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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

15 maio, 2025

Abrir a caixa

Aleatoriamente um toque de poesia
(Diário de Fernanda)


Cheguei em casa com os passos ainda caminhando por dentro.
A noite tinha caído de vez, e havia um silêncio bom no nosso lar  desses que não pesam, só acolhem.
Acendi uma luz baixa na sala e, sem muito pensar, fui até o armário alto do corredor.
Lá dentro, uma caixa de papelão dormia há anos.
Aquela caixa.
Com cartas, fotografias, bilhetes amarelados.
Alguns nomes que ainda doem. Outros que já viraram apenas memória macia.

Sentei no chão e a abri.
Foi como destampar um pedaço de mim que estava quieto demais.
Não havia tristeza  havia saudade.
Uma saudade calma, dessas que a gente aceita como quem aceita o outono: sem flores, mas com beleza.
Toquei em lembranças com o cuidado de quem acaricia algo frágil.
Vi meu próprio rosto em fotos antigas, tão menina, tão crente em certas promessas.
Sorri com ternura daquela menina que fui.
E percebi que, apesar de tudo, ela ainda mora em mim.

A noite avançou. A caixa ficou ali, aberta.
Eu também.
Talvez o movimento que mais cura seja esse: o de encarar o que guardamos por tempo demais.
Não para remoer.
Mas para honrar.
E, enfim, deixar ir.


4 comentários:

  1. Olá, querida amiga Fernanda!
    Pelo que li, com atenção, ainda mira em mim muita dor... enorme saudade, gigantescas lembranças...

    "Fotos antigas, tão menina, tão crente em certas promessas."

    Aqui, me emocionei muito.
    Como ainda tenho resquícios assim.
    Creio que vai ser muito difícil eu crescer se não me afastar de algumas coisas.
    Ainda creio muito nas pessoas.
    Preciso minimizar a confiança.

    Você consegue fazer seu leitor adentrar nas suas palavras.
    Ao menos eu sou assim, absorvo o conteúdo dos posts relevantes. Eles me dizem muito sobre coração.
    Obrigada.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos fraternos devpaz.

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  2. Sensibilidade e beleza em cada das tuas palavras,Nanda! E abrir caixas do passado, voltar a rever ,lembrar, ter saudades, depois seguir, ainda que a caixa de recordações fique aberta dentro de nós! beijos, chica

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  3. Todos nós temos uma caixa cheia de recordações chamada CORAÇÃO.
    Cumprimentos poéticos

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  4. Que bela metáfora, Fernanda!
    Quanto lirismo ao abrir-se a caixa. A poesia emerge, brota dessa espontaneidade, sem importar-se com o avanço da noite ou a caixa aberta.
    É encarar o que guardamos por tempo demais.
    Um abraço, Fernanda!

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)