25 de dezembro tem cheiro de pausa.
Não é feriado, nem missa, nem ceia que definem é uma fresta.
Um lugar onde o tempo escorre mais devagar, como se o relógio tivesse tirado os sapatos para não fazer barulho no piso da alma.
É o dia em que a gente percebe que não precisa performar alegria.
Que pode existir tristeza sem culpa, esperança sem certeza, amor sem plateia.
O 25 é um corredor entre mundos: o que fomos e o que ainda tentamos ser.
Alguns corações tocam sinos, outros se recolhem como quem guarda uma vela que insiste em apagar.
Há quem colecione sorrisos na varanda, e quem precise respirar fundo antes de abrir a porta.
Hoje, o mais sincero talvez seja não tentar caber em moldes. Deixar a mesa com uma cadeira vazia sem fingir que não pesa. Fazer brinde com água, com café, com lágrima tanto faz.
Porque ritual é aquilo que faz sentido, não o que se espera.
25 de dezembro é uma lanterna acesa num dia claro. Serve para lembrar que dentro de nós há caminhos que só iluminam por dentro e que às vezes, só por isso, já é suficiente.
Fernanda
No fundo, o texto convida a pensar o 25 de dezembro como um abrigo emocional um lugar onde cada um pode estar, como puder, com amor suficiente para se acolher. É a lembrança de que o Natal é menos sobre o mundo que nos olha e mais sobre o mundo que carregamos por dentro.
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)