Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

25 fevereiro, 2015

Recordações...

Chegou cedo na feira, os caixotes empilhados ainda, a senhora das frutas e verduras, ainda não havia chegado. Ela senta num cantinho e observa seu Maurício com os caixotes nas costas, quis pegar dois caixotes de uma só vez, uma artimanha mesmo pensou.
Em seguida um dos caixotes despenca e caem frutas para todos os lados. Ela levanta e vai ajudar, mas uma das pontas do caixote estava atrás e ela não viu, seu pezinho foi de encontro ao prego.
Puxou o pezinho, mas o prego veio junto. Apressada puxou o prego do pé, tão rápido para seu Mauricio não perceber.

Então a alegria dela foi ganhando uma dorzinha fina, foi para o outro lado da quitanda e ficou olhando o machucado. Depois lembrou do mar, seu amigo mar, ele pode fazer parar de doer com sua água de sal. Lá foi a menina no rumo do mar.
A dor continuava mais forte e a noite chegando, então ela sentou-se ali mesmo, seu corpo estava muito quente e ela chorava e chorava.
Mas agora não conseguia mais ficar ali naquela caixa, tinha que falar com alguém, um adulto.

Assim caminhou e caminhou, depois ia pulando só de um pé, depois tentava caminhar de novo, mas já tremia de frio, e as coisas pareciam tão cheias de curvas.
Ela cai e quando acorda, percebe um rosto conhecido, ainda bem.
Menina onde passou o dia, que não te vi na feira?
Está ardendo em febre. E esse pé? O que aconteceu com ele?

Ela - Foi o caixote do seu Maurício que caiu e eu fui ajudá-lo, então pisei num prego.
Dona Maria, nem quis saber do resto, já foi levando a menina ao homem de branco, aquele que usava um aparelhinho estranho.
E o pavor da menina ao ver aquela agulha?
Mas o moço de branco a tranquilizou.

Ele perguntou se aquele machucado estava doendo muito.
A menina com lágrimas no rosto, um choro calado só balançava a cabeça afirmativamente.
Então ele disse. Pois eu prometo querida, que isso aqui irá doer menos que seu machucado, e logo vai passar a dor aí dentro tá?
Ela - Tá.
Ele então enfiou aquilo no pezinho dela e depois cortou e cortou de novo, mexeu lá dentro e depois costurou, como costura roupa rasgada.

Ela observava...

Depois outro aparelho com agulha no braço e mais outro.
Ela - Moço eu posso ficar aqui hoje?
Ele disse mas sua mãe está lá fora esperando você menina.
Ela - Não, ela é dona Maria, a senhora que vende frutas e verduras na feira.
Ele - Sim e cadê seus pais?
Ela baixou a cabeça e não levantava.

Ele pegou no rostinho dela e lhe perguntou: Como se chama?
Ela - Fernanda.
Ele - onde você mora Fernanda?
Ela - Na rua.
Ele - Aquela senhora cuida de você?
Ela - Não. É que eu ajudo a guardar as frutas e ela me dá café com pão, ou então fruta, e eu vou para a escola depois.
Ele - Mas ela sabe que você mora na rua?
Ela - Ela nunca me perguntou. Moço será que eu posso ficar aqui hoje?
Ele - Pode sim, agora procure dormir.

Depois dona Maria vai até ela e lhe diz que precisa ir para casa, e que o médico falou que ela iria ficar lá naquela noite. Nisso o esposo de dona Maria zangado, chama por ela e ela não tem tempo de se despedir e se vai.

O médico volta mais tarde com um lanche.
Ele - Tenho que avisar a assistente social que você está aqui.
A menina quis pular da cama.
Ele - Não tenha medo mocinha, ela irá cuidar de você muito bem. Vai lhe levar para um lugar onde tenha outras crianças, e uma caminha e comida. Você precisa de cuidados com esse machucado.
Ela - É um orfanato?
Ele - Talvez.
Ela - Não precisa não moço, eu já tenho meu lugar de ficar.

Ele -Menina, a rua não é lugar para garotinhas.
Ela - Mas eu já cresci, tenho muitos amigos, tenho até um que é muito gigante.
Ele - Ele É? Então me diz o nome dele?
Ela - É mar.
Ele - Emar? Emar de quê?
Ela - Não moço, mar, aquele que tem ondas e água, e barco, e peixe.
Ele - Háá. Escuta Fernanda, mar não é gente.
Ela - Eu sei.
Ele - E então?
Ela - Mas é meu amigo.

Ele - Sim, agora  eu vou precisar ir, vá dormir, amanhã vamos ter novidade para você tá?
Ela - No orfanato?
Ele - Sim. Você irá gostar.

Momentos depois...

Ela – Deus, se eu levar esse lençol só hoje para me cobrir e amanhã vir devolver, vou estar roubando? Diz alguma coisa Deus, eu preciso fugir de novo.
Nisso entra uma moça de branco e me dá uma pílula.
A moça - Ainda acordada querida?
Ela – Sim, estou sem sono. Moça, vocês tem muitos lençóis desses?
A moça - Na medida certa.
Ela - Então você me empresta esse aqui, e eu te devolvo pela amanha?
A moça - Claro querida é seu.
Ela - Obrigada Deus, a moça deixou comigo, amanhã eu trago de volta.

Então a menina sorrateiramente saiu de lá com o lençol.
Aquela noite estava muito fria e ela precisava se aquecer.
No outro dia, com o pezinho gordo, e mancando levou de volta o lençol, mas lá perto pediu para seu amigo Rafa deixar dentro do balde.
Pronto já devolvi, pensou.
Agora ela sabia que carecia apenas de repouso, e para isso tinha o banco da praça.

Autoria: Maria Fernanda

Um comentário:

  1. Sei bem desta historia.
    Emocionante Nanda.
    Mas anjos existem e assim um apareceu.

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Tenho olhado o tempo...
Quando estou tomando um café, ou na varanda.
Quando estou mergulhada nos livros, ou no trabalho.
Ele me diz: Paciência Fernanda.
Sim tempo, eu tenho paciência...

Fernanda Marinho
Ah posso pedir para me conhecer melhor?
Então vem aqui ó!

https://linguagem-miuda.blogspot.com.br/