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03 novembro, 2025
A água que entra no barco
2 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Tão linda foto e tão lindo texto,Nanda! E é bom ter essa mania de aprender com tudo,né?
ResponderExcluirbeijos praianos, chica
Estou aqui nesta viagem, neste percurso de retorno às origens das coisas a partir da sua reflexão do binômio água e barco, ou mar e barco, ou desse reencontro com a imagem e a palavra poetizada.
ResponderExcluirGosto desse seu jeito de poetizar. Ainda que nos leve a refletir sobre a viagem que você leva a fazer e, durante o percurso, você não faz outra coisa senão elucidar imagens pelo organismo único e essencial do poema, sabendo que a imagem poética, poesia e poema são única e uma realidade: essa viagem que fazemos juntos aprendendo a lidar com a água esse objeto que você modula tão bem com outras palavras, com outras imagens.
Aqui a gente respira a poesia penetrando o ser penetrando-a.
Afetuoso abraço, Nanda!