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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

28 junho, 2025

Quando eu era só Fernandinha

Aleatoriamente um toque de poesia



Antes de aprender o que era poesia, antes mesmo de saber que palavras podiam cantar, eu era apenas uma menina pequena demais para entender o mundo, mas grande demais para carregar sozinha o peso que ele me dava.

Nas ruas do Rio de Janeiro, eu caminhava descalça. O chão quente queimava meus pés, mas eu não parava. A roupa que vestia mal escondia minha fragilidade. Eu era invisível para muitos, um rosto esquecido na multidão, uma alma pequenina tentando se manter inteira.

Não havia livros, nem músicas, nem aulas. Só havia o mar o meu único lugar de silêncio e esperança. Diante dele, eu juntava minhas mãozinhas sujas, tremendo, e falava com o Senhor do alto. Eu não sabia seu nome, nem sabia se ele existia de verdade. Até um dia ouvir o padre falar na igreja sobre o Pai e o filho. E foi a oração do Pai Nosso. Eu aprendi todinha e então não deixei mais Ele quieto.
Mas precisava acreditar que alguém, lá em cima, escutava o que eu dizia.

Eu falava baixinho, quase em sussurros, com aquela fé que só uma criança sabe ter porque quando tudo parece escuro, a fé é tudo o que resta. Eu pedia proteção, pedia que a fome fosse embora, que a dor parasse, que a solidão se transformasse em abraço.

Às vezes, quando as lágrimas caíam, era Ele quem eu sentia me segurando. Não um Deus distante, mas um amigo invisível que entendia o que eu não conseguia dizer em palavras.

A vida me ensinou cedo demais que a doçura precisava ser meu escudo. Que ser pequena não era fraqueza, mas uma coragem que eu nem sabia nomear. A doçura era a minha armadura contra a crueldade do mundo.

Hoje, quando olho para os meus filhos, sinto aquela menina em mim aquela que sofreu, que chorou, que teve medo. E choro junto, porque sei que ninguém deveria carregar esse fardo tão cedo. E, ao mesmo tempo, sorrio, porque aquela menina aprendeu a transformar a dor em força.

Ensino meus filhos que a vida não é só aquilo que mostramos nas fotos bonitas, mas também o que carregamos no silêncio das noites difíceis. Que a verdadeira coragem é levantar quando tudo dentro da gente quer desistir.

E quando eles me perguntam de onde vem minha força, conto sobre o mar, sobre o Senhor do alto, sobre as mãos pequenas que um dia se juntaram em prece, sem saber que já estavam fazendo o mais belo dos poemas o poema da esperança.

Se eu pudesse voltar no tempo, abraçaria aquela menina e diria: “Você é maior do que pensa. Você é amor em forma de sobrevivência.” E prometo a ela e a mim mesma que, por mais difícil que seja, nunca deixarei de acreditar na luz que habita em nós.

Porque a vida é isso: lágrimas que regam a alma, doçura que nos mantém de pé e um infinito Senhor do alto que, mesmo calado, escuta cada uma das nossas preces.

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Antes de conhecer os clássicos, antes mesmo de entender o que era poesia, eu era apenas uma menina caminhando pelas ruas do Rio de Janeiro. Maltrapilha, descalça, com as roupas gastas que o tempo e a vida moldaram em mim. Um eu menor, quase invisível, quase inaudível.

Não tinha livros para me ensinar sobre rimas, nem aulas para me falar sobre métrica. Não tinha sequer certeza de que as palavras podiam ser poesia. Mas havia um gesto que eu fazia com devoção: juntava minhas mãozinhas em frente ao mar e falava com o senhor do alto. Não sabia o nome dele, nem sabia se ele me escutava. Mas falava. E no silêncio daquele diálogo invisível, sentia que algo me respondia.

Aquele gesto era a minha poesia um ritual simples, feito de esperança e entrega. Eu não sabia que, naquele momento, já fazia o que muitos só aprenderiam com livros: criar sentido no silêncio, encontrar beleza na simplicidade, usar a doçura como escudo.

A vida para uma criança assim, no meio da adversidade, é um desafio constante. Mas a doçura que eu tecia, mesmo que frágil, era minha fortaleza. Com ela, eu enfrentava o medo, a fome, o frio e a solidão. Ela me protegia do mundo, me ajudava a continuar, a acreditar que ainda havia luz.

Hoje, olhando para trás, vejo que não era só um gesto infantil. Era uma afirmação profunda de que, mesmo na dor, é possível encontrar beleza. Que mesmo quando o mundo te empurra para baixo, ainda há espaço para o amor, para a fé, para o sonho.

Hoje, quando reúno meus filhos, lhes mostro não só o que é a vida, mas o que é a resistência doce  a força que nasce da ternura e não da brutalidade. Ensino-lhes que a vida pode ser dura, sim, mas que eles sempre podem construir sua própria poesia, mesmo que não saibam os versos de cor.

Refletir sobre essa minha infância é entender que o conhecimento não é apenas o que está nos livros. Ele pode ser uma conversa silenciosa com o infinito, uma prece feita com as mãos pequeninas, uma poesia que nasce do coração, antes de qualquer palavra.

E percebo também que o mundo insiste em nos ensinar que a força está no poder, na luta ruidosa, na vitória explícita. Mas a minha força veio de outra parte: veio da coragem de ser gentil, de ser frágil, de ser pequena e ainda assim seguir falando com o senhor do alto, mesmo quando ninguém mais parecia ouvir.

Por isso, cada vez que olho para o mar, volto àquela menina que caminhava descalça, que não sabia dos clássicos, mas já era poesia. E desejo que todos, sobretudo meus filhos, possam ter seu próprio gesto de fé, sua própria conversa silenciosa com o que há de maior, para que possam construir, mesmo nos dias difíceis, sua doçura e sua força.

Porque, no fundo, é disso que se trata a vida: de encontrar a luz onde parece não haver, de fazer do silêncio um canto, e de nunca deixar de acreditar no poder transformador do amor, mesmo quando tudo parece perdido.




Fernanda!
🙏🏻


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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)