Não sou de direita nem de esquerda. Não carrego bandeiras que separam, nem leio o mundo apenas em cores ideológicas. Sou humanista. E, no fundo, percebo que ser humanista é uma jornada silenciosa, um modo de caminhar pela vida com atenção aos detalhes que muitos desprezam.
O humanismo se revela nos pequenos gestos: o vizinho que ajuda a carregar sacolas pesadas sem esperar aplausos; a senhora no ponto de ônibus que sorri para o jovem tímido; o homem que devolve a carteira perdida sem pensar em recompensa. São atos quase invisíveis, mas são eles que desenham a verdadeira política da vida a política do cuidado, da empatia, do respeito pelo outro, sem distinção de cor, classe, crença ou credo.
Ser humanista é perceber que cada ser humano é um universo complexo, cheio de histórias, medos, dores e sonhos. É ouvir sem julgar, compreender sem condescendência e agir sem esperar retorno. É acreditar que, antes de ideias, partidos ou teorias, está a humanidade compartilhada, aquele fio invisível que nos liga todos, que nos torna responsáveis uns pelos outros.
No trânsito, na fila do pão, na sala de espera do hospital, na praça, no olhar de uma criança que ainda não conhece a maldade: o humanismo se esconde nesses instantes simples e poderosos. Ser humanista é lutar contra a indiferença, é recusar a violência silenciosa das palavras, da intolerância, do desdém. É lembrar, todos os dias, que ninguém é apenas seu cargo, sua ideologia ou sua posição social todos somos gente, apenas gente.
E talvez, se mais pessoas vissem o mundo por esse prisma, perceberiam que a verdadeira grandeza não está em vencer debates ou impor pensamentos, mas em cultivar a dignidade, a compaixão e a justiça, mesmo quando ninguém está olhando.
Porque, no fim, ser humanista é entender que o essencial não se escreve em leis nem se anuncia em discursos: ele se vive, se sente, se pratica. É a arte silenciosa de transformar o mundo, não com poder, mas com humanidade.
Fernanda
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)