesto.
Talvez comentar, no fim das contas, seja apenas isso: falar com respeito, mas não calar o que o coração percebe.
E é curioso quanto mais "medo" tenho, mais vontade sinto de continuar comentando. Como se as palavras que me escapam fossem também uma forma de resistência, uma maneira de dizer: ainda me importo. Porque é isso o que está por trás de cada comentário meu: o interesse genuíno. A presença. A tentativa de criar carinho em vez de muros.
Já pensei em silenciar, sim. Em ler e guardar pra mim, sem deixar rastros. Mas sempre me parece um desperdício como assistir a um pôr do sol e não chamar ninguém pra ver junto. O comentário é o chamado: “olha que bonito isso, olha o que senti aqui.”
Às vezes, sou mal interpretada. Outras, recebo respostas tão gentis que o medo se recolhe um pouco, envergonhado. E então percebo: não é errado sentir medo, errado seria deixar que ele me calasse por completo.
Por isso sigo meio temerosa, meio corajosa dizendo o que penso com cuidado, tentando costurar palavras que não firam, mas que toquem.
Porque comentar, pra mim, é um modo de existir com delicadeza no mundo:
um gesto pequeno, mas cheio de alma.
Aquele que gosta de um breve comentário, deixe aqui.
Diga sinceramnete por favor!
Prometo que, quando for lhe visitar, cumprirei seu desejo, ok? Serei breve, como quem toca de leve uma flor para não despetalar.
Nem sempre é fácil conter as palavras elas me escapam feito água graças a Deus, correm pelos dedos, querem dizer tudo o que sentem. Mas respeito o gosto de cada um: há quem prefira o comentário curto, aquele aceno gentil que diz “li, gostei, estou aqui”. E isso também é bonito.
Porque, no fundo, o comentário seja longo ou breve é uma forma de presença.
É o modo que encontramos de dizer uns aos outros: você foi lido, foi visto, foi sentido.
E talvez seja isso o que todos queremos, no fim das contas: um olhar que nos reconheça,
mesmo que em uma linha só.
Fernanda
Comentar é
entrar no coração do texto sem se perder de vista
é tocar o centro da ideia com a ponta dos dedos da alma.😉
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)