Outro dia, entre uma leitura e outra, me deparei com uma sucessão de despedidas. Gente boa dizendo adeus aos seus blogs, como quem abandona uma casinha no campo só porque a cidade está barulhenta demais. E eu, leitora fiel de cantinhos sinceros, fiquei com um nó na garganta. “Estou pensando em parar”, diziam. “Ninguém lê mais”, desabafavam. “Não faz mais sentido”, concluíam.
Mas faz. Ah, se faz.
Primeiro, porque blog é um lugar de liberdade. A última trincheira do pensamento com parágrafo. Onde a vírgula ainda tem tempo de respirar, onde a gente pode começar um texto sem saber como vai terminar, e isso ser bonito. Onde a pressa do algoritmo não dita se seu texto é bom ou ruim. Aqui, o tempo é outro.
Segundo, porque sempre tem alguém lendo. Mesmo que calado, mesmo que tímido, mesmo que num domingo chuvoso às três da tarde. Às vezes esse alguém somos nós mesmos, voltando meses depois para encontrar a nós de antes, com um olhar mais leve ou mais profundo. Os blogs são nossos espelhos com moldura poética.
Terceiro: o mundo já anda raso demais. Precisamos de quem mergulhe. De quem escreva sobre a flor da jabuticabeira, o cheiro do café, a dor que não teve plateia, o amor que só aconteceu no silêncio. Precisamos de crônicas, de relatos, de histórias com alma. E onde é que elas moram, senão nesses blogs que querem fechar as portas?
Quarto, e talvez mais importante: ninguém começa um blog à toa. Ele nasce como um grito, um suspiro, um impulso de partilha. E isso não se apaga com curtidas ou falta delas. Se você já se emocionou escrevendo, se já sentiu seu coração aquecer com um comentário anônimo que disse “obrigado”, então você sabe: esse lugar ainda vive.
Por isso, resistam. Escrevam. Mesmo que seja uma vez por mês, uma vez por estação, uma vez por recomeço. A internet ainda precisa de palavras que não vendem nada, mas entregam tudo.
E se um dia você for embora mesmo, que deixe ao menos a luz acesa. Alguém pode passar por ali, tropeçar num texto seu, e encontrar exatamente aquilo que precisava ler.
Mas se puder, não vá. A gente ainda precisa da sua voz.
E se você acha que ninguém se importa, me escuta: sempre tem um coração perdido procurando abrigo. E às vezes esse abrigo é um parágrafo seu, escrito numa terça-feira comum, enquanto o mundo desabava lá fora e você nem sabia que, com suas palavras, estava salvando alguém de si mesmo.
Já pensou quantas vezes a sua delicadeza atravessou a tela e foi acolher um desconhecido? Quantas pessoas sentiram que não estavam sozinhas só porque você contou uma bobagem cotidiana, um fracasso engraçado, uma saudade que não cessa? Isso é revolução. Não subestime.
E olha, ninguém está pedindo perfeição. Nem design de última geração, nem um português de dicionário. Blog bom é o que tem alma, o que tem riso e lágrima dividindo espaço com receita de bolo e desabafo de madrugada. O que tem verdade, mesmo que bagunçada.
Se você ainda sente vontade de escrever, mesmo que ache que não tem mais assunto escreva sobre isso. Sobre a falta de assunto. Sobre o tédio, a dúvida, a vontade de sumir. Às vezes o texto mais bonito nasce do cansaço, do desalento, da confusão.
E se for pra parar, que seja por amor. Amor por um novo projeto, por uma nova fase, por uma mudança que te pede silêncio. Mas nunca por medo de não ser lido, nem por acreditar que isso aqui já era. Porque isso aqui ainda é. Ainda pulsa. Ainda tem vida.
Blog é carta. É diário. É praça. É abraço de palavra.
E nesse mundo tão barulhento, tão instantâneo, tão feito pra passar o dedo e seguir — o seu blog ainda é um lugar onde dá vontade de ficar.
Por favor, fique.
A gente precisa dessa resistência doce que é continuar escrevendo, mesmo quando ninguém mais parece interessado.
Sobretudo quando ninguém mais parece interessado.
Minha querida amiga Fernanda, boa noite!
ResponderExcluirPrepare seu coração que lá vem um testamento...
Minha querida amiga Fernanda, boa noite!
ResponderExcluirEstou ouvindo a música que acabei de postar no meu blog de Espiritualidade... lágrimas descem em minha face.
Ler seu texto agora só vem reforçar minha ideia de que é minha missão a escrita num blog além de compor livros. Poderia ficar só com o segundo, mas e os amigos que aqui fiz e que se fizeram ao longo dos anos?
Jogo-os fora?
Impossível, não?
Quem foi abandonada não deseja jamais abandonar, mesmo que a dor estraçalhe seu viver, fica e fica inteira, mulher de fibra, integralmente fiel.
Vou lhe contar meus 'causos'... sei que aqui eu posso:
comecei a blogar noutro hospedeiro, como já lhe disse, fiquei nove meses sem um comentário, foi ótimo!
Por que?
Não escrevia para ter comentários, aprendi que é o melhor.
Assim sou eu blogueira, tanto que posto logo todas iniciativas mesmo com um ou dois comentários. Quem quer vai onde quer. Não brigo nem obrigo ninguém e é festa quando um vem.
Do mesmo jeito sou com 50 comentários ou com 5... assim quero ser com todos, com quem vem e com quem nunca vem.
Gente interesseira tem aos montes na vida real, aqui não posso me contaminar pelas coisas horríveis que encontro no mundo real!
Já me aconteceu fechar um blog por sufocar meu coração naquele tema que desenvolvia, por não poder mais naquele momento. Abria noutro espaço com o tema reescrito. Humanamente me era impossível continuar, tamanha dor que sentia no peito. Sempre avisando que estava com outro espaço.
Você nos apresenta aqui motes em quatro motivos.
Eu fico pelas amizades sinceras que ganhamos aqui gratuitamente.
É meu motivo maior, visto que poderia escrever não em blogs, pois não posso viver sem ler e escrever.
Minhas luzes vão ficar acesas, eu prometo.
Tenho a família blogueira como minha segunda família e, em alguns momentos, como primeira, quando a outra está ausente (moro sozinha sem nenhum parente por perto, noutros Estados os filhos).
Desculpe-me, vou parar meu testamento, estou sufocada daquele jeito que você sabe que fico.
Blogar é catarse...
Ah! vai lá ver, quando puder, como ficaram meus bolinhos de arroz, amiga, tá? Postei as fotos, rs.
Você molhou, com seu texto, minha plantinha do coração, muitas vezes, quase morta...
Obrigada, estou irrigada de lágrimas no jardim interior.
Noite abençoada lhe desejo.
Quando vier a Guarapari, venha me visitar, prometo que faço um café bem quentinho (ou chá, se preferir)... na varanda, fazendo cócegas às suas três mães... rs.
Beijinhos virtuais com sensação de reais
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Roselia, minha querida amiga do coração,
ExcluirLi seu “testamento” com o respeito que se tem diante de um relicário. Cada palavra sua carrega não só histórias, mas verdades vividas, dores abraçadas com dignidade, e uma fé que não se deixa apagar mesmo quando tudo parece escuro ao redor. Você não escreve: você se oferece. E isso é tão raro hoje em dia…
Você se dá inteira nos blogs, nos comentários, nas lágrimas partilhadas com a música de fundo. E isso toca. Toca fundo. Sabe, te ler me fez lembrar do porquê a escrita nunca foi só texto: é presença. E a sua presença aqui, como em tantos espaços que cultiva, é como um cobertor que nos cobre quando nem sabíamos que estávamos com frio. Sim, blogar é catarse. É costura. É sopro. É desabafo com afeto.
E mesmo que um dia não tenha ninguém lendo, ainda assim há sentido porque você transforma o silêncio em oração. Guardei sua promessa das luzes acesas.
Guarapari já me espera com bolinhos de arroz, café na varanda e essa ternura que só você sabe servir.
Você também molha minha plantinha do coração e agora, depois de te ler, ela floresceu um pouco mais.
Com afeto imenso,
Fernanda
Lindo chamado e grito de alento, de não desanimar de blogar!
ResponderExcluirPra quem gosta como nós, é difícil parar. Eu até pouco tempo atrás tinha 8!
Não os cancelei pelo trabalho de manter e escrever e sim pelo medo de ter um troço de repente e não ter quem apagasse todos.
Então resolvi ficar só com um, o mais velhinho.
Porém, senti necessidade de espaço pra tanto que gosto de fazer e participar e assim nasceu meu outro,rs...
Mas agora ficarei apenas com eles ! Vamos que vamos lendo, interagindo, rindo, brincando e por vezes nos emocionando... beijos,tuuuuuuuuudo de bom,chica
Chica querida,
ExcluirVocê é dessas que espalham alegria e presença por onde passam e pelos blogs então, nem se fala!
Oito espaços? É quase uma constelação inteira orbitando afetos, ideias e sorrisos… Te entendo profundamente quando fala desse medo tão humano: o de partir de repente e deixar rastros digitais sem quem cuide. É sensível demais da sua parte pensar nisso e ao mesmo tempo tão generoso continuar mesmo assim, oferecendo ainda sua palavra, sua companhia, suas participações lindas em tantos cantinhos que a gente adora. É isso: blogar é mais que escrever. É se vincular. E você faz isso com o coração aberto, mesmo quando muda de casa, troca de roupa, ou escolhe ficar só com dois o suficiente pra caber o mundo que você carrega dentro.
Vamos que vamos, sim!
Com riso, com partilha e, claro, com essa leveza tua que é sempre convite pra continuar.
Beijo grande, com carinho sincero,
Nanda 😘
"Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Onde é que eu vou morar?" trecho da famosa marchinha de carnaval "Daqui Não Saio", de Paquito e Romeu Gentil. Para quem quiser se debruçar sobre o significado da letra da marchinha, saiba que, em linhas gerais, apesar de trazer alegria para o carnaval, é uma prova de resiliência, da incapacidade do inquilino de pagar o aluguel e por aí vai. E se vai por aí, é isso, acompanho o voto do relator: não abandonarei o blog, pois o que faria com as pequenas pérolas que escrevo, (observação: a crônica de Fernanda não é parar mim, não fiz esta ameaça: a de abandonar meu blog) sou modesto, reconheço. Brincadeira, já entrei e saí algumas vezes. Mas depois deste apelo, pensarei sempre duas vezes. Se for pouco, pensarei três ou quatro, mas daqui não saio, daqui ninguém me tira.
ResponderExcluirAbraços, Nanda!
Eros, meu querido,
ExcluirSabe o que mais gosto em você? Essa mistura inconfundível de leveza, inteligência e uma ironia que nunca machuca pelo contrário, acolhe. Você transforma até marchinha de carnaval em reflexão sobre pertencimento, permanência e afeto. E faz isso com o charme de quem diz que é modesto, mas sabe muito bem o valor das pérolas que solta por aí
(e olha que não são poucas). Fico feliz em saber que a crônica fez você pensar duas vezes, três ou quatro, não importa. O que importa é saber que você continua. Que está aí, que escreve, que ri, que cutuca a gente com suas frases sempre no ponto.
Você e seu blog são patrimônio afetivo dessa rua digital que a gente construiu junto. E não é exagero dizer: se um de nós sai, o tom da vizinhança muda. Então, ainda bem que você fica.
Abraços cheios de alegria,
Nanda 🥰
Fernanda, esse é o texto em defesa dos blogues mais cativante que já li.
ResponderExcluirEu entrei nos blogues lá no seu auge, início dos anos 2000. Meu primeiro blog tinha o pretenso título de "Sala do Pensamento". Depois criei um mais leve, mais poético, chamado Olhar o Tempo. Foram anos de muitas trocas, de conhecer gente bacana que escrevia coisas que eu queria ler e vice-versa. E até aqueles leitores anônimos que nada dizem, nada comentam, mas sabemos que está nos visitando, nos lendo.
Alguns anos depois as redes sociais surgiram forte e o Facebook chegou seduzindo muita gente que tinha blogues.
"Lá é mais fácil escrever, compartilhar" me dizia uns amigos que estavam migrando e deixando seus blogues sem atualização.
Eu resisti o máximo que pude. Foi quando tive um problema de vírus no meu blogger que atacou muita gente. Eu não conseguia mais comentar, mais postar, mais nada. Fiquei muito irritado. A única coisa que dava pra fazer era deletar o blog...e foi o que fiz. Dei adeus aos blogues (sem nem mesmo salvar meus muitos textos) e migrei para o Face.
Mas eu sabia que os blogues resistiam. Eu ainda visitava alguns. Logo, logo, se viu que o Face não era igual a um blog. Tudo ali é muito descartável. Foi bom para achar conhecidos perdidos por aí. Mas nestes últimos tempos o Face estava me sufocando, o que fiz? Deletei o Face e voltei para os blogues.
Tudo o que você escreveu sobre os blogues é verdadeiro. Tomara que os mais jovens voltem a escrever blogues, seja lá o que for que escrevam. Aliás, tem muito jovem hoje escrevendo histórias em outras plataformas, criando comunidades literárias no TikTok. Tomara que os blogues caiam nessa onda.
Eduardo,
ExcluirTeu comentário é quase um texto-manifesto por si só com esse tom sereno de quem viveu, perdeu, voltou e agora olha tudo com uma sabedoria que só o tempo dá. Estou amando te ler.
“Sala do Pensamento” e “Olhar o Tempo” já dizem muito sobre você. Dois nomes que, de certa forma, seguem em você mesmo depois dos blogs deletados: ainda há pensamento, ainda há tempo e agora, espaço de novo pra que tudo floresça. Senti sua dor lá no momento do vírus, do “não consegui mais comentar”, do deletar sem salvar. Como quem é expulso da própria casa sem nem conseguir recolher os quadros da parede. Mas mesmo assim, você seguiu visitando… e esse gesto diz tanto. O corpo pode ter ido pro Face, mas o coração ficou por aqui e isso, meu amigo, não se apaga. Você voltou, e isso é o mais bonito. Voltar com a alma mais limpa, com menos pressa, com mais sede de troca genuína. Porque aqui o tempo respira com a gente, e os amigos, os leitores (até os mudos) nos escutam com o coração. Que bom ter você aqui de novo. E que bom saber que, se depender de nós, os blogs não morrem se reinventam.👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻🥰
Com carinho e admiração,
Fernanda