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18 junho, 2025
Mariposa
5 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Um lindissimo ensaio poético. Gostei muito!
ResponderExcluirNo casulo em que se fecha a mariposa algo mágico acontece!
A transformação é dolorosa, é difícil.
Mas ela sabe que quando suas asas ficarem prontas a conduzirão num voo leve e gracioso. Sabe também ficar pousada na frescura da relva, enquanto não tiver plena confiança nas suas asas.
Um beijinho.
Querida amiga Fernanda, seu poema alinda ainda mais a preciosa mariposa encantada que contrastou com o oliva da grama deixando-nos reflexivos.
ResponderExcluirEstou como ela aqui recostada no merecido descanso que me dou ao luxo, em alguns momentos do dia para me recompor e estar inteira onde precise estar.
Amo pássaros e borboletas e até já lhes dediquei um livro.
A última vez que vi uma borboleta assim como a sua descansando ou se recompondo, tem algum tempo, mas ela não estava sobre o gramado, sim numa calçada.
Como ela, estou eu:
"Na paz de simplesmente estar."
Tenha uma tarde abençoada!
Beijinhos com carinho e voe como borboleta na poesia!
Boa noite, Fernanda.
ResponderExcluirÉ linda, atua borboleta nocturna pousada na relva.
Não pude deixar de recordar a primeira quadra que cantarolei e que o meu avô registou num caderninho porque eu era muito, muito pequenina e ainda não sabia escrever.
Um carinhoso abraço!
Maria João,
ResponderExcluirQue imagem mais terna essa da pequena você, com versos nascendo antes mesmo das palavras no papel. Que beleza esse avô que guardava poesia como se fosse ouro em caderninho e era mesmo. Fico encantada com essas lembranças que carregam afeto e memória em forma de quadra. Obrigada por pousar aqui com sua delicadeza. Um abraço cheio de primavera mesmo à noite.
Com carinho,
Fernanda
Um poeminha em prosa cativante. Cheio do lirismo inerente às criações (uso a palavra poeminha afetivamente). Depois de livro, percebo que é tempo de meditar.
ResponderExcluirQuase sempre, depois que passamos por aqui, meditamos.
Um abraço, Nanda!