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01 junho, 2025
Dona Matilde e o café da manhã
8 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Tão lindo,Nanda!
ResponderExcluirEu tive uma pessoa assim na vida.Era minha tia Hilda. Lá na casa dela, parecia o tempo permanecia sempre igual. Nada de pressas, tão bom era!
Adorei lembrar!Feliz JUNHO! beijos, chica
Ah, Chica querida…
ExcluirQue delícia imaginar essa tia Hilda com sua casa onde o tempo parecia repousar mais devagar. Dá até pra sentir aquele silêncio bom, de janela aberta, cheiro de bolo no forno e coração em paz. Essas pessoas são verdadeiros refúgios, né? Acolhem a gente com um jeito que nem precisa de palavras… só o ritmo calmo já ensina a viver melhor.
Fico tão feliz que o texto tenha te feito lembrar dela. A memória da gente é assim: um jardim cheio de afetos plantados, e às vezes basta uma brisa de palavras pra fazer tudo florescer de novo. Obrigada por dividir esse pedacinho da sua história comigo. Que o seu junho seja leve como os dias na casa da tia Hilda com menos pressa e muitos cafés demorados!
Beijos com carinho,
Fernanda!
Olá, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirInteressante coincidência.
Estava eu hoje a sós com meus botões quando uma amiga de 7.8 me ligou me chamando para um café.
Nada programado estava, disse-lhe que sim e fui.
Entre café quentinho, pãozinho, queijo, bolo delicioso, surgiu o assunto da irmã de 8.2 que acabou de entrar numa casa de idosos de nível bom e bem paga, por sinal.
Ela estava tão triste, mas não pode assumir a mana pela sua condição também debilitada.
Sabe, tenho amigas bem idosas, muito mais do que eu, com elas aprendo muito, a maioria é de bem com a vida, cuida da saúde, tomamos vários cafés juntas, passeamos em lugares próximos, dentro do nosso Estado, no fundo é como você bem disse, elas gostam de estar comigo, mas creio que não sabem o quanto me fazem um bem enorme, adoçam minha vida, visto que os cafés não os adoçamos.
O afeto trocado entre nós é super importante para nossa saúde em todos do níveis.
Por isso respondi o convite de hoje mesmo sem ter vontade de início. Não deixei transparecer, estava até ocupada com meus escritos e fui ser e fazer feliz, vi que era mais importante.
Vale muito a pena como você disse aqui.
Tenha um anoitecer abençoado!
Beijinhos fraternos num junho feliz
Querida Roselia,
ExcluirQue delícia te ler…
Seu comentário é quase uma continuação viva do meu texto, como se as palavras tivessem atravessado a tela e se sentado aí, junto de você e suas amigas, com cheiro de café quentinho e bolo compartilhado.
Essa sua escolha de sair mesmo sem muita vontade, de escutar a amiga, de simplesmente estar me emociona profundamente. Porque é isso: o afeto é remédio invisível. Ele aquece os cantinhos frios da alma, mesmo quando a xícara está sem açúcar. E há uma sabedoria silenciosa em quem percebe isso com o coração aberto. Essas senhoras com quem você convive são, sem dúvida, presentes do tempo. E você também é um presente para elas, mesmo que nem sempre se perceba assim. Às vezes a vida nos junta em encontros tão simples que parecem pequenos… mas que, na verdade, são grandes moradas de cura.
Obrigada por dividir essa história comigo. E por me lembrar com tanta ternura que vale mesmo a pena responder ao chamado do amor, mesmo quando o corpo hesita. Você foi e fez bem. E ainda voltou com esse brilho de quem sabe que ser presença é uma das formas mais bonitas de amar. Um abraço com cheirinho de pão recém-saído do forno e muitos afetos espalhados num junho cheio de luz.
Com carinho sempre,
Fernanda
Ah, essas conversas são sempre muito boas com pessoas que você gosta de estar. Isso acontecia muito com meu sogro quando ele ainda estava vivo.
ResponderExcluirEduardo, que bonito isso que você trouxe…
ResponderExcluirEssas conversas cheias de afeto e presença deixam marcas profundas, não é?
É especial quando a lembrança de alguém querido se mistura à ternura de um café, de uma escuta, de uma manhã tranquila.
Fico feliz que o texto tenha te feito lembrar dele. Obrigada por partilhar
Abraço,
Fernanda!
Nanda, querida, que legal essa recolha. Conversava muito com HP, um contista extraordinário, premiadíssimo. Era um privilégio tê-lo como amigo. Ouvi muitas histórias dele. Uma dessas vezes, em que conversássemos animadamente, Maria, sua fiel escudeira, sumiu do seu campo de visão. Ao perceber aquela perda momentânea, ele me perguntou: "e a minha Maria, não posso perdê-la, Zé" e emendou uma conversa sobre a presença de Maria na sua vida. De fato, Maria era um pouco mais moça do que ele (não tanto), mas havia uma cumplicidade e intensidade na relação deles. Quantas vezes, nos reunimos para "trocar" histórias.
ResponderExcluirEle era o pena de prata do jornal A Tarde, cronista de mão cheia. HP é abreviatura de Hélio Pólvora.
Abraços, Nanda!
Eros, querido,
ExcluirQue delícia de partilha. Posso quase ver a cena: HP com seu jeito vivo, interrompendo a conversa ao notar a ausência de Maria não por desatenção, mas por aquele tipo de presença que, quando falta, faz o mundo perder um pouco o prumo. Essas histórias têm perfume de saudade boa, daquelas que não pesam, mas aquecem. E que bela memória você guardou não só dele como escritor premiado, mas do homem que amava, que ria, que se perdia em conversas e reencontrava o rumo nos olhos de Maria. Obrigada por trazer esse recorte. Fez florescer algo bonito por aqui.
Abraços com carinho ,
Nanda