Antes de Jesus tocar a Terra, o mundo parecia andar no escuro como essas noites nubladas em que a lua tenta aparecer, mas é abafada pelas nuvens que não sabem se são sombra ou chuva. Havia leis, templos, palavras. Mas também havia silêncio. Um silêncio denso, não o silêncio da paz, mas o da espera.
Esperava-se algo. Alguém. Um gesto. Um milagre talvez. Era como se a humanidade andasse tateando o sagrado sem saber onde estava a porta. Havia os que gritavam nos desertos, os que negociavam com deuses esculpidos e os que apenas sobreviviam ao peso de existirem. A Terra estava grávida de uma promessa e cada geração se perguntava se aquele seria o tempo do nascimento.
E então, Ele entrou.
Não chegou com trovões, embora o céu inteiro parecesse sussurrar sua vinda. Veio como um bebê. Pequeno demais para o tamanho da esperança que carregava. Veio entre animais e panos simples, numa noite em que o universo se ajoelhou em silêncio finalmente, o silêncio certo.
Depois de Jesus, a Terra nunca mais dormiu do mesmo jeito. Os que estavam cegos passaram a ver, mas não apenas com os olhos. Os que andavam se detiveram para escutar. O amor deixou de ser ideia e virou ação. A cruz aquele instrumento de vergonha foi tomada pela glória de alguém que escolheu perder para que outros ganhassem. O tempo, esse relógio teimoso, passou a ser dividido entre antes e depois d’Ele.
Antes, éramos expectativa.
Depois, somos consequência.
Porque depois de Jesus, nada mais é comum. O pão é memória. A água é promessa.
E o outro mesmo o estranho, o inimigo é irmão.
Talvez essa seja a maior revolução: Jesus não mudou só a história. Mudou o jeito de contar.🙏🏻
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)