✿Aguarde os próximos capítulos...✿

Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

10 maio, 2025

O que veio antes do colo

Aleatoriamente um toque de poesia
Diário 



Cada filho que adotamos foi antes um gesto do meu coração apaixonado. Eu os quis com uma urgência feita de lembrança, de ausência. Eles também nos quiseram como se nos reconhecêssemos num espelho de afetos não vividos. O carinho, as histórias, os olhares… tudo me lembrava a menina que fui. E que ninguém olhou com ternura.

Fugi pequena demais daquele lugar que chamavam abrigo, mas que me feria com milho nos joelhos e castigos como rotina. As ruas me deram liberdade. Tive o céu como teto, as estrelas como companhia, e a lua como vigia. Dormia nos bancos das praças, escondia folhas na igreja páginas arrancadas do mundo onde eu começava a escrever minha história. Aprendi a sobreviver entre papelões e sonhos, com o rosto pintado de graxa e o corpo moldado ao concreto frio. Aos 14, conheci meus pais adotivos. Eu já sabia ler, escrever, e carregava nos olhos a fome de futuro. Estudava onde me deixavam entrar, graças à compaixão de adultos que viam em mim algo que eu mal sabia nomear: esperança.

Mas mesmo na sala de aula, o mundo seguia me julgando. Faltavam-me os sapatos. Eu ia com sandálias de correias trocadas, os pés marcando o chão, mas o olhar firme. Nunca foi fácil. O descaso doía mais que a falta  mas nunca apagou o desejo de pertencer.

Hoje, quando olho para meus filhos, vejo neles o abraço que esperei um dia. E percebo que cada colo que dou a eles é também o colo que faltou em mim e que agora, enfim, encontro.


4 comentários:

  1. Tão sensível o que escreveu e onde podemos supor que não teve uma infância fácil. Gostei quando diz: "Hoje, quando olho para meus filhos, vejo neles o abraço que esperei um dia. E percebo que cada colo que dou a eles é também o colo que faltou em mim e que agora, enfim, encontro. Tão belo e a tocar-me o coração. Que tudo lhe corra bem.
    Um dia muito abençoado. Um beijo.

    ResponderExcluir
  2. Boa tarde:- Lindo poema. Gostei de ler. Deixo o meu elogio
    .
    Domingo feliz, com Saúde e Paz.
    .
    Poema: “ Abra o coração ao amor “ .
    .

    ResponderExcluir
  3. Olá, querida amiga Fernanda!
    Lendo e olhos lacrimejando aqui...
    Lembrei-me dos abraços dos filhos, do eu te amo, mãezinha...
    Endossa uma vida sem amor.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos fraternos de paz

    ResponderExcluir
  4. Uma historia que podemos dizer linda, apesar de carregar uma injustiça da sociedade, mas há sempre uma mão, um coração que cabe uma pessoas louca para pertencer. Sua historia me comoveu desde a conheci a alguns longos anos atrás. E sei que mais historias tristes e alegres voce foi coletando nesta travessia.
    Saber do passado e fazer no presente é arte minha amiga. O futuro será mais leve.
    Bjs

    ResponderExcluir

depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)