Aguarde os próximos capítulos...

Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

04 maio, 2025

A Gravata Colorida

Aleatoriamente um toque de poesia

Hoje André saiu de casa usando a gravata que as crianças pintaram. Aquela mesma: tecido branco, pinceladas tortas, cores misturadas, amor escorrido em cada mancha. Juro que pensei que ele nunca usaria imaginei que fosse uma daquelas peças feitas com entusiasmo infantil e guardadas com carinho, mas deixadas na gaveta. Pois pasmem: ele usou. Justo hoje, na clínica.

Quando ele entrou pela porta, gravata no peito e olhar sereno de sempre, senti algo apertar e aquecer por dentro. Era como se ele dissesse, sem palavras: “essa é a minha farda de pai”. Entre médicos de jaleco e pacientes em espera, lá estava ele, com uma explosão de cor feita por mãos pequenas. Não importava se combinava com a camisa, se era “adequada” para o ambiente. Importava que, naquele pedaço de pano, moravam os nossos filhos.

Às vezes, os gestos mais bonitos são também os mais silenciosos. E o amor, quando é grande, encontra formas inusitadas de se mostrar como uma gravata desajeitada que virou poesia no meio da rotina.


4 comentários:

  1. Boa noite, querida amiga Fernanda!
    Emocionei-me com seu relato pois hoje meu pai amado faria 102 anos faleceu aos 85...
    Ouvi uma música que me fez lacrimejar: Naquela mesa esta faltando
    ele...
    Ser pai é mais do gerar filhos.
    Pai que é pai veste gravata assim...
    O meu vestiria sem problemas também.
    Ótimo post!
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos fraternos de paz

    ResponderExcluir
  2. O que dizer dessa gravata? O amor, nesse caso, é revelado a cores e retribuído pelo uso sem restrições. Imagino a alegria das crianças vê-lo saindo com a gravata. Também imagino como o pai parecia uma criança querendo que todos percebessem a sua gravata e a sua vontade estampada no rosto de dizer que era uma obra de arte dos filhos.
    Gostei da postagem,
    Um abraço

    ResponderExcluir
  3. Reconhecer e mostrar o amor dos filhos é um gesto nobre, ainda que seja através de uma gravata colorida.
    Magnífico texto, gostei de ler.
    Boa semana.
    Beijo.

    ResponderExcluir
  4. Tem coisas que a gente grande não entende e ou não concebe, mas aqueles olhinhos infantis sabem falar coisas, que nosso coração se alarga e derrubamos todas as barreiras, principalmente o social correto.
    Gostei da prosa.
    Bjs

    ResponderExcluir

depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)