Cada
filho que adotamos foi antes um gesto do meu coração apaixonado. Eu os quis com
uma urgência feita de lembrança, de ausência. Eles também nos quiseram como se
nos reconhecêssemos num espelho de afetos não vividos. O carinho, as histórias,
os olhares… tudo me lembrava a menina que fui. E que ninguém olhou com ternura.
Fugi pequena
demais daquele lugar que chamavam abrigo, mas que me feria com milho nos
joelhos e castigos como rotina. As ruas me deram liberdade. Tive o céu como
teto, as estrelas como companhia, e a lua como vigia. Dormia nos bancos das
praças, escondia folhas na igreja páginas arrancadas do mundo onde eu começava
a escrever minha história. Aprendi a sobreviver entre papelões e sonhos, com o
rosto pintado de graxa e o corpo moldado ao concreto frio. Aos 14, conheci meus
pais adotivos. Eu já sabia ler, escrever, e carregava nos olhos a fome de
futuro. Estudava onde me deixavam entrar, graças à compaixão de adultos que
viam em mim algo que eu mal sabia nomear: esperança.
Mas mesmo na
sala de aula, o mundo seguia me julgando. Faltavam-me os sapatos. Eu ia com
sandálias de correias trocadas, os pés marcando o chão, mas o olhar firme.
Nunca foi fácil. O descaso doía mais que a falta mas nunca apagou o desejo de pertencer.
Hoje, quando
olho para meus filhos, vejo neles o abraço que esperei um dia. E percebo que
cada colo que dou a eles é também o colo que faltou em mim e que agora, enfim,
encontro.
Tão sensível o que escreveu e onde podemos supor que não teve uma infância fácil. Gostei quando diz: "Hoje, quando olho para meus filhos, vejo neles o abraço que esperei um dia. E percebo que cada colo que dou a eles é também o colo que faltou em mim e que agora, enfim, encontro. Tão belo e a tocar-me o coração. Que tudo lhe corra bem.
ResponderExcluirUm dia muito abençoado. Um beijo.
Boa tarde:- Lindo poema. Gostei de ler. Deixo o meu elogio
ResponderExcluir.
Domingo feliz, com Saúde e Paz.
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Poema: “ Abra o coração ao amor “ .
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Olá, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirLendo e olhos lacrimejando aqui...
Lembrei-me dos abraços dos filhos, do eu te amo, mãezinha...
Endossa uma vida sem amor.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos de paz
Uma historia que podemos dizer linda, apesar de carregar uma injustiça da sociedade, mas há sempre uma mão, um coração que cabe uma pessoas louca para pertencer. Sua historia me comoveu desde a conheci a alguns longos anos atrás. E sei que mais historias tristes e alegres voce foi coletando nesta travessia.
ResponderExcluirSaber do passado e fazer no presente é arte minha amiga. O futuro será mais leve.
Bjs