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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

23 julho, 2025

Os que sobraram do tempo

Aleatoriamente um toque de poesia



Vivemos numa sociedade que corre para não encarar o espelho.
Uma sociedade que idolatra juventude, performance, produtividade e que abandona quem já deu tudo de si. O idoso, hoje, é quase uma inconveniência social.
É alguém que “atrapalha a fila”, “anda devagar demais”, “fala do passado”, “não entende tecnologia”.
O mesmo idoso que um dia foi o esteio de uma família, agora é empurrado para o canto da sala. Ou para fora dela.

E os planos de saúde?
Cobraram fortunas enquanto ele ainda era jovem e saudável.
Mas agora que adoece naturalmente, pela idade negam exames, restringem tratamentos, trocam humanidade por protocolo. Como se envelhecer fosse um erro, e não um direito.

E a moradia?
Milhares de idosos vivem sozinhos, em "apartamentos" onde ninguém mais bate à porta.
Ou pior: são despejados, porque não conseguem mais pagar o aluguel, ou porque um filho decidiu que seria melhor “colocar num asilo”.

Asilos esses que muitas vezes são depósitos de velhice.
Lugares frios, silenciosos, cheios de vozes esquecidas.
Lugares onde os olhos não brilham mais, porque já entenderam: foram deixados para trás.

É cruel.
Mas mais cruel ainda é o silêncio.
Porque fingimos que está tudo bem.
Porque compramos o discurso de que “cada um por si” é liberdade  e não abandono.

Essa é a sociedade que criamos:
uma que rejeita a memória, adoece os seus e chama isso de progresso.
Não é falta de dinheiro. É falta de vontade política.
Não é ausência de recursos. É ausência de ética, de amor coletivo, de um mínimo de responsabilidade afetiva com quem veio antes.

O futuro?
Ironicamente, todos caminhamos para ele.
E ele tem cheiro de remédio, de solidão, de promessas quebradas.
Talvez, então, ainda dê tempo de escolher outro caminho.
Onde a velhice seja vista como sabedoria, e não como peso.
Onde a saúde não seja um luxo.
Onde o cuidado não seja uma esmola.

Antes que um dia, todos nós sejamos os que sobraram do tempo.

18 comentários:

  1. E o Brasil que um dia já foi um "país jovem" - eu ouvia isso na adolescência - hoje é um país que está envelhecendo. Esse é um fenômeno que acontece no Japão e na Europa. Já escrevi uma crônica sobre o alto índice de suicídios entre idosos no Japão. E muitos morrem pelo esgotamento físico de seus cuidadores em lares de idosos.
    Não é fácil cuidar de um idoso que tenha uma doença degenerativa, por exemplo. Por mais amor que haja, a fadiga de quem cuida, vem e não se deve julgar esse esgotamento como desprezo ou falta de amor, a coisa é mais complexa.
    É um assunto que deve ser discutido na sociedade e nos governos, precisamos nos preparar para um Brasil de idosos. Eu tô no caminho, já que fiz 60 mês passado.
    Mas, já disse aqui em casa, se eu ficar velho e der muito trabalho, me coloquem numa boa casa para idosos com enfermeiras bonitas...rs

    Rir é o melhor remédio.

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    1. Eduardo, que reflexão importante e tão bem colocada! O Brasil, de fato, já deixou pra trás aquela imagem de país jovem, e parece que ainda estamos engatinhando quando o assunto é envelhecer com dignidade tanto para quem vive esse tempo quanto para quem cuida.
      Você traz à tona um ponto essencial: o esgotamento de quem cuida não é falta de amor, é cansaço humano. E isso precisa ser acolhido com mais empatia, mais políticas públicas, mais estrutura e menos julgamento.
      Ri aqui com teu final, porque rir, como você bem disse, é um remédio precioso. Que bom quando a gente pode olhar com leveza até mesmo para os temas mais densos isso não é superficialidade, é sabedoria.
      Obrigada pelo comentário lúcido, necessário e com essa pitada de bom humor que só melhora o que já é bom.

      Com carinho,
      🙏🏻

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    2. Dudualdo! Eu também!
      Quero morrer com 100 anos, assassinado, por um marido ciumento...

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    3. Vixi! Responde Eduardo kkkk
      André, meu amigo,
      aos 100 anos e ainda causando crime passional?
      Tu não vai morrer… tu vai virar lenda! 😂
      Coitado do
      Dudualdo, cúmplice de velhices perigosas kkkk
      Esse Andre! kkkkk

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    4. O Dudualdo vai viver até os 150.
      Com essa tranquilidade... Ihhhhh vai longe.

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    5. André,
      se depender da tranquilidade do Dudualdo, ele já tá fazendo fila pra soprar as velinhas dos 150. E vai assoprar com calma, viu? Uma vela por semana, no ritmo dele. E você falando “ihhhh vai longe” como quem avisa o futuro… já tô vendo: Dudualdo em 2093, de pantufa, sorrindo com esse mesmo olhar de quem já entendeu tudo e não tem pressa de explicar.
      André e Eduardo,agora é sério!
      A gente sabe que tem afeto demais por detrás destas brincadeiras. É muito bom ter a amizade de vocês por aqui. Um vem com a leveza das piadas que abraçam, o outro com a serenidade que ensina só de existir. E juntos, vocês trazem aquele equilíbrio raro entre a risada solta e o silêncio bom.
      E eu? Estou aprendendo😊
      Esse comentário já virou oração moderna:
      “Dai-nos, Senhor, a paz do Dudualdo e o humor do André.” 🙏🏼

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  2. Incrível e muito triste a situação dos idosos nesse país... Vemos descobertos asilos que são verdadeiros muquifos ,descartes de pessoas e desrespeitos vários!
    E só se ouve falar na melhor idade, em viver mais e mais tempo e nada de preparo para tal! Pena! beijos, lindo dia! chica

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    1. Chica, tua voz é grande verdade! Uma verdade dolorosa e necessária.
      É mesmo um enorme paradoxo: fala-se tanto em “melhor idade”, em longevidade como conquista mas o que vemos, tantas vezes, é descaso, abandono e uma estrutura que não acompanha esse envelhecer. Os asilos que viram depósitos de gente, os corpos frágeis esquecidos, os silêncios longos que ninguém escuta… tudo isso dói.
      É preciso falar, gritar, denunciar e também preparar, com dignidade, um país que está, sim, envelhecendo.
      Obrigada por trazer essa reflexão com firmeza e sensibilidade.
      Beijo carinhoso no teu coração sempre atento,

      😘🙏🏻

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  3. Bom dia de Paz, querida amiga Fernanda!
    Um post necessário num país onde o etarismo toma conta achando uns que nunca vão envelhecer.
    Aqui na minha cidade, somos muitos idosos. Tem o cognome de Cidade Saúde e não tem um hospital decente. O que tinha foi transformado em clínica particular e o novo ainda está se formando, sem acesso aos convênios.
    Resultado: temos que partir para a capital ou à próxima Vila Velha.
    A máfia do plano que tem aqui, somente para consultas e alguns exames não deixa entrar o nosso, o segundo melhor plano de saúde.
    O primeiro só tem fama nacional... consultas programadas para três meses... pode? O hospital deles também é na capital. Por sinal, em frente ao do meu. Já pertenci a ele no RJ. Só que é três vezes mais o valor que pago do meu que é excelente (1.100).
    É um dos problemas, ou seja, somos idosos ainda em condição de saúde normal.
    Aqui, temos muitos andando em cadeiras elétricas e com cuidadores que cobram uma fortuna. Eles precisam de 3 ou 4.
    Já andei visitando dois Lares, caros, ao redor de 5.000 e não me agradaram pelo que vi, só doentes, ninguém con a cabeça sadia. Triste demais de ver. De famílias de bem, claro, para pagar o que pagam e sem nada além do básico. Saio pensativa de lá.
    Querida, tive uma das minhas tias que era uma mulher valorosa, ativa, teve um câncer no cérebro, ficou numa cadeira de rodas quase um ano e, depois de viver um casamento admirado pela família, foi 'maltratada' no processo da sua enfermidade pelo cansaço de quem cuidava...
    Só Deus para cuidar de nós doravante.
    Não sou mãe de explorar filhos. Eles não podem deixar de viver para suas famílias para cuidar de mim, se preciso for. Tenho um dos filhos que já tentou de tudo para me levar onde mora, mas é frio de gelo, eu não posso .
    Oxalá possa eu ainda viver minha escalada final em perfeitas condições de saúde que seja mínima! Independente.
    Graças a Deus, convivo com minhas amigas muito mais idosas com perfeita saúde ou seja, tudo tratável.
    São um exemplo e me ensinam a ter independência.
    Depois dos 7.0 tudo muda. Vou começar a viver a idade das mudanças...
    Adoro acordar, tomar um café e sair pela Orla caminhando.
    É um presente valoroso que o Criador me permite.
    A vida fica azul.
    Eu cuidei do meu pai amado dois meses e meio, abandonei minha casa no RJ para vir ao ES. Foi a melhor coisa que fiz, ele não teve nada além de um câncer na próstata e um levíssimo Alzheimer aos 85.
    A geração moderna, pelo trabalho que dá por certos estados de saude dos mais idosos, não tem condição mais de cuidar em casa.
    Eu também não saberia cuidar de um idoso em estado grave, honestamente.
    Vamos pedir ao Senhor que nos dê um bom termo.
    A solidão e a saudade tentam destruir nossa alegria numa certa idade e, por isso, muitos se sujeitam a tudo.
    A dignidade não pode morrer. Não somos Sobra do Tempo. Somos apenas idosos. Embora muitos se fantasiem de moços por medo de serem rejeitados pela sociedade dada ao edadismo.
    Tenha um dia abençoado cheio de saúde e vida!
    Você é feliz por ter seus idosos juntinhos. Aproveite, querida.
    Beijinhos fraternos





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    1. Querida Roselia,

      Li sua mensagem com o coração tocado e com a escuta que só quem sabe da profundidade da vida é capaz de oferecer.
      Você fala de um Brasil que poucos têm coragem de olhar de frente: o da velhice vivida com lucidez e dignidade, mas sem respaldo. Fala de um país onde os corpos envelhecem, mas o sistema insiste em tratá-los como descartáveis. Onde a saúde se privatiza, a velhice se terceiriza, e a dor vira fila.
      Fiquei especialmente tocada pelo que disse da sua tia mulher admirável, forte, e que, no final, foi vencida não pela doença, mas pelo cansaço de quem não teve suporte para cuidar. Quantas histórias como essa passam diante de nós todos os dias, em silêncio… e quanta coragem há em não silenciar. Você tem razão: depois dos 7.0, tudo muda. Muda a pele, o ritmo, o olhar para o tempo mas também pode florescer uma liberdade nova. Uma sabedoria que nos liberta da ilusão de eternizar juventudes. Você não quer filhos presos ao seu cuidado, mas também sabe que amar é estar presente, e isso vale para os dois lados. A independência que busca é a mesma que muitos idosos sonham: não a solidão, mas o respeito pela sua autonomia. A dignidade não pode morrer, nunca.
      E sua frase ecoa forte em mim: “Não somos Sombra do Tempo. Somos apenas idosos.” Sim. E isso basta. Isso merece cuidado, atenção, políticas públicas, afeto, estrutura. Merece tudo o que é negado em nome de uma juventude que também vai passar.
      Você, com sua caminhada na orla, com o seu café da manhã e a oração feita ao céu azul, mostra que a vida continua bela, mesmo quando o corpo pede mais cuidado. Que bom que você se permite ainda esse prazer de viver, não apesar da idade mas com ela.
      Agradeço imensamente suas palavras. Elas são testemunho. E que o Senhor, como você tão bem disse, nos conceda um bom termo. Com lucidez, afeto e paz.

      Com respeito profundo e carinho verdadeiro,
      🙏🏻😘

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  4. É minha amiga Fernanda... A vida tem dessas coisas.
    Infelizmente o que você escreveu é muito real.
    Cada vez menos, as pessoas tem reconhecimento pelo que os país, avós ou pessoas mais velhas fizeram.
    E vai piorar, porque cada vez mais os pais não estão nem ai para os filhos.
    Terceirizam a educação e mais tarde vão colher os frutos.
    Isso sem contar os pais e mães que abandonam filhos.
    Fazem filhos loucamente e depois não conseguem criar.
    O mundo está muito louco, minha amiga.
    Esses filhos, criados ao léu, com certeza, não vão ter amor pelos idosos.
    Não vão suprtar os idosos e a roda vai girando assim.
    Você não viu o roubo do INSS? Isso deveria ser uma bomba nuclear de indgnação... Mas não! O jornal falou alguns segundos, os portais escreveram algumas linhas... Quanndo descobriram que o irmão do presidente estava nno meio... Toda a sujeira foi pra baixo do tapete.
    Eu assisto muitos programas e documentários de pessoas que rodam o mundo, e noto, que aqui no Brasil a coisa está degringolando, mas em outros países, o cuidado com os idosos é muito maior.
    Infelizmente a nossa sociedade está doente.
    O brasileiro está doente.
    Nós conseguimos levar para o segundo turno de uma eleição presidencial dois facínoras safados e o pior... Não tinha uma terceira via... Isso pra você ver como estamos perdidos!
    O problema é social.
    Educacional.
    Familiar.
    Você fez uma postagem muito boa aqui.
    Mais séria do que as que tem feito.
    Não teve o tom de alegria, mas teve o tom da consciência social!
    Você é uma pessoa do bem.
    Obrigado por ser minha amiga blogosférica!!!

    Um abração!

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    1. Querido Andre

      Que comentário forte, lúcido, cheio de verdades que doem mas que precisam ser ditas. Você tocou em feridas que muitos preferem esconder, talvez porque olhar para elas exige responsabilidade. E, como bem disse, vivemos tempos em que a responsabilidade tem sido terceirizada, esquecida, desidratada.
      Sim, é triste perceber como a roda do descaso gira: filhos não criados com afeto tornam-se adultos incapazes de amar, e assim seguem desprezando os próprios pais, os avós, os que vieram antes. A raiz está lá atrás, e a colheita amarga não tarda.
      O que mais me tocou foi sua frase: “o brasileiro está doente”. Está mesmo, Andre. Doente de egoísmo, de imediatismo, de amnésia afetiva. E a indiferença diante do roubo do INSS que é o suor de que trabalhou uma vida inteira mostra o quanto já naturalizamos o absurdo. É um sinal claro de anestesia coletiva. Mas sabe o que ainda me dá esperança? Palavras como as suas. Porque enquanto houver gente indignada com a injustiça, gente que se recusa a aceitar que isso é normal, ainda há chance de mudança. Ainda há solo fértil. Obrigada por caminhar comigo nesse espaço onde a consciência também tem vez. E sim às vezes é preciso deixar a leveza de lado para acender uma lanterna sobre aquilo que não pode mais ficar no escuro. Que bom ter sua amizade blogosférica lúcida, honesta e sempre presente.

      Um abração cheio de respeito,
      😘🙏🏻

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  5. Olá, Fernanda, essa sua crônica retrata com fidelidade o mundo abandonado dessas pessoas idosas e desamparadas.
    Os filhos que deixam seus pais nesses depósitos de velhos, amanhã farão parte deles. Esses filhos estão aprendendo o caminho da solidão, pois para esses pardieiros eles irão.
    Belíssima e verdadeira crônica!
    Votos de um bom fim de semana,
    beijo, amiga!

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    1. Querido Pedro,

      Que verdade dura e necessária você escreveu “esses filhos estão aprendendo o caminho da solidão”. Essa frase ressoa em mim como um aviso silencioso, quase profético. Porque o abandono, infelizmente, ensina. Ensina a repetir. O que fazemos com os nossos idosos é, no fundo, um retrato do que acreditamos sobre o valor da vida quando ela desacelera. E se a velhice for vista como sobra, como peso, então estamos negando o próprio futuro porque todos, cedo ou tarde, chegaremos lá.
      Obrigada pelo seu olhar atento e pela firmeza em nomear as coisas pelo nome certo. Não é fácil, mas é urgente. Seguimos escrevendo, denunciando, sonhando com uma sociedade que cuide mais e descarte menos.
      Um beijo grande e um fim de semana cheio de paz,

      🙏🏻

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  6. Querida Fernanda, esse é um assunto cabeludo, porém gosto de abordá-lo, e tudo que você escreve é a triste verdade. E tudo começa com duas palavrinhas:
    é proibido envelhecer!
    Então vemos montanhas de produtos antienvelhecimento, mais bisturis e outras coisas malucas e exageradas. Veja, não falo do normal, cuidar da pele etc, falo do medo de envelhecer e virar nada, um "produto que incomoda!" Que triste isso. Tenho visto tanta coisa, e que até tiram a alegria de viver, de envelhecer. Sim, asilos... pois é, jamais colocaria meus pais nessa solidão, não falo nos cuidados, mas na solidão, no afastamento da família, na fragilidade em que ficam na última etapa da vida. Saber que vamos partir já preocupa, mas antecipar o sofrimento... Meus pais faleceram conosco ao redor, fizeram 60 anos de casados. Meu pai faleceu primeiro, no hospital, todos nós juntos, pegando em suas mãos. Minha mãe faleceu um ano depois, morava no ap. do nosso lado, e sempre juntos. Faleceu de um AVC, não aguentou a falta de meu pai.
    Como está bem escrito essa sua crônica, amiga, todos os sentimentos contidos nela! Te aplaudo daqui!
    Beijinhos, toda a felicidade do mundo pra você!

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  7. Querida Taís,

    Você trouxe à tona algo que não se fala com a devida coragem: o pavor de envelhecer não porque o corpo muda, mas porque a sociedade decidiu que o velho não serve mais. Como se a vida tivesse prazo de validade estampado na testa, e depois dos 60 fôssemos todos devolvidos ao estoque. Sim, amiga, hoje o envelhecer é quase um delito. É proibido enrugar, é proibido andar devagar, é proibido ter memória longa. É proibido, acima de tudo, incomodar os que acham que viver é só juventude. Mas como você tão lindamente escreveu, é aí que mora a tragédia.
    Seu relato sobre o amor com que seus pais partiram me emocionou profundamente. Que bênção rara: morrer cercado por mãos conhecidas, por amor cotidiano, por dignidade. Esse é o tipo de fim que não é fim, mas coroação. Obrigada pelas palavras tão sensíveis e lúcidas. Aplaudo você de volta com gratidão, com ternura, com esperança.
    Que possamos seguir defendendo o direito de envelhecer em paz.

    Um beijo imenso,
    😘🙏🏻

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  8. Li pausadamente o que cada um escreveu e os seus acréscimos, Fernanda. Acompanhei o desenlace de minha mãe já em idade provecta, a do meu pai, a do meu sogro e da minha sogra. Dois irmãos e um cunhado. Todos foram bem assistidos não apenas na hora do desenlace, em todas as horas sempre houve cuidado e afeto. Mas é preciso reconhecer que a sociedade está desassistida em tudo; há muito que os políticos fazem uso do dinheiro público
    da forma que lhes convém.
    Da minha parte, faço o que está ao meu alcance, pois minha mãe nos educou ajudando o próximo. Perdi as contas das vezes que acompanhei minha mãe a levar um lençol para ajudar as obras de Irmã Dulce, na Cidade baixa, de Salvador. Lembro-me do viveiro que havia na entrada daquele abrigo, ainda não era um hospital. Ali eu ficava enquanto minha mãe parte fazia a sua caridade. Não preciso dizer que ela repartia o pouco que tínhamos, e era muito pouco. Aprendi a ter o olhar atento para a velhice e todos os que precisam desde menino.
    Fico por aqui porque falar dessas coisas mexe com um passado que me desequilibra e mostra a minha impotência diante dos desconcertos da nossa sociedade.
    Abraços, Nanda!

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    1. Querido Eros,

      Li tua mensagem com o coração quieto e os olhos marejados. Tua fala é memória viva, é testemunho, é também denúncia não de forma ruidosa, mas serena, como quem conhece a dor por dentro e, mesmo assim, escolhe seguir fazendo o bem. Me tocou profundamente a imagem da tua mãe levando lençóis para as obras de Irmã Dulce. Essa cena simples, mas tão grandiosa, diz tudo sobre o amor concreto, aquele que não se anuncia em discursos, mas se dobra em gesto. O viveiro onde você esperava… imaginei ali o menino que crescia observando o que mais importa: o cuidado com o outro. E entendi de onde vem esse teu olhar atento, esse compromisso silencioso com a dignidade humana. Sim, a sociedade está desassistida. Sim, há um desencanto que parece nos desorganizar por dentro. Mas tua lembrança, teu relato, tua sensibilidade tudo isso me reconforta. Porque enquanto houver pessoas como você, ainda haverá esperança.
      Obrigada por compartilhar algo tão íntimo, tão verdadeiro. Fico aqui com tua última frase, sentindo o que ela carrega e segurando tua mão, ainda que de longe. Com carinho e respeito,

      Nanda😘🙏🏻

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)