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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

11 junho, 2025

Entre Estetoscópios e Palavras

Aleatoriamente um toque de poesia




Durante um tempo, me afastei dos blogs.

A vida, como costuma fazer, foi se enchendo de afazeres. Dias que começavam cedo, terminavam tarde, e ainda deixavam tarefas sobrando nas bordas. Foi uma fase corrida daquelas em que a gente vive no automático, riscando compromissos de listas mentais enquanto tenta não esquecer de respirar fundo.

E então… veio a pandemia.
O mundo parou. Mas eu, não. Enquanto muitos se trancavam em casa, eu abria portas: cuidei de idosos, mergulhei na fisioterapia como nunca antes, e encontrei na minha própria história um desvio bonito uma curva inesperada que me levou à pediatria. Me formar nessa nova área foi um gesto de amor: aos meus filhos, sim. Mas também a mim mesma. Foi como tocar o futuro com as mãos pequenas das crianças que tratei, como quem cura o mundo começando pelo começo.

Mas, no meio de tudo isso, havia uma ausência silenciosa: o blog.
Aquele cantinho simples, mas essencial, onde eu podia escrever o que vivia, o que sentia, o que percebia. Escrever sempre foi meu descanso. Meu divã. Meu lugar de dizer sem pedir licença.
E como fazia falta!

Porque entre um atendimento e outro, entre um cuidado profissional e um carinho de mãe, minha cabeça seguia funcionando como quem observa mais do que executa. Eu não consigo apenas fazer eu preciso entender. Meus pais dizem até hoje rsrsrs que eu deveria  ser psicóloga. Talvez porque, desde cedo, aprendi a ouvir entrelinhas, a ler silêncios, a perceber os porquês por trás dos gestos. Gosto de gente. Gosto de desvendar as pequenas engrenagens do comportamento humano. Gosto de quando alguém diz uma coisa, mas revela outra e a alma escapa pela fresta.

Talvez seja por isso que escrever me completa. Porque a escrita me deixa observar o mundo em câmera lenta, nomear as emoções que passam correndo e registrar aquilo que a correria tenta apagar.
Voltar ao blog, hoje, é voltar a mim. É lembrar que sou feita de ciência, mas também de sensibilidade.
De protocolos e de poesia. De coração dividido entre curar com toques… e com palavras.

E sigo assim: entre estetoscópios e crônicas, entre realidades difíceis e sonhos pequenos.
Porque viver é isso: cuidar dos outros e não esquecer de escrever sobre o que isso nos faz por dentro.
Isso é cuidar de mim. Isso é ser Fernanda!

8 comentários:

  1. Querida amiga Fernanda, ler você é adentrar no meu eu real e perceber, agradecida, que há ainda quem fale de si, das suas verdades, da sua vida como ela é, que sorte ter pessoas não robotizadas, sensíveis, sem preocupação com que vão falar...
    Ler um autorretrato é tomar consciência de que ainda existe ser HUMANO.
    Eu parei uns poucos dias após um luto grande na pandemia, mas senti que não poderia ficar sem escrever nem que fossem minhas dores. Mesmo sabendo que ninguém quer saber delas...
    As pessoas nos tacham de desequilibradas se somos sinceras e falamos da verdade nossa, sobretudo das doloridas vivências.
    Escrever é catarse pura.
    "Escrever me completa".
    Perfeito!
    Quando meu pai faleceu há 17 anos, comecei a blogar, foi o que me valeu...
    Não parei mais, foi cura.
    Amigos de verdade nos estimulam e nos incentivam na caminhada. Faz um bem enorme.
    Obrigada por repartir sua sensibilidade genuína conosco.
    Ler o outro e seus desabafos ou partilhas de vida requer empatia e maturidade.
    Obrigada por confiar em nós.
    Tenha um Dia dos Enamorados abençoado e feliz!
    Beijinhos fraternos de paz e bem


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    1. Querida Roselia,

      Que comentário lindo, generoso e acolhedor… Fiquei com os olhos marejados ao te ler. É como se, por um instante, nossas histórias e cicatrizes tivessem se abraçado em silêncio reconhecendo-se.
      Sim, escrever é catarse. É susto e alívio. E é tão raro, hoje em dia, encontrar quem leia com o coração aberto, sem pressa de julgar ou de rotular. Você fez isso. E, ao fazer, também me deu coragem de continuar sendo exatamente isso que sou: alguém que sente fundo e escreve com tudo o que tem. Sinto muito pelo teu luto, pela dor de perder alguém tão essencial como um pai. Mas ao mesmo tempo, que bonito saber que a escrita te resgatou que foi cura. Entendo bem esse lugar. Às vezes a dor nos ensina um idioma que só quem também sofreu consegue entender.
      Obrigada, de verdade, pelas tuas palavras. Elas chegaram até mim como um abraço em forma de texto.
      Desejo a você também um Dia dos Enamorados repleto de amor seja ele romântico, fraterno, divino ou aquele que nasce do reencontro consigo mesma.

      Com carinho e admiração,
      Fernanda

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  2. Um texto que toca fundo, com palavras que respiram humanidade e revelam a beleza do cuidado em cada gesto. Ler-te é sentir a vida a pulsar entre silêncios e auscultas. Que nunca te faltem palavras nem coragem para continuar.
    Com carinho, Daniela Silva
    https://alma-leveblog.blogspot.com
    Visita o blog para mais palavras com alma!

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    1. Daniela, que coisa linda o que escreveste…
      Fico profundamente tocada por saber que minhas palavras encontraram eco em ti desse jeito tão sensível. Às vezes escrevo como quem tateia no escuro sem saber se alguém vai sentir, entender, ou simplesmente estar ali. E então, leio algo assim… e tudo faz sentido.
      Obrigada por me lembrar que a escuta também é uma forma de amor. Que nunca nos falte essa troca silenciosa, feita de palavras, pausas e verdades.

      Com carinho,
      Fernanda!

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  3. Buenos dias Fernanda, te he leido saboeando cada letra, he sentido cada sentimiento que te mueve en ellas, quizás porque encuentro mucha similutud con tu historia y lo que pienso y hago
    He visto un comentario que has dejado en unos de mis blog, lo he traducido para no perderme ni una coma y me ha conmovido por la sensibilidad que te habita, me siento muy identificada contigo, (creo que todas las personas que escribimos tenemos una sensibilidad a flor de piel que nos identifica) te doy las gracias por llegar a ese log en el que comencé a poner pinceladitas de mi vida cuando era joven, me gusta muchisimo la poesia y en ella vuelco mis sentimientos y emociones, porque aunque hayan pasado los añps,,,sigo siendo la misma de ayer
    Gracias zmiga, tu blog me encanta, yo en el mio ahora ando un poco perdida, tengo problemas y me cuesta...pero no lo dejaré porque me da vida
    Te sigo y lo haré con sumo placer, aun abrazo enorme

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    1. Querida Stella,

      Qué regalo recibir tus palabras tan sinceras, tan llenas de alma…
      Me emocionó profundamente saber que algo en mis letras te tocó, que te viste reflejada en ellas. A veces escribimos como quien lanza botellas ao mar y encontrar una respuesta como la tuya es descubrir que sí, que alguien las encontró, las abrió, y entendió.
      Yo también creo que quienes escribimos llevamos la piel más fina, más expuesta, más dispuesta a sentir el mundo en todo su peso y beleza. Eso nos une, aunque no nos hayamos visto nunca.
      Gracias por dejarme entrar a tu rincón, por confiarme tus “pinceladitas” del ayer que siguen vivas hoy. La poesía es ese hilo invisible que atraviesa el tiempo y nos cose por dentro. Que no te falten nunca ni las palabras ni la esperanza. Y si en algún momento te pierdes un poco, aquí estaré, leyéndote, siguiéndote, con la misma ternura.

      Un abrazo inmenso,
      Fernanda

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  4. Nanda que lindo e nós ficamos felizes que tu voltaste a blogar. Tão bom ler pedacinhos de vida de uma guriazinha tão querida como és e mesmo cheia de trabalhos, filhos, deixas teu coração falar e teus dedinhos clicando nos encantam! beijos, ótimo dia! chica

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    1. Chica querida,

      Que delícia te ler por aqui! Tuas palavras me aquecem como abraço de quem a gente tem vontade de sentar junto e conversar com chimarrão e tempo sobrando. Fico tão feliz por esse carinho todo é isso que faz o blog valer a pena, mesmo em meio à correria, aos filhos, aos prazos e aos caosinhos do dia a dia. O carinho que cada um fica no coração. Temos tantos anos dessa bela parceria de uma grande amizade. Voltar a escrever foi como voltar a respirar fundo… e saber que tem gente como tu, que lê com o coração aberto, é um presente que não tem medida.
      Obrigada por sempre estar, sempre torcer, sempre semear afeto com tuas palavras tão tuas.
      Um beijo enorme e um dia lindo pra ti também!

      Com carinho,
      Nanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)