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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

24 novembro, 2025

A historinha que venceu o medo

Aleatoriamente um toque de poesia





Hoje, a manhã foi corrida, como quase sempre na pediatria, mas havia ali um silêncio diferente o silêncio tenso de um menino miúdo, apertado no colo do pai, com os olhos bem abertos e o corpo encolhido como quem tenta desaparecer. Um dos episódios foi este.

Não quero! ele sussurrou, mas daquele jeito que dura mais que um grito.

O pai me lançou aquele olhar cansado de quem já tentou tudo. E eu senti, como sempre, a mãe que mora em mim despertar devagar, ajeitando o jaleco por dentro do peito.

Sentei-me ao lado deles, na altura dos olhos do pequeno, e perguntei:

Posso te contar uma história de um menino tão corajoso quanto você?

Ele hesitou. As mãos suadas apertavam a camiseta do pai. Mas a curiosidade é uma porta que as crianças deixam sempre entreaberta.

Quando ele deu um “talvez” silencioso com o queixo, comecei:

Era uma vez um menino que tinha medo da agulha. Ele dizia que a agulha era uma bruxa terrível, com um nariz pontudo que picava. Mas um dia, descobriu um segredo: a agulha era, na verdade, uma fada disfarçada. Ela só dava um sustinho para deixar o corpo mais forte, igual quando um super-herói recebe um poder novo…

Os olhos dele se mexeram primeiro desconfiados, depois atentos.
Continuei:

e a fada só aparece para crianças especiais, daquelas que têm coragem escondida no peito. Igual a você, que está segurando esse medo com as duas mãos.

Nesse momento, o corpo dele se soltou um pouco.
A respiração ficou mais lenta, como quem decide ainda com reservas acreditar.

A fada vem agora? ele perguntou, baixinho.

Vem. E é rápida. Faz plim e vai embora.

Ele estendeu o braço para o meu colo por conta própria, como quem oferece confiança. Enquanto eu preparava tudo, ele me olhava, esperando o momento exato do “plim”.

Eu mesma quis aplicar.
A aplicação foi rápida, quase um sopro.

Já foi eu disse.

Ele piscou, surpreso. Depois abriu um sorriso pequeno, mas vencedor, desses que se acendem primeiro nos olhos.

Eu sabia que era fada afirmou, cheio de si.

O pai respirou aliviado. Eu também.

No final, enquanto saía pela porta, ele me disse:

Tia, amanhã posso vir de novo?
Ri.

Pode vir… mas só para me contar outra história.

Ele acenou, com a alegria leve de quem descobriu que coragem, às vezes, é apenas uma historinha dita na hora certa.

Cheguei em casa, tomei um banho maravilhoso e fui fazer o que mais amo. Contar pra minha turminha uma real e linda história do dia da mamãe deles.😉



Fernanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)