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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

27 abril, 2025

Noite

Aleatoriamente um toque de poesia

A noite revela preciosas delicadezas que o dia, apressado, não percebe. Entre as sombras suaves e o silêncio brando, surgem segredos antigos, pequenas bênçãos esquecidas, cintilando como estrelas tímidas no escuro.

Penso que é na noite que o coração escuta melhor, que o coração encontra espaço para sussurrar o que, na correria, cala.

Lá fora, gotas de chuva caíam e se intensificavam, cobrindo o mundo com um véu de água e som. Encostei a testa na vidraça fria, observando a rua se desfazer em borrões. As pessoas passavam apressadas, protegendo-se sob guarda-chuvas, como ilhas distantes, como mundos separados.

Pensei nas distâncias não apenas nas geográficas, mas nas invisíveis, essas que se formam dentro da gente. Às vezes, a distância entre duas pessoas na mesma sala é maior do que a de dois corpos separados por continentes. Às vezes, é o silêncio que constrói oceanos, é o orgulho que ergue muralhas.

As gotas escorriam pelo vidro como pensamentos que eu não dizia, como gestos que nunca alcancei.

Quantas palavras ficaram presas no peito, transformando-se em desertos entre mim e aqueles que um dia foram terra firme? Quantos olhares desviados, quantos abraços não dados, foram cavando vales profundos que hoje, mesmo com toda a vontade do mundo, parecem difíceis de atravessar?

A chuva lá fora era uma metáfora viva: era preciso atravessar o desconforto, o frio, a incerteza, para chegar do outro lado. Era preciso molhar os pés, perder o medo de se molhar por inteira.

Talvez as distâncias que mais doem sejam aquelas que escolhemos manter sem perceber. Talvez, se tivéssemos a coragem da chuva de cair, de tocar, de transformar, muitos caminhos ainda poderiam ser refeitos.

E mesmo que alguns abismos pareçam impossíveis de cruzar, sempre há um passo pequeno que pode ser dado: uma palavra, um gesto, um olhar. Uma ponte, mesmo que estreita, mesmo que frágil.

Continuei ali, ouvindo o som da água, deixando a saudade lavar um pouco das pedras que eu mesmo havia empilhado. E, no fundo, uma esperança tímida germinava: a de que, para algumas distâncias, ainda haja retorno.


4 comentários:

  1. Quando nosso coração em paz e cheio de amor está, na noite, no dia, nas gotas e em tudo, vemos poesia!
    Adorei!
    beijos, chica

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  2. Bom dia: - poema deslumbrante que muito gostei de ler. O meu elogio e aplauso
    .
    Saudações cordiais
    .

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  3. Olá, querida amiga Fernanda!
    Que bom a esperança que guarda no coração!
    "No fundo, uma esperança tímida germinava: a de que, para algumas distâncias, ainda haja retorno."
    O cruel é quando não há possibilidade de retorno jamais.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos fraternos

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  4. No fundo da noite há um mundo de mistérios,que buscamos explicações. A chuva lá fora lava, leva as diferenças. Aproximam os invisíveis seres sob as marquises, imperceptíveis aos seres apressados e máquinas desorientadas do caos. Os muros lhes parecem intransponíveis, as pontes foram levadas e o próximo passo omitido, faz este alheamento, que impera. Depois da chuva sob um arco-íris brota uma tênue esperança aos olhos ávidos de solidariedade.
    A noite com chuva nós leva a mergulhos no vazio dos seres.
    Muito bom Fernandinha.
    Bjs

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)