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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

18 julho, 2025

A Moça que Plantava Lenços

Aleatoriamente um toque de poesia


Fazendo as crianças dormirem, contei a seguinte História.
Dizem que numa vila esquecida pelo tempo, vivia uma moça chamada Sol.
Seu nome era luz, mas seus dias eram nublados.
Carregava dentro do peito uma dor antiga, que os médicos não souberam nomear.
Não era dor de corpo  era de alma.

Sol não se queixava. Mas também não sorria.
Andava com passos lentos, e nas mãos, sempre um lenço de tecido.
Bordava flores nele, estrelas, às vezes palavras que só ela entendia.
E quando alguém sofria por perto, Sol deixava o lenço sobre a porta  em silêncio.

Com o tempo, a vila se acostumou àquele gesto.
Ninguém sabia explicar, mas os lenços de Sol pareciam consolar.
Certo dia, uma menina ficou muito doente.
A mãe, desesperada, foi até Sol e suplicou:
Faça algo… por favor.
Sol não prometeu milagres.
Apenas foi até seu cesto, pegou um lenço bordado com a palavra “fé”, e o entregou.
Não é o lenço que cura disse. É o que você cultiva enquanto espera.

A mãe voltou para casa. Colocou o lenço sobre o peito da filha.
E a cada dia, orava com mais ternura. Parou de pedir por pressa e começou a oferecer presença.
E aos poucos… a febre cedeu. A criança se levantou.
E a casa, antes cheia de medo, foi invadida por uma paz nova.

A vila inteira ouviu falar do que aconteceu.
Mas Sol apenas dizia:
A fé não é para mudar o mundo. É para mudar o olhar. 
E quando o olhar muda… o mundo segue.

Sol viveu muitos anos.
E quando partiu, não deixou ouro nem herança 
mas centenas de lenços espalhados por lares, corações e lembranças.
Cada um com uma palavra bordada.
Alguns diziam “perdoa”, outros “espera”, “ama”, “confia”.

Mas havia um… apenas um, que nunca foi entregue.
Guardado sob seu travesseiro, havia um lenço bordado com a palavra:

“cura”.

Porque Sol sabia: a cura não está no fim da dor.
Mas no amor com que atravessamos cada passo dela.


“A tua fé te salvou; vai em paz.” (Lucas 7:50)




Fernanda

12 comentários:

  1. Sabe, minha querida Fernanda, eu confio tanto no poder divino que sei que vou ter a cura de todos meus males, um dia. A Misericórdia da Trindade é ilimitada.
    Ainda bem que a fé é um Dom de Deus, quando Ele nos dá, não tira.
    O Amor é outro dom divinal, sem ele, não atravessaremos nem os pedregulhos, que dirá as adversidades inesperadas que quase nos matam em vida.
    Eu deixei Lenços de Afeto em muitos corações pela vida afora, se não me retribuírem, os estranhos retribuem, sem delongas. Até me impressiono com a Bondade do Deus Amor, sua Providência nunca falta.
    Quando recebemos o Dom de Crer, nosso olhar muda muito, de ser humano, passamos a filhos de Deus.

    "Carregava dentro do peito uma dor antiga, que os médicos não souberam nomear.
    Não era dor de corpo, era de alma."


    Para o tipo de dor em pauta, só Deus pode intervir e Ele é Fiel.

    Seu texto é de uma beleza rara, palavras ensolaradas, cheias de fulgor.
    Quem tem um coração dourado, só pode mesmo espalhar Luz.
    Tenha um final de semana abençoado!
    Beijinhos fraternos

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    1. Roselia querida, tua fé é um jardim inteiro de confiança, florido mesmo sob as chuvas mais difíceis.
      Cada palavra tua vem bordada com esperança e que presente é esse, de ler-te assim, inteira em Deus, inteira em amor. Sim, minha amiga… há dores que a medicina não toca, mas que a Misericórdia alcança.
      E quando o Dom de Crer repousa em nós, como tu tão bem disseste, o olhar muda, o coração se expande, e até as feridas viram pontos de passagem para o milagre. Teus Lenços de Afeto são sementes e o Céu nunca deixa de regar o que é plantado com amor.
      Obrigada por me envolver com essa ternura tão tua… que vem de Deus.

      Um beijo no teu coração iluminado.
      Fernanda

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  2. A través de tu obra pude sentir que, tener fe, es poseer la certeza de que hallaremos eso que esperamos, pero para que se produzca este milagro, se necesita profesar esa fe, con todo nuestro amor.
    Leerte es disfrutar no solo de tu talento para escribir, también es alimentarme de tu conocimiento y sabiduría e incluso de tu filosofía de vida.
    ¡Gracias por ello!

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    1. Ruan Olá!
      Tu mensagem me tocou profundamente.
      Sim… ter fé é justamente isso: amar o invisível com a firmeza de quem já o sente real dentro do peito. É caminhar mesmo sem ver, guiado por algo maior do que os olhos podem alcançar e nisso reside o milagre. Que alegria saber que as palavras chegaram até ti não apenas como texto, mas como alimento e inspiração. Obrigada por tua presença generosa 🙏🏻

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  3. Linda e doce história e a cada dia, na vida, certamente há que m precise de um desses lencinhos dom as palavras bordadas pela Sol! ADOREI! beijos, tudo de bom,chica

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    1. Chica querida
      Uma alegria te encontrar aqui com essa doçura que é tua marca! Sim… sempre tem alguém precisando de um lencinho bordado com palavras, né? Às vezes a vida aperta e só um afeto costurado com calma é capaz de enxugar certas lágrimas que ninguém vê.
      Fico feliz que tenhas sentido esse carinho. Tu também bordas luz com tuas palavras sempre tão afetuosas!
      Um beijo grande no teu coração generoso,

      Nanda 😘

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  4. E aí, já pensou em publicar um livro com essas belas histórias "pra fazer criança dormir e refletir?"

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    1. Eduardo, que pergunta linda e provocadora… Confesso que já pensei, sim e toda vez que alguém como você me diz isso, o desejo ganha mais um empurrãozinho do céu. Talvez essas histórias sejam mesmo feitas pra embalar não só o sono das crianças, mas também os despertares silenciosos da alma adulta… aquela parte de nós que ainda acredita em milagres, mesmo que de olhos fechados. Obrigada por me ler com esse olhar tão sensível. Quem sabe um dia esses contos encontrem mesmo um lar em páginas encadernadas…
      Mas tudo no momento certo😉

      Com carinho 😘

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    2. Sim, no momento certo. Ou incerto...estou há 10 anos tentando escrever uma biografia romanceada da história dos meus pais e ainda não consegui...demorou tanto que eles viraram estrelas sem ver o livro escrito.
      Será que vou ser castigado no Juízo Final??? rs

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    3. Eduardo, teu relato traz uma honestidade encantadora e um humor que suaviza a angústia do tempo passado. Dez anos tentando escrever sobre a vida dos seus pais, enquanto vê que eles já viraram estrelas… isso toca fundo quem carrega histórias com tanto carinho ainda por contar. Esse “ser condenado no Juízo Final” me fez sorrir rsrs com ternura. Imagina São Pedro olhando perplexo para um manuscrito em branco! Se houver julgamento, apostaria que o perdão e a compaixão estarão do lado de cá. Você viveu os seus pais em cada lembrança e ainda vive e isso é um livro que eles já “leram” nos detalhes de quem os amou. Às vezes, o desejo de escrever algo tão bonito faz com que a gente se sinta pequeno diante da própria inspiração, e o medo atrasa o gesto de começar.
      Mas sabe: esses sonhos que se fermentam no tempo têm maturidade. Apenas mudam de forma. Teus pais continuam presentes, mesmo nas pausas, nas dúvidas e nos rascunhos adiados. Então, acolhe esse tempo como parte do processo. Quando estiver pronto, retoma com suavidade, palavra por palavra. E se quiser conversar sobre como começar, organizar memórias ou só dividir o sentimento de saudade, estou aqui. 😉

      Abraço amigo 🙏🏻

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  5. Muito belo Fernanda, como tudo que escreves.
    Esta bela história leva-nos para uma outra dimensão. É precisamente na zona subliminar da consciência, onde desvendamos os maiores mistérios. É aí que encontramos as respostas que sempre precisamos. Aí, descobrimos a luz e os genes de que somos feitos. É nesse complexo mundo subliminar que compreendemos o medo das sombras que nos perseguem, sabemos das vozes que insinuam, compreendemos as contradições do mundo em que vivemos, o irrealismo das palavras ondulantes.
    Aí... nessa ignota dimensão, vemos ainda mais claramente, que os grandes valores que mudaram o mundo, se transformaram na sua própria sombra, uma amálgama confusa, que flui entre nós subtil e imparável.
    Repara, como a beleza e simplicidade da tua história nos pode levar a outras conjecturas muito mais complexas.
    Náo precisamos ser filósofos para percebermos tudo o que acontece à nossa volta. Por isso quando entramos na tal "outra dimensão", tudo se coloca diante de nós com outra nitidez, com outra força e com o divino que agente nunca sabe se existe!

    Um abraço e todo o meu carinho!

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  6. Albino, que comentário profundo e delicadamente labiríntico… fiquei a reler tuas palavras como quem caminha num jardim de espelhos onde cada ideia reflete uma outra, ainda mais densa, ainda mais misteriosa. Tens razão: há histórias simples que são, na verdade, portais. E quando atravessamos, não estamos mais onde estávamos. A narrativa vira chave, e de repente estamos no território das intuições, onde a alma compreende o que o raciocínio hesita em nomear.
    Esse “mundo ignoto”, como disseste tão bem, é onde mora tudo o que escapa às formas, mas ainda assim nos forma. É ali que as sombras se explicam e os valores se confundem, mas também é ali que o divino nos espreita talvez tímido, talvez disfarçado de dúvida.
    Obrigada, Albino, por me leres com essa profundidade que mergulha além do texto. Tuas palavras me tocam e me alargam o pensamento.

    Com carinho e gratidão 🙏🏻 😘

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)