No café do intervalo, o dia mal tinha começado a respirar quando uma senhora, com olhos tão gentis quanto cansados, se aproximou de mim e perguntou se podia sentar na minha mesa. O refeitório estava cheio, barulhento, quase um "mar" se espremendo em busca de um gole de café e um minuto de descanso. Eu sorri. Ela sentou. E foi ali, naquela mesa apertada, que o céu inteiro pareceu se inclinar para ouvir.
Enquanto mexia o açúcar na xícara, aquela senhora comentou sobre a nora ou sobre o silêncio dela, não lembro ao certo. Mas lembro da dor escondida. De como as palavras vinham com cuidado, como quem tem medo de se ferir com o que diz.
E eu pensei, naquela hora:
O que realmente é uma nora? O que realmente é uma sogra?
Talvez a sociedade tenha transformado essas duas mulheres em personagens de guerra, quando, na verdade, elas são um elo. Uma, não entra na vida da outra, apenas para entregar ou receber o seu filho. Não é isso. Não pode ser só isso. Elas fazem parte da mesma família, mesmo que a convivência seja breve, mesmo que o caminho seja "torto".
Mas hoje… hoje, o que mais se ouve são piadas maldosas, comentários ácidos, palavras que machucam antes mesmo de serem entendidas. Que tristeza essa mania de dividir, como se amor tivesse fronteiras, como se laços fossem propriedade privada.
E as noras? E as sogras?
Por que esse duelo sem sentido?
Por que esse ciúme, essa posse, esse apego doente a um “meu” que nunca foi de ninguém?
Acho que está passando da hora de a gente se vacinar contra esse mal um antídoto simples, feito de respeito, conversa e essa humildade bonita de admitir que ninguém perde quando o amor se multiplica.
Enquanto a senhora falava, eu olhei pela janela do refeitório e o céu estava ali, desenhando formas no meio do cinza. Parecia até que alguém lá de cima rabiscava um lembrete suave: “Família não é disputa. É encontro.”
Quando ela levantou, deixou na mesa um rastro de humanidade. E eu fiquei pensando que talvez fosse esse o verdadeiro propósito daquele pedido tão simples:
Posso sentar na sua mesa?
No fundo, não era sobre lugar.
Era sobre espaço.
Espaço para ser vista, para ser ouvida, para ser aceita como sogra, como nora, como mulher, como gente.
E o céu, sempre atento, parecia sussurrar pelos desenhos nas nuvens:
“Quando duas mulheres se encontram sem armas, só com o coração… a família inteira respira mais leve.”
E eu respirei também, porque minhas sogras são também umas mães.😉
Fernanda
Que lindo quando pessoas nos escolhem para abrir o coração e conseguimos ajudá-las com algo tão simples como ouvir...
ResponderExcluirTriste esse relação quando conflituosa é. Mas aconteeeeeeece nas melhores famílias,rs...
boa noite, beijos, tudo de bom,chica