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27 maio, 2025
Medida do verso
12 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Gostei das redondilhas ou tem algum verso quebrado? É também "craque" na métrica. Este é um poema "sem medida" de tão bem metrificado, rsrs,
ResponderExcluirAbraços, Nanda"
Eros, meu querido,
ResponderExcluirVocê sabe como fazer uma “poetisa” sorrir até a métrica escorregar da cabeça!
Olha, confesso: contei os pés umas três vezes pra ver se nenhum verso estava mancando… mas vai que algum tropeçou de propósito só pra dar charme, né? 😄
“Poema sem medida”… adorei isso! Vou usar como defesa oficial quando os decassílabos resolverem me abandonar! Obrigada pela leitura generosa e pelo bom humor que é sempre música pros meus ouvidos.
Abraços com ritmo e rima,
Nanda 🎵✨
Querida amiga Fernanda, como é bom ver uma postagem assim tão leve, descrevendo, tão delicadamente, sua alma poética no momento noturno.
ResponderExcluirAqui vai a minha:
Sou verso com ou sem rima,
a poesia me vence, me anima.
Não gosto de estruturas, livre,
desafogo a alma sem melindre.
Sofisticação? Sem vez em mim,
Prefiro sentir cheiro de jasmim.
Gosto muito quando diz a sua ser métrica forte, coração livre...
Quando o sentir nos lavra, nada nos incomoda, ao contrário, nos instiga a continuarmos a viver de bem com a vida e parceiros dos amigos poetas.
Temos algo em comum:
"Só quem ama me entende."
É preciso profundidade do que intenta nos compreender.
Tenha dias poéticos e abençoados!
Beijinhos fraternos de paz e bem
Querida Roselia,
ExcluirÉ sempre um presente receber suas palavras tão cheias de alma e encanto. Seu verso flui como riacho manso que atravessa a noite, sem se preocupar com margens e, talvez por isso mesmo, tão verdadeiro.
“Só quem ama me entende”… essa frase, que nos une, me toca profundamente. Há mesmo uma linguagem secreta entre os que sentem com o coração à flor da pele essa irmandade de quem transforma a vida em poesia, mesmo quando tudo parece em prosa dura.
Sua liberdade poética inspira. Eu, que gosto da métrica como quem gosta de um compasso no peito, também reconheço na sua entrega algo que me faz querer ser mais vento, mais leveza, mais perfume de jasmim no papel.
Obrigada por caminhar comigo por essa vereda tão delicada da escrita sentida. Que nossos versos sigam se encontrando e florescendo, mesmo em silêncios.
Com carinho e poesia,
Fernanda ✨
Beijinhos de luz e ternura
Bienvenidas esas licencias poéticas que hacen que estos versos sean una caricia y nos hagan sonreír al empezar la mañana.
ResponderExcluirA mí me ha encantado tu poema.
Te he encontrado de casualidad y me detuve a leerte.
Espero no perder tu contacto y volver a visitarte.
Cariños y buena semana.
Kasioles
Kasioles,
ExcluirQue alegria saber que esses versos te encontraram assim, de mansinho, e te arrancaram um sorriso logo pela manhã… É esse o mais bonito propósito da poesia: ser abraço sem braços, companhia sem pressa.
Fico muito feliz por teres parado aqui, ainda que por acaso às vezes, os encontros mais belos são mesmo assim, como quem tropeça em uma flor no caminho. Volte sempre que o coração pedir um instante de leveza. A porta estará aberta, e a palavra sempre te esperando.
Um carinho imenso e votos de uma semana doce e inspirada,
Fernanda 🌷✨
Querida Fernanda, hoje, vim cá e fiquei lendo os teus textos, carregadinhos de poesia, uma poesia que retrata a tua vida, nem sempre poética. Fiquei a conhecer-te muito bem e agradeço-te, pois és um exemplo de resiliência e de amor, aquele amor que, como tu bem dizes, é a tua religião. Também tento que o amor seja o lema da minha vida, mas, sinceramente, tenho a certeza que não serei capaz de amar como tu. Soubeste dar colo a crianças que não o tinham, esse colo que também tu não tiveste e isso é a maior prova de Amor que alguém pode dar. Há pessoas que têm vergonha do seu passado, há gente que se envergonha dos pais por serem pobres, por não terem formação, por não terem um carro e por outros factores que não têm qualquer importância. Tu, querida Fernanda, expuseste o teu, sem o mínimo constrangimento e isso faz de ti uma MULHER fantástica que, hoje, ao te ler, aprendi a admirar. Obrigada, querida Amiga, e que a vida te dê muita saúde para poderes continuar a dar colinho a essas crianças que muito te amam
ResponderExcluirMuitos beijinhos e a minha sincera Amizade
Emília 🌻 🌻
Querida Emília,
ResponderExcluirSuas palavras me chegaram como uma brisa morna em fim de tarde daquelas que acalmam a alma e fazem a gente fechar os olhos por um instante só para agradecer. Ler que você me conheceu melhor por entre os versos me emociona. É isso que tento, ainda que com mãos “trêmulas”: deixar que a poesia conte o que a vida não disfarça que nem tudo foi bonito, mas que tudo pode ser transformado com amor.
Não sei se sou tudo isso que você diz… talvez eu apenas tente não deixar que a dor me endureça. Dou colo porque também precisei, e porque acredito que toda criança merece encontrar, um dia, os braços que esperava. Obrigada por esse olhar tão generoso, por não apenas ler, mas sentir e por me escrever com tanta ternura. Que sigamos, você e eu, fazendo do amor a bandeira que não abaixamos nunca, mesmo quando o vento é contrário.
Com carinho e gratidão imensa,
Fernanda 🌻💛
Encantador o teu poema.
ResponderExcluirSabe, admiro demais os poetas antigos que compunham verdadeiras obras de arte poética presos a regras estritas de composição.
Quando comecei ler Drummond, fiquei admirado com seus "poemas livres", sem amarras metodológicas, porém, não destituídos de beleza e melodia.
Não sou poeta, nem mesmo amador, de vez em quando escreve umas coisinhas lamentáveis...rs
Porém, admiro tantos os poetas clássicos quanto os mais modernos, livres.
Eduardo, que bonito ler tua admiração tão honesta e generosa pela poesia clássica ou livre. A beleza está mesmo nessa ligação: entre a métrica que abraça e a liberdade que respira.
ResponderExcluirDrummond nos mostrou que o verso pode caminhar descalço e ainda assim tocar fundo, não é?
E olha… não duvido que essas “coisinhas lamentáveis” escondam mais poesia do que te permites reconhecer. Às vezes, é justamente na espontaneidade que mora a alma do verso.
Obrigada por partilhar esse olhar tão sensível. Já é poesia em si. ✨
Olá, Fernanda, gostei muito do poema em metalinguagem, um poema para se ler uma duas ou mais vezes.
ResponderExcluirMeus parabéns!
Votos de uma boa semana, com muita luz
e paz.
Meu abraço daqui do Sul!
Olá, Pedro!
ExcluirQue alegria receber tua mensagem! Saber que o poema tocou você assim pedindo releituras é daquelas recompensas silenciosas que a escrita nos dá. Fico muito grata pelo carinho e pela leitura atenta, que atravessa as palavras e encontra o coração do que foi dito (ou sussurrado entre os versos). Recebo teus votos com carinho e retribuo: que a tua semana também venha cheia de luz, paz e boas inspirações aí no Sul que, mesmo de longe, aquece com afeto.
Um abraço,
com estima,
Fernanda