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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

17 abril, 2025

Asas em Silêncio — Parte VII (Final)

Aleatoriamente um toque de poesia





O Eco da Luz
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Anos haviam se passado desde aquela noite na Sala Aurora. A escola mudara de nome, agora chamava-se Instituto Clara. Quase ninguém sabia o porquê do nome — apenas que havia pertencido a uma professora que, segundo diziam, “fazia o tempo parar quando entrava numa sala”.

Helena não estava mais lá. Partira como chegou: suavemente. Ninguém soube ao certo quando decidiu ir embora, ou para onde. Não deixou bilhete, nem cerimônia. Apenas uma rosa branca sobre a cadeira onde sempre se sentava e uma carta entregue à direção, onde dizia:

“A luz, quando acesa em alguém, continua a viajar mesmo quando a fonte parece ausente. Cuidem dela. Ela é de vocês agora.”

E continuaram. A Sala Aurora cresceu. Virou um projeto de bairro, depois um centro cultural. Jovens que antes se calavam agora escreviam livros. Alunas que antes tinham medo de sonhar viraram líderes de projetos sociais. Uma menina, que certa vez pintou uma borboleta na parede da sala, tornou-se artista e agora viajava o mundo levando a leveza que aprendeu a reconhecer dentro de si.

Samuel envelheceu com o tempo nos olhos, mas a juventude no coração. Continuava a fotografar o invisível. E sempre que alguém lhe perguntava por que seus retratos pareciam tão vivos, ele respondia:

— Porque aprendi a enxergar onde ninguém olha.

Às vezes, sentava na varanda de casa e olhava o céu. Fechava os olhos e sussurrava:

— Onde quer que você esteja, eu sei… ainda está aqui.

E estava.

Porque havia uma luz que brotava nas crianças, nas árvores do bairro, nos pequenos gestos cotidianos. Uma gentileza silenciosa. Um amor sem nome.

E um dia, muitos anos depois, uma jovem estudante, nova na escola, encontrou um caderno antigo escondido entre os livros da Sala Aurora. Nele, frases soltas, poesias breves, folhas secas coladas nas páginas, como se fossem pedaços de outra vida.

E entre as últimas páginas, uma frase destacada em tinta azul, já um pouco apagada, mas ainda legível:

“O amor que não encontrei em uma vida… multipliquei em muitas.”

Ela leu. E não entendeu totalmente. Mas sentiu. Como se algo dentro dela tivesse sido tocado.

Naquele dia, pela primeira vez, escreveu um poema.

E sem saber, recomeçou tudo de novo.


Fim. 

3 comentários:

  1. Olá, querida amiga Fernanda!
    "Porque aprendi a enxergar onde ninguém olha."
    Felizes os que aprendem a ver assim...
    Tenha um tríduo pascal abençoado!
    Beijinhos fraternos

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  2. Um bonito fechamento na vida da anja em suas idas e vindas e aprendizados, que repassados revolucionaram o meio. Já voava sem asas, dirigia as palavras e encantava com sua sensibilidade sempre afinada.
    Gostei de viajar nas asas do silencio Fernada.
    Um bom fim de semana Santa com uma Feliz Páscoa de coração.
    Cuide-se bem.
    Bjs e paz amiga.

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  3. Simplesmente divino, emocionante de ler! Adorei acompanhar essa bela história de vida...
    FELIZ e ABENÇOADA PÁSCOA! beijos, chica

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)