Sabe aquela amiga que, do nada, solta um desabafo no meio da conversa mais banal? Você está falando de receita, de trânsito ou até do preço da feira… e, de repente, ela abre o coração como se estivesse diante de uma psicóloga. Já percebeu isso?
É que confiança não pede hora marcada. Ela aparece no instante em que o coração não aguenta mais guardar sozinho. E, por algum motivo, você se torna a escolhida não porque tem todas as respostas, mas porque transmite silêncio, escuta e presença.
Às vezes pensamos que amizade se mede pelas risadas compartilhadas, mas ela também se mede pelo peso das lágrimas que alguém confia em deixar cair diante de nós.
Ser ouvinte de um desabafo é um privilégio disfarçado de responsabilidade. É como segurar um vaso frágil, com cuidado, para que não se quebre ainda mais.
E sabe o que é bonito? No fim, não é sobre dar conselhos infalíveis. É sobre estar ali, inteira, quando o outro precisa. Confiança é isso: a alma encontrando um lugar seguro para descansar.
Fernanda
Porque, no fundo, confiança é quando o coração do outro se sente em casa no nosso.
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)