Somos cronistas do abstrato.
Gente que senta diante da tela em branco como quem senta diante de um espelho não para se admirar, mas para se decifrar.
Somos testemunhas da vida comum, poetas das entrelinhas, colecionadores de pensamentos soltos que ousam se transformar em texto. Escrevemos porque sentimos demais. E, talvez, porque falar não dá conta.
Blogueiros não são apenas autores; são ouvintes atentos do mundo. Transformamos um passeio no mercado, uma conversa na fila, uma lembrança antiga ou um incômodo persistente em matéria-prima literária. Às vezes com humor, outras com zanga, e muitas vezes com aquela melancolia doce que só quem escreve entende.
Escrevemos no silêncio, mas não queremos solidão. O blog é esse lugar meio mágico, meio datado, onde a palavra ainda pulsa sem algoritmos, sem dancinhas, sem filtro. Onde cada comentário é um abraço, cada amigo, um cúmplice.
Somos também resistentes. Em um mundo acelerado, que corre atrás do imediato e do descartável, a gente senta e escreve. Demora. Reescreve. Publica. E espera.
Blogueiros são, no fundo, ligamos entre o íntimo e o mundo. A gente escreve pra entender a si, mas torce, no fundo, pra que alguém se reconheça. E quando isso acontece ah! quando alguém comenta “parece que fui eu quem escreveu”, a gente sorri. Porque aí tudo fez sentido.
É isso.
Blogueiros somos os que escrevem.
Mesmo quando ninguém pediu.
Mesmo quando ninguém entende.
Mesmo assim.
Blogueiros somos os que insistem.
Insistem na palavra quando o mundo grita imagem.
Insistem na escuta quando o ruído reina.
Insistem em dizer “olha isso aqui que pensei” mesmo que a reflexão pareça maior que a plateia.
A gente não escreve por vaidade embora um elogio nos faça bem. A gente escreve por necessidade. Porque se não escrevesse, adoecia. Porque tem coisa que só se organiza quando vira texto. E porque existe um prazer quase secreto em dividir esse texto com o mundo, mesmo que o mundo nem esteja prestando atenção.
Blogueiros vivem entre o diário e o artigo, entre a poesia e o protesto. Às vezes somos jornalistas amadores, às vezes somos ficcionistas do cotidiano. Às vezes só queremos desabafar, e outras vezes, só responder a um desafio.
Tem quem nos ache ultrapassados. Talvez sejamos. Mas isso nos torna mais livres.
Fora do espetáculo das redes, nosso palco é íntimo. Nosso público é pequeno, mas atento.
E isso nos basta.
Blogueiros são como gente que escreve bilhetes e deixa em garrafas jogadas ao mar.
Nunca se sabe quem vai encontrar, quando vai ler, ou o que vai sentir.
Mas a beleza está nisso:
Na entrega sem garantia.
Na partilha sem contrato.
Na escrita que vive… só porque sim.
Seguimos por aqui.
Com nossos textos, nossas dúvidas, nossas crônicas imperfeitas.
Somos o que somos:
Blogueiros.
Com alma de página e coração de comentário.
Fernanda
Depois de ler atentamente cada definição, de me desvestir de pensamentos no ser blogueiro, confesso que assinaria com você este belo texto. Somos isso e mais que eu não saberia dissecar tão bem como o fez. Blogamos e somos estes seres pulsantes no prazer de divagar pelos sentimentos de um mundo no seu todo.
ResponderExcluirLindo Fernanda e gostei de ver o ajudante já no contato com a folha em branco.
Bjs e paz na feliz semana amiga.