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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

03 junho, 2025

O Povo das Palavras Santas

Aleatoriamente um toque de poesia

Havia um povo que falava de Deus o tempo inteiro.
Sabia os nomes sagrados, citava escrituras com facilidade, decorava orações longas e fazia discursos belos sobre o céu. E quanto mais falavam, mais acreditavam ser especiais.
Construíram templos dourados, torres altas, roupas impecáveis.
Diziam:
“Aqui Deus habita.”
 “Deus nos escuta antes de todos.”
“Somos escolhidos.”

Mas algo estranhamente frio pairava sobre aquela cidade.
As palavras eram lindas, mas os gestos eram duros.
Poucos escutavam os fracos.
Poucos amparavam os caídos.
Poucos ofereciam perdão.

Até que um dia, um homem cansado, coberto de pó e silêncio, chegou à cidade.
Pediu água. Negaram. Ofereceu escuta. Riram.
Falou de compaixão. Mandaram que se calasse.
 “Quem é você para falar de Deus?”, perguntaram.
Ele respondeu, sem vaidade:
“Sou só alguém tentando viver o que vocês apenas pronunciam.”

E se retirou.

Alguns o seguiram em segredo.
Foram ver onde dormia, o que comia, como falava.
Descobriram que suas palavras eram poucas, mas seus atos… eram como semente em solo fértil.
Ajudava sem aplauso. Chorava com quem sofria.
Orava em silêncio, e oferecia pão, mesmo com fome.

Os que o seguiam começaram a mudar.
Foram menos ao templo, mas mais às casas.
Menos à torre, mais ao chão.
E entenderam que Deus não mora apenas no alto 
mas no gesto escondido, no silêncio que acolhe, no coração que se dobra para servir.

Os arrogantes se inquietaram.
Chamaram aquilo de heresia, de fraqueza, de desvio.
Mas a humildade, uma vez despertada, não adormece fácil.
E dizem que, desde então,
alguns deixaram de apenas falar de Deus 
para finalmente viverem com Ele.


“Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.”
(Mateus 15:8)

2 comentários:

  1. Caríssima Fernanda,
    A sua literalidade é encantadora! Faz com que o privilegiado leitor voeje em sonhos e se conscientize de que o Criador, com sua infinita complacência, se faz presente em tudo o que existe. O contexto alude a isso e nos mostra a premente necessidade de vivermos o Deus que, humildemente, habita nosso coração, e sermos gratos pela dádiva da vida.
    Maravilhado, parabenizo-lhe por mais essa preciosidade e lhe desejo toda a felicidade que você merece ter.
    Meu carinho e meus aplausos.

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  2. Querido Antenor,

    Receber suas palavras é como abrir uma janela para um jardim silencioso, onde a gratidão floresce em cada gesto e o olhar se eleva com leveza. Que alegria saber que o texto tocou seu coração com essa percepção tão lúcida e sensível da presença divina em tudo o que nos cerca. De fato, é nesse sutil entrelaçamento entre o visível e o invisível que o Criador nos sussurra e quando alguém escuta, como você escutou, o texto ganha vida nova, se expande, e retorna ao mundo com ainda mais luz.
    Obrigada pelo carinho generoso, pelas palavras que edificam e pela presença respeitosa de quem lê com a alma desperta. Que possamos continuar partilhando palavras que sejam pontes, e fé que seja morada.

    Com gratidão e afeto,
    Fernanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)