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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

27 junho, 2025

Na rega do amor

Aleatoriamente um toque de poesia





Hoje uma amiga me pediu o ombro. E nele um conselho.
Achei bonito o gesto o de confiar e curioso também, já que ela é mais vivida, mais experiente na idade. A gente sempre imagina que a vida vai nos ensinando tudo com o tempo. Mas amor não segue calendário.

Ela falou por longos minutos. Relatou crises, silêncios, tentativas. De vez em quando suspirava e olhava pro nada. E eu, ali, entre o ombro e a escuta, pensava nas vezes em que também precisei de alguém pra me lembrar do óbvio: até os 14 anos eu não tinha a quem pedir conselhos.

O problema é que, muitos
Não percebem que amor não é competição. Quando  a mágoa entra, não podemos deixar que transforme o sentimento em algo tão sem nexo, pequeno. 

Começar a contar pontos: quem fez mais, quem cedeu menos, quem falhou primeiro. Pode parecer  jogo, mas é só cansaço. E um cansaço danado de triste.

Falei pra ela, sem receita:
Os anjos também precisam crescer. Não adianta unir duas asas se cada um quer voar pra um lado. Amar é aprender a maturar junto, mesmo quando o “céu” não ajuda.

O que vejo muito, disse, é casal que se encontra, se encanta, se instala… e depois esquece de regar. É isso. Não precisa ser jorro, não precisa inundar. Mas se não molhar a planta na raiz de vez em quando,  ela murcha. E às vezes nem é por falta de amor, é por desleixo mesmo.

Ela me ouviu calada, como quem rega a própria dúvida com cuidado. No fim, disse que talvez a relação dela estivesse só sedenta. Ainda viva, mas desidratada.

Tomara que sim.
E que ela volte, não pelo costume, mas por escolha. E que os dois, enfim, se lembrem: no amor, todo dia é dia de plantar um gesto, regar um afeto, colher um pouco de paz.

Porque no fundo, amar é coisa simples mas a gente complica. É que o amor, quando se acomoda, vira mobília da casa: está lá, mas ninguém repara. E aí só se dá conta quando a madeira começa a ranger, quando o silêncio se instala como poeira em móvel antigo.

Disse a ela também, antes de irmos embora:
Não tem casal que resista ao abandono diário. Não o abandono da ausência, mas o da atenção.

Tem beijo que seca se não vier acompanhado de presença. Tem conversa que se perde se não for atravessada por escuta. Tem toque que esfria se não for devolvido por desejo. O amor é bicho exigente: sobrevive a quase tudo, menos ao esquecimento.

Ela sorriu com os olhos um pouco marejados e disse que talvez o problema não fosse falta de amor, mas excesso de orgulho. Eu não discordei. Às vezes o que pesa não é a dor, é o medo de recuar. Como se ceder fosse perder, quando na verdade é o único jeito de continuar.

Nos despedimos com um abraço longo, desses que valem mais do que meia hora de terapia. E enquanto ela virava a esquina, pensei no quanto as pessoas pedem conselhos querendo, no fundo, só coragem pra fazer o que já sabem.

Que bom seria se o amor viesse com manual e cronograma. Mas não: ele exige intuição e zelo. Ele pede prática. Como cuidar de planta, de bicho, de criança. Amar dá trabalho, mas é o único trabalho que compensa.

E ali, naquela manhã fria com cheiro de café no ar, fui tomada por uma certeza serena: amar é mesmo um ato de insistência diária. A rega precisa ser mútua senão vira sede.





Fernanda!




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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)