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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

26 maio, 2025

As Nuances de Deus

Aleatoriamente um toque de poesia


Deus não fala só do alto das montanhas.
Às vezes, sussurra no silêncio entre uma pergunta e outra.
Não se limita às catedrais: também se assenta no banco da praça,
esperando, com olhos de velho amigo, que a gente repare.

Tem dias em que Ele é alvorada outras, é o véu da noite.
É consolo no abraço inesperado.
É ausência que ensina,
é espera que amadurece.

Deus é lágrima que limpa e riso que acolhe.
É a dor que transforma e o alívio que chega quando tudo parecia sem cor.
Não grita. Não impõe.
Ele sugere com ternura, como quem respeita o tempo de cada flor desabrochar.

Às vezes, veste-se de acaso.
Outras, de coincidência.
Mas quem já sentiu, sabe:
há algo maior por trás dos detalhes que pareciam pequenos demais.

As nuances de Deus não cabem nos livros.
Mas cabem inteiras no coração desperto.








8 comentários:

  1. "Deus" é a grande questão humana, tanto teológica quanto filosófica. Mas onde ele se faz mais real mesmo é no coração do fiel que crê como quem dá um salto no escuro.
    Eu sou de tradição protestante, fui membro de uma igreja até meus 30 anos mas depois me desliguei dela. Meus questionamentos e perguntas nunca foram bem respondidas pela teologia.
    Deus é uma questão de cultura. Cada povo "cria" seu Deus conforme sua semelhança, desejos, aspirações. Porém, o conceito de Deus pode dar sentido para a grande questão universal: o que estamos fazendo aqui? Ainda que seja um sentido subjetivo.
    Há os que não creem em Deus algum. Esses são os céticos e tudo bem. Qualquer um que diga para um cético que existe um Deus bondoso que se preocupa com o ser humano fará o cético apontar para o mundo e dizer: Deus se preocupa com isso aí? Esse mundo cheio de males e dores? Porém, Deus pode aliviar as dores ao devoto que a ele ora, medita e aceita sua vontade.
    Eu estou em algum ponto nos meados desse caminho entre fé e descrença.
    Teu texto porém, é tão profundo, tão bonito, que Deus só pode mesmo é existir.

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    1. Eduardo, não tem como não alongar aqui minha resposta ao teu comentário. Que generosidade a tua em compartilhar esse caminho tão íntimo entre a fé e o questionamento. Senti em tuas palavras não um afastamento de Deus, mas uma busca madura e sincera por um sentido que não seja imposto, mas vivido com verdade.
      A tua experiência com a fé, com a igreja, com o silêncio das respostas que não vieram, é também a de muitos que ainda têm fome de algo que toque a alma sem violência ou dogma. E, ao mesmo tempo, é precioso esse ponto em que te encontras entre fé e “descrença”porque é aí que o coração continua perguntando, e essa pergunta, em si, já é uma prece. Talvez Deus, como disseste, seja sim uma construção cultural em muitos aspectos. Mas há algo além da ideia, que escapa às palavras e às tradições: há o silêncio depois da dor, o consolo sem explicação, a beleza que comove sem motivo. Deus pode não estar nas respostas prontas, mas talvez more nas entrelinhas, nos gestos pequenos, na flor que nasce sem plateia.
      Fico profundamente tocada com tua última frase. Se algo em meu texto fez Deus parecer possível, então já valeu por todas as palavras que escrevi. Obrigada, de verdade, por ler com o coração aberto. Seguimos mesmo que entre luz e sombra com essa alma que insiste em buscar.

      Obrigada!

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    2. Sim, sim.
      O meu maior sempre foram os dogmas pétreos, "imexíveis" e absolutos. Não lido bem com dogmas.
      Mas gosto muito da ideia de Deus que tem o filósofo Espinosa. Deus estando em tudo, e tudo, estando em Deus. Sem céu e sem infernos....rs

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    3. Eduardo, entendo tão bem essa inquietação diante dos dogmas… Eles tendem a engessar a experiência do sagrado, que é ou deveria ser viva, pulsante, sempre em movimento. A visão de Deus de Espinosa também me encanta profundamente. Esse Deus que não está separado da criação, mas que é a própria existência em cada folha, em cada sopro de vida, em cada silêncio que abriga sentido.
      Sem tronos nem castigos, apenas a fluidez de um Amor presente em tudo, inclusive em nós.

      Obrigada por compartilhar tua forma de sentir. Ela também toca a minha. 🌿

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  2. Querida amiga Fernanda, ah! Como é bom termos Deus como Amigo do peito.

    "Ele sugere com ternura, como quem respeita o tempo de cada flor desabrochar."

    Bem assim, amor sutil, delicado, cheio de encantamento...
    Quando dizemos que Ele está no meio de nós... É algo substancioso que ultrapassa conceitos, dogmas, verdades de fé...
    Ele se "humilha", se fazendo Humano.
    De tão Humano, não O percebemos dentro nem ao nosso redor o dia todo Só nos altares O vemos.
    Gosto muito da nuance que nos mostra aqui na linda flor que me encanta. Imagem terna.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos fraternos de paz

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    1. Querida Roselia,

      Que alegria receber tuas palavras sempre tão cheias de fé e poesia. Tuas reflexões ecoam em mim com a leveza de quem já aprendeu a escutar Deus não só nos altares, mas também no vento, na flor que desabrocha, na alma que espera em silêncio.
      Sim, Ele se faz tão Humano que às vezes passa despercebido aos nossos olhos apressados. Mas quando aquietamos o coração, Ele se revela não com imposição, mas com ternura, como disseste tão bem: um amor sutil, que toca sem ferir e chama sem gritar. É um milagre diário perceber que Ele não nos cobra pressa, apenas presença. Que bom caminhar ao lado de amigas de fé como tu, que sabem reconhecer Deus no miúdo e no mistério.
      Recebe também meu carinho e um abraço fraterno de paz.
      Que teus dias sejam sempre jardins de esperança.

      Bjinho🙏🏻

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  3. Minha querida Fernanda, vou esquecer que a poesia é a mais pura das ficções e tomar o seu poema como dogma e repetir o que disse Eduardo, sábio, na sua síntese: "Teu texto, porém, é tão profundo, tão bonito, que Deus só pode mesmo é existir". Nele acredito, em Deus. Belíssimas imagens você criou para cristalizar a presença de Deus em nós. Fez-me lembrar de Alex Viana, o cineasta, um agnóstico convicto, que se viu diante da iminência de um figurante de um dos seus filmes baleado durante a filmagem por excesso de realismo, ele chamou por Deus e pediu que todos rezassem para que o figurante não morresse. Seria terrível para todos que participavam do filme.
    Não me canso de repetir sua linguagem e pura transfiguração.
    Um abraço,

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    1. Querido Eros,

      Teu comentário me tocou fundo. Talvez porque ele próprio seja poesia dessas que nascem não da ficção, mas da experiência viva, do espanto que nos visita quando o invisível nos toca de repente, como nesse episódio que compartilhaste com tanta força e humanidade. Sim, há momentos em que mesmo os que dizem não crer se veem diante de um abismo que só a prece pode atravessar. E é ali, naquele instante de súplica, que Deus se revela não como conceito, mas como urgência amorosa, como presença que se busca mesmo sem se saber onde encontrar. Que bonito tu dizeres que a linguagem é uma forma de transfiguração. Talvez a poesia sirva justamente para isso: para tornar visível o que o olhar comum não vê, para traduzir a fé quando a razão se cala. Recebo tuas palavras com gratidão e humildade. Que bom poder dialogar com almas sensíveis como a tua.

      Um abraço,
      Fernanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)