Hoje, na hora do cafezinho, a conversa descambou para um tema antigo como o mundo: a vingança. Uma das meninas contava, exaltada, sobre o quanto sonhava em “dar o troco” em quem a havia magoado. A roda se animou todo mundo tem uma história dessas escondida em algum canto do peito.
Eu, ouvindo mais do que falando, soltei devagar, entre um gole e outro:
Sabe? A melhor vingança é nenhuma.
Silêncio. Desses que não pesam, mas fazem pensar.
Depois completei: Se cure, siga em frente e jamais se torne igual àqueles que te machucaram.
Não era uma lição era apenas o que aprendi, na marra. Porque a vingança, por mais saborosa que pareça no pensamento, sempre deixa um gosto amargo na alma. Ela não apaga a dor, só a repete com outro nome.
Curar-se, ao contrário, é um ato de coragem. É dizer: “não vou carregar o veneno do outro em mim”. É sair do campo da disputa e escolher o da liberdade. Quem se cura não precisa provar nada. E quem perdoa ainda que em silêncio já venceu.
Lembrei de uma frase que ouvi certa vez: “A vingança é um prato que nunca deveria ser servido.” E é verdade. Porque enquanto a vingança fere o outro, o perdão liberta a nós mesmos.
No fundo, é simples e ao mesmo tempo, imensamente difícil. Requer desapego, humildade e fé na justiça da vida, essa que não falha, mesmo quando parece demorar.
Quando o café terminou, ninguém mais falava em revanche. Ficamos todos quietos, mexendo a xícara como quem remexe pensamentos.
Acho que, por um instante, todos sentimos a força mansa de escolher outro caminho o da paz, que é sempre a mais bela resposta.
E quando levantei, para voltar ao trabalho ouvi:
Obrigada Fê!
E eu, foi um prazer ajudar.
Fernanda
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)