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04 junho, 2025
Dona Vânia e os Dois Quintais
8 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Querida amiga Fernanda, novo momento de me emocionar.
ResponderExcluirTive uma idosa que eu viajava de um Estado para o outro a fim de ficar uns dias, ela era da família e não gostava de mim, aliás de ninguém. só de uma filha, mesmo assim eu vinha. Fazia até faxina na casa grande, tecia e preparava os ouvidos para ouvir falar mal de toda família e de todos que eu gostava, inclusive dos meus filhos.
Assim, foram anos... ate que um belo dia ela me deu tapas na mão... eu saí e fui me desabafar com meu padrinho.
Não teve jeito, ela só queria o amor de uma única pessoa e de ninguém mais.
Foi a pessoa da família que abri mão ou apanharia até pela sua agressividade muito forte.
Idosos com temperamento agressivo é um problemão gigante.
Por que me emocionei quando li seu post?
Porque já não sou moça, a velhice chega de mansinho e eu tenho as palavras como companheira amorosa, elas são minhas melhores amigas.
Você faria muito bem se a "adotasse" e me pareceu ao ler seu post, que ela é dócil. Se for real a adoção, não só um conto cheio de emoção e amor universal, sei que vai ganhar ao lhe dar amor.
Normalmente, amor com amor se paga, logo...
São algumas exceções que me deixam emocionada. É muito trise querer amar e não ser amada.
Tenha um bom discernimento e final feliz para o que nos partilha
Dias abençoados lhe desejo de coração.
Beijinhos fraternos de paz e bem
Querida Roselia,
ExcluirLi teu comentário com o coração apertado e os olhos marejados. Quanta dor há nessas memórias, e, ainda assim, quanto amor tentaste oferecer mesmo onde o solo parecia tão duro e ingrato. Fico tocada pela tua entrega, pela tua coragem de atravessar anos tentando doar o que, muitas vezes, nem era acolhido. Isso é força de alma, minha amiga.
Sim, o texto fala de uma história real, e sim, ela é dócil. Mas mesmo a docilidade carrega suas sombras, e sei que velhices difíceis podem surgir mesmo com rostos suaves.
Mas eu gosto de seguir meu coração. E ele me diz sempre onde posso caminhar.
Que tua partilha sirva para tantos que, como tu, se doaram até o limite por puro amor, mesmo sem retorno. E que tua amizade com as palavras siga sendo farol nessa travessia que também me alcança.
Recebo teus desejos com gratidão e retribuo: que a paz e o bem te acompanhem sempre.
Um beijo fraterno e com carinho no coração.
Bom dia:- Muito interessante de ler. Deixo o meu aplauso e elogio
ResponderExcluir..
“” Saudações poéticas – Feliz Quinta Feira ““
.
Obrigada amigo!
ExcluirAbraço!
Só posso torcer por ti e pela boa convivência com D.Vânia que na certa. não merece o que está passando por lá! Teu coração é grande e ela já está nele! Boa sorte! Parabéns pelo lindo gesto! beijos, chica
ResponderExcluirChica querida, obrigada pelo carinho de sempre! ❤️
ExcluirDona Vânia chegou como quem não quer nada, mas trouxe com ela um silêncio antigo, cheio de histórias não contadas… E sim, já mora aqui dentro, no cantinho do coração que guarda os que precisam de acolhida. Às vezes penso que é a vida quem costura esses encontros e que, de alguma forma, todos estamos sendo cuidados quando decidimos cuidar.
Obrigada por torcer, por sentir junto, por essa doçura que atravessa as palavras.
Seguimos por aqui, fazendo o que dá com afeto, com escuta e com essa vontade teimosa de não deixar ninguém sozinho.
Beijo grande no seu coração!😘
Esse é um problema recorrente. O jeito que nossa vida está hoje formatada, muitas vezes levam a que filhos tomem certas medidas aos pais idosos.
ResponderExcluirAbandono simplesmente é cruel, desumano. Total falta de amor com quem deu a vida e fez tudo pelos filhos. Porém, muitas famílias não são capazes de cuidar de um idoso doente em casa. Hoje em dia homens e mulheres disputam o mercado de trabalho, consequentemente, filhos e idosos sempre sofrem algum tipo de "abandono". Pra isso se criaram as creches e asilos.
Quem tem condições e leva seu idoso para uma boa casa de acolhimento sem todavia abandoná-lo, para mim não deveria ser julgado. Cada um sabe do que pode e do que não pode fazer.
Mas ainda bem que dona Vânia cruzou seu caminho. Certamente terá de você a atenção e o carinho que os próprios filhos não lhe têm.
Pessoas idosas são um baú de tantas histórias, tantas lutas, derrotas e vitórias. Eu gostava muito de ouvir as histórias do meu sogro e do avô da minha esposa, que faleceu aos 102 anos de idade. Chegou a essa idade muito bem mas com o coração fraco. Internou-se e não voltou, se despediu da vida tranquilamente e minha esposa estava ao seu lado.
Abandono sim, esse é cruel.
Eduardo, que comentário sensato e tocante o seu.
ResponderExcluirVocê trouxe algo muito importante: a diferença entre abandono e limitação. Nem sempre a ausência física significa descaso, e nem sempre a presença garante cuidado. Há filhos que, mesmo à distância, seguem sendo amor, cuidado e presença de outras formas lá no abrigo acontece isso sim e há outros que, mesmo ao lado, não enxergam mais aquele pai ou aquela mãe como alguém que ainda sente, sonha, espera. O problema, como você bem colocou, está no abandono. Esse sim é uma ferida silenciosa, uma espécie de orfandade ao contrário quando é o pai ou a mãe que se vê sozinho, esperando por alguém que não volta mais.
Eles vão embora do Estado no caso. Dona Vânia me encontrou, ou eu a encontrei, não sei ao certo. Mas há encontros que a vida costura com fios de sentido. Ela não tem muito, mas tem uma dignidade imensa. Tem memórias, tem um olhar que carrega um mundo. E sim, os idosos são mesmo esse baú que você mencionou: frágeis por fora, imensos por dentro.
Obrigada por compartilhar sua vivência com o avô da sua esposa. Me tocou imaginar essa despedida tão serena, com amor presente até o último instante. Que bom que ele teve isso. Seguimos, quem sabe, tentando não abandonar nem os outros, nem o que em nós ainda precisa ser visto com mais ternura.
Um abraço com respeito e gratidão pelas suas palavras.
Obrigada 🙏🏻