✿Aguarde os próximos capítulos...✿

Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

30 maio, 2025

As Coisas Que o Asfalto Me Ensinou

Aleatoriamente um toque de poesia



Conheci na rua pessoas cheias de bondade.
E não falo de bondade bonita de se ver em vitrine, não. Falo da bondade crua, real aquela que vem de mãos sujas, mas coração limpo. Gente que dividia o papelão no frio, sem perguntar de onde eu vinha, sem querer saber meu nome completo.

Dividia porque sabia o que era não ter. E quem sabe o que é não ter, entende o valor de qualquer pouco.
Lembro de um moço que enrolava o corpo magro com uma manta furada e ainda assim abria espaço do lado, como se fosse um sofá de família. Tinha um senhor que guardava um pedaço de pão doado pra dividir com a menina que vendia bala no sinal. A rua não tinha teto, mas por vezes tinha teto nos gestos. Era lá que eu via, sem ninguém precisar me ensinar, o que era ser gente. Um fato que trago comigo como relíquia: Eu achava folhas soltas no lixo. Folhas amassadas, cadernos rasgados, papéis esquecidos. E com elas, fazia meus diários.

Ali, escrevia minha vida como quem se desenha pra não desaparecer.
Como quem escreve pra existir um pouco mais.
As letras vinham tortas, tímidas, mas eram minhas.
Aprendi a ler “sozinha” entre aspas mesmo, porque hoje eu sei que não estava só.
Foi o Senhor do alto que me ensinou. Foi Ele quem soprava sentido nos sons que eu lia com os olhos apertados, à luz de poste, com fome. Ele que me fazia entender o que estava além da palavra. O que estava dentro dela. 

Naquela época, eu ouvia o que os outros diziam sobre bondade.
Frases soltas, conselhos que escapavam das bocas alheias, falas que passavam voando. 
Mas eu colhia tudo. E achava aquilo a coisa mais maravilhosa do mundo.
Ser do bem. Poder ser do bem, mesmo sem ter.
Isso me encantava de um jeito difícil de explicar.
E foi ali, entre um papelão e uma folha rasgada, que eu prometi pra mim:
“Eu sempre vou ser do bem.”

Não importava o que eu não tivesse. 
Nem os nomes que me chamassem.
Nem quantas portas fechassem.
Ser do bem era a única coisa que ninguém podia me tirar. 
Era a minha escolha. Era a minha liberdade.

7 comentários:

  1. Querida amiga Fernanda, boa noite!
    Fazia tempo que não me emocionava tato ao ler um post e por uma única frase que vou lhe partilhar e nada mais, hoje:

    "E quem sabe o que é não ter, entende o valor de qualquer pouco."

    Estou aqui em lágrimas e não quero adentrar na noite assim, sobretudo, ao pensar... em tantos nadas que não tive, ainda não tenho e, talvez, nunca mais tenha.
    Desculpe-me misturar minhas lágrimas ao meu e ao seu escrito.
    Vou tentar aliviar meu coração com outros escritos que menos falem ao meu coração.
    Como você, posso ser até ser ridicularizada, mas optei, há muito, pelo bem e ninguém vai me tirar do caminho dele.
    Fique com Deus, querida!
    Saio sufocada pela emoção, mas livre pela opção que ambas fizemos um dia e não abrimos mão.
    Tenha um abençoado final de semana!
    Beijinhos fraternos de paz


    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Roselia,
      suas palavras me tocaram como quem chega devagar e acende uma luz no escuro.
      Não há o que desculpar quando o que transborda é verdade. Suas lágrimas também são oração e ecoam em tantas outras almas que já conheceram o “quase nada” e, mesmo assim, escolheram o bem.
      Que bom que você sente. Que bom que você permanece.
      Também sigo nesse caminho com fé, mesmo quando falta chão.
      Obrigada por repartir sua dor com tanta beleza e coragem.

      Um abraço apertado, desses que não se dizem só com os braços,
      Fernanda 🙏🏻

      Excluir
    2. Obrigada, querida, por respostas sempre carinhosas

      Voltei para lhe trazer um convite:
      https://amorazul01.blogspot.com/2025/05/castelo-libertador-mes-dos-enamorados-1.html

      Sinta-se livre para participar, se desejar.
      Abençoado junho

      Excluir
  2. Impressionantes as vivências e lições que trazes daqueles dias. Que bom encontraste pessoas boas com ou sem teto... E imagino a força de vontade para aprender "sozinha" as lições da vida e escrever... Conseguiste ser e continuar do bem, graças à Deus! Lindo,Nanda! beijos, chica

    ResponderExcluir
  3. Chica querida,
    tua presença aqui sempre me aquece o coração.
    Sim… foram dias duros, mas também cheios de aprendizados que não se esquecem. Encontrei gente boa onde menos se espera e isso me ensinou a não julgar o valor de uma vida por onde ela dorme.
    Escrevi como quem acende vela no escuro, tentando entender o mundo e a mim mesma. E é como você disse: graças a Deus, consegui seguir pelo caminho do bem e sigo tentando, um dia de cada vez.

    Obrigada por ler com o coração.
    Beijos com carinho!
    Nanda!

    ResponderExcluir
  4. Olá, Nanda,
    Essa história fez-me lembrar de Charles Dickens que é o mesmo que pensar na sua dignidade humana; que é pensar, não pela força, mas pela lucidez, na recusa à mentira, pela atenção silenciosa à dor dos outros. Você sabe (aprendeu desde cedo) que a atenção é a forma mais rara e mais pura de generosidade. Eles não querem ser vistos como objeto de pena, e sim como alguém que sofre mas é livre, e, justamente por isso, ainda pode escolher. Mais uma vez, o seu texto, além da beleza da linguagem, é uma lição de vida. A compaixão verdadeira exige maturidade. Não é indulgência nem desculpa. É ver o outro como alguém que sofre, sim, mas que continua livre. A pessoa não pode ser reduzido ao seu sofrimento ou aos seus méritos. A grandeza está na aitutude responsável diante da queda. Noutras palavras, aqui se lê uma reverência diante da alma humana.
    Um afetuoso abraço, Nanda!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eros, querido,

      Você tem esse dom raro de escavar palavras com o cuidado de quem sabe que há diamantes na alma humana. O que disse me tocou profundamente porque, sim, é isso: a dor não quer plateia, quer presença. Não quer piedade, quer respeito. E a liberdade de quem sofre, mesmo em ruínas, é algo sagrado. Obrigada por me ler com essa escuta tão fina, tão inteira. Dickens, como você bem lembra, escrevia com os olhos molhados de mundo, e talvez seja essa também a forma como tento escrever com reverência, como você disse, diante da alma que pulsa, mesmo em silêncio.

      Abraço apertado, com toda a gratidão,
      Nanda!

      Excluir

depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)