O Caminho da Luz
O tempo passava de forma curiosa para Helena. Não era o tempo de antes, o tempo marcado pelas missões e pelo dever. Agora, o tempo fluía como um rio tranquilo, que a guiava sem pressa, sem a necessidade de definir metas ou objetivos. Ela sabia que estava no lugar certo, e isso a fazia sentir-se inteira, mais do que qualquer lembrança de quem fora antes.
O que mais a surpreendia, porém, era a forma como as pessoas ao seu redor começavam a encontrar seu próprio caminho, como se o simples fato de ela existir, ser, já fosse uma chama que acendia outras.
Samuel, seu companheiro agora, também estava mudando. Não era um amor arrebatador, mas era uma presença que se encaixava no tecido da vida com naturalidade. Ele olhava para ela com um sorriso silencioso, sem pressa de entender o que ela era, mas aceitando-a como era. Isso era tudo o que ela precisava.
Mas uma tarde, enquanto caminhava pela rua, algo se quebrou. Ela sentiu, como um relâmpago suave, que a missão de amar não acabaria tão facilmente. O céu acima estava limpo, mas dentro de Helena, algo sussurrou que sua jornada ainda não estava completa. Ela sentia, de algum modo, que algo ou alguém ainda precisava dela, e talvez ela precisasse deles.
Foi então que uma mulher apareceu.
Ela não se parecia com as outras que Helena ajudara. Não era uma criança perdida, não era um amigo buscando conselhos, não era uma alma em busca de luz. Era uma mulher já velha, com olhos que pareciam pesar mais do que o tempo poderia carregar. Ela parou na frente de Helena, e as duas se olharam por um longo instante, como se não fosse necessário trocar palavras.
— Você tem a luz — a mulher disse, de repente, com uma voz baixa e cheia de história. — Mas tem medo de usá-la.
Helena sentiu o coração bater mais forte. As palavras a tocaram de maneira profunda, como se aquela mulher soubesse algo sobre ela que nem ela mesma compreendia.
— O que você quer dizer? — Helena perguntou, ainda tentando compreender a intensidade daquelas palavras.
A mulher sorriu, e então fez um gesto simples: apontou para o céu. O gesto parecia simples, mas algo nele fazia com que o ar ao redor de Helena ficasse mais denso, como se o próprio tempo se suspensa ao seu redor.
— Eu fui como você, uma vez — disse a mulher. — Fui guardiã da luz, mas me esqueci do brilho. Não faça o mesmo erro. A missão de quem carrega a luz não é apenas acender as sombras alheias. Às vezes, o verdadeiro propósito é iluminar a si mesma.
E antes que Helena pudesse responder, a mulher desapareceu na multidão, como um suspiro que se perde no vento.
Aquelas palavras a seguiram durante os dias seguintes. Ela pensava nelas, mas também sentia a resistência dentro de si. Ela ainda estava presa ao medo, como a mulher dissera. Medo de olhar para dentro e encontrar a verdadeira extensão do que ela poderia ser. Ela se perguntava se, talvez, sua missão nunca tivesse sido só amar os outros, mas também aprender a se amar de uma forma plena, a abraçar a sua luz com coragem.
Nos dias que se seguiram, Helena começou a mudar. Não de forma radical, mas de forma profunda. Quando olhava para o espelho, não via mais apenas Helena, a professora, a amiga, a mulher. Ela via uma alma, uma mulher com um brilho sutil e potente. Ela não mais tentava controlar suas emoções, não mais se via como alguém com limitações.
Era como se, pela primeira vez, ela tivesse dado permissão a si mesma para brilhar de verdade.
E ao fazer isso, algo incrível aconteceu. As pessoas ao seu redor começaram a mudar também. Não por causa dela, mas porque ela, ao se tornar inteira, ao aceitar sua luz, despertava a luz nos outros. Elas começavam a acreditar em si mesmas, a seguir seus próprios caminhos com mais coragem, com mais verdade.
Samuel, mesmo sem saber o que estava acontecendo, começou a se abrir mais, a falar mais sobre seus próprios sonhos, suas próprias inseguranças. Ele sentiu a mudança nela, e isso o fez se olhar também, refletir sobre sua própria jornada.
Uma tarde, enquanto caminhavam pela rua, ele disse:
— Eu sei que algo em você mudou, mas não sei o que é. Você… você não tem mais medo, não é?
Helena sorriu, com um sorriso tranquilo, mas profundo. Ela não sabia se conseguia explicar, mas, ao olhar para Samuel, sentiu uma paz que há muito não experimentava.
— Não tenho mais medo. Porque agora eu sei que a luz não precisa ser controlada. Ela só precisa ser. E ser é suficiente.
Continua...
Olá, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluir"Às vezes, o verdadeiro propósito é iluminar a si mesma."
O autoconhecimento é fundamental para nosso crescimento pessoal.
Tenha um tríduo pascal abençoado!
Beijinhos fraternos