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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

17 abril, 2025

Asas em Silêncio — Parte V

Aleatoriamente um toque de poesia




O Caminho da Luz

O tempo passava de forma curiosa para Helena. Não era o tempo de antes, o tempo marcado pelas missões e pelo dever. Agora, o tempo fluía como um rio tranquilo, que a guiava sem pressa, sem a necessidade de definir metas ou objetivos. Ela sabia que estava no lugar certo, e isso a fazia sentir-se inteira, mais do que qualquer lembrança de quem fora antes.

O que mais a surpreendia, porém, era a forma como as pessoas ao seu redor começavam a encontrar seu próprio caminho, como se o simples fato de ela existir, ser, já fosse uma chama que acendia outras.

Samuel, seu companheiro agora, também estava mudando. Não era um amor arrebatador, mas era uma presença que se encaixava no tecido da vida com naturalidade. Ele olhava para ela com um sorriso silencioso, sem pressa de entender o que ela era, mas aceitando-a como era. Isso era tudo o que ela precisava.

Mas uma tarde, enquanto caminhava pela rua, algo se quebrou. Ela sentiu, como um relâmpago suave, que a missão de amar não acabaria tão facilmente. O céu acima estava limpo, mas dentro de Helena, algo sussurrou que sua jornada ainda não estava completa. Ela sentia, de algum modo, que algo ou alguém ainda precisava dela, e talvez ela precisasse deles.

Foi então que uma mulher apareceu.

Ela não se parecia com as outras que Helena ajudara. Não era uma criança perdida, não era um amigo buscando conselhos, não era uma alma em busca de luz. Era uma mulher já velha, com olhos que pareciam pesar mais do que o tempo poderia carregar. Ela parou na frente de Helena, e as duas se olharam por um longo instante, como se não fosse necessário trocar palavras.

— Você tem a luz — a mulher disse, de repente, com uma voz baixa e cheia de história. — Mas tem medo de usá-la.

Helena sentiu o coração bater mais forte. As palavras a tocaram de maneira profunda, como se aquela mulher soubesse algo sobre ela que nem ela mesma compreendia.

— O que você quer dizer? — Helena perguntou, ainda tentando compreender a intensidade daquelas palavras.

A mulher sorriu, e então fez um gesto simples: apontou para o céu. O gesto parecia simples, mas algo nele fazia com que o ar ao redor de Helena ficasse mais denso, como se o próprio tempo se suspensa ao seu redor.

— Eu fui como você, uma vez — disse a mulher. — Fui guardiã da luz, mas me esqueci do brilho. Não faça o mesmo erro. A missão de quem carrega a luz não é apenas acender as sombras alheias. Às vezes, o verdadeiro propósito é iluminar a si mesma.

E antes que Helena pudesse responder, a mulher desapareceu na multidão, como um suspiro que se perde no vento.

Aquelas palavras a seguiram durante os dias seguintes. Ela pensava nelas, mas também sentia a resistência dentro de si. Ela ainda estava presa ao medo, como a mulher dissera. Medo de olhar para dentro e encontrar a verdadeira extensão do que ela poderia ser. Ela se perguntava se, talvez, sua missão nunca tivesse sido só amar os outros, mas também aprender a se amar de uma forma plena, a abraçar a sua luz com coragem.

Nos dias que se seguiram, Helena começou a mudar. Não de forma radical, mas de forma profunda. Quando olhava para o espelho, não via mais apenas Helena, a professora, a amiga, a mulher. Ela via uma alma, uma mulher com um brilho sutil e potente. Ela não mais tentava controlar suas emoções, não mais se via como alguém com limitações.

Era como se, pela primeira vez, ela tivesse dado permissão a si mesma para brilhar de verdade.

E ao fazer isso, algo incrível aconteceu. As pessoas ao seu redor começaram a mudar também. Não por causa dela, mas porque ela, ao se tornar inteira, ao aceitar sua luz, despertava a luz nos outros. Elas começavam a acreditar em si mesmas, a seguir seus próprios caminhos com mais coragem, com mais verdade.

Samuel, mesmo sem saber o que estava acontecendo, começou a se abrir mais, a falar mais sobre seus próprios sonhos, suas próprias inseguranças. Ele sentiu a mudança nela, e isso o fez se olhar também, refletir sobre sua própria jornada.

Uma tarde, enquanto caminhavam pela rua, ele disse:

— Eu sei que algo em você mudou, mas não sei o que é. Você… você não tem mais medo, não é?

Helena sorriu, com um sorriso tranquilo, mas profundo. Ela não sabia se conseguia explicar, mas, ao olhar para Samuel, sentiu uma paz que há muito não experimentava.

— Não tenho mais medo. Porque agora eu sei que a luz não precisa ser controlada. Ela só precisa ser. E ser é suficiente.


Continua...

Um comentário:

  1. Olá, querida amiga Fernanda!
    "Às vezes, o verdadeiro propósito é iluminar a si mesma."
    O autoconhecimento é fundamental para nosso crescimento pessoal.
    Tenha um tríduo pascal abençoado!
    Beijinhos fraternos

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)