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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

16 abril, 2025

Asas em silêncio parte I

Aleatoriamente um toque de poesia




Asas em Silêncio — Parte I

Ela se chamava Clara.

Seu nome era sussurrado entre os véus do céu, onde as almas se formam e os destinos se escrevem com mãos de luz. Clara era uma anja de alma sensível e memória fragmentada. Sabia que havia amado profundamente, antes de tudo começar. Sabia que tinha deixado para trás outro ser alado com quem dividira séculos de silêncios bonitos, olhares eternos.

Quando lhe deram a missão de descer à Terra, disseram que haveria muitas tarefas — curar, inspirar, guiar — mas que, entre uma vida e outra, talvez ela reencontrasse aquele amor antigo, perdido nas dobras do tempo.

Veio. Em diferentes formas.

Foi menina de trancinhas tímidas, enfermeira de mãos quentes, artista de rua, mãe, andarilha. Em cada rosto que cruzava, buscava sinais. Um fio de voz, um gesto familiar, um arrepio inexplicável. Mas o tempo, esse escultor cruel, nunca entregava o que ela esperava.

E então, naquela vida em que foi escritora — das boas, dessas que transformam saudade em frase — ela o viu.
Sentado num banco de praça, sorrindo com os olhos, as mãos entrelaçadas às de outra mulher.
Era ele. O seu anjo.
Mas humano. Envolto em outra história. Outro destino.

Clara parou. Quis chamá-lo.
Mas ele olhou em sua direção… e sorriu. Não como quem reconhece, mas como quem respeita.
Talvez ele não se lembrasse. Ou talvez… se lembrasse, sim — e por isso sorria daquele jeito calmo, como quem diz: “eu sei, mas agora é tarde”.

Ela não chorou. Anjos não choram como os humanos. Sentiu apenas uma luz morna escorrer por dentro, dissolvendo o peso de séculos de espera.

Sentou-se no banco oposto e, por um breve instante, só observou.
A vida dele seguia. A dela, também precisava seguir.
E então ela fez algo que nunca tinha feito antes: deixou ir.

Naquela noite, Clara escreveu sua última história.
Uma carta que não seria lida, com palavras que só o céu entenderia.
Depois, caminhou até o alto de uma colina onde a brisa parecia mais antiga, mais próxima do lugar de onde viera.
E quando o sol tocou o horizonte, suas asas — que haviam ficado adormecidas por tantas vidas — se abriram, vastas e silenciosas.

Era hora de voltar.

Mas antes de subir, olhou para trás e sussurrou ao vento:

— Te amei em todas as vidas, mesmo nas que você não soube.

E então partiu, deixando na Terra não um amor incompleto, mas a beleza de um amor que foi inteiro… mesmo sem final feliz.


Continua...









2 comentários:

  1. Olá Fernandinha, que bela criativa trazer esta anja com um espirito forte e lindo. Eu parei no deixou ir. Isto passa por sabedoria, aceitação das mudanças da vida. Uma anja que a gente ama pelo que ela nos passa em resignação, aceitação dos movimentos de um mundo, que talvez nao seja mais o seu. Muito bom amiga.
    Vamos seguir do alto desta colina, donde pode-se ver o Sol nascer.
    LIndo amiga.
    Bjs e paz e uma Feliz Páscoa no coração.

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  2. Olá, querida amiga Fernanda!
    "A beleza de um amor que foi inteiro… mesmo sem final feliz."
    Eu vivi um amor assim. Com um final muito infeliz e de muito sofrimento para mim.
    Preciso seguir...
    Tenha um tríduo pascal abençoado!
    Beijinhos fraternos

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)