Você está ali, num almoço qualquer, uma pausa no trabalho, ou um café esticado na casa de alguém. Tudo parece leve, até que a conversa vira uma esquina apertada: alguém começa a falar mal de alguém que nem está presente para se defender. Aquele ser ali não gosta de dizer a verdade, viu…
Ah, fulano? Vive se fazendo de bom moço, mas eu sei bem quem ele é…
Nunca me enganou. Sorri por fora, mas é podre por dentro.
E você escuta. Só escuta.
No começo, pensa: “Será?”. Depois vem o incômodo. Aquela sensação de que o problema não está na pessoa que virou alvo, mas em quem segura a pedra com tanto gosto. Há uma frieza ali, uma certa alegria em reduzir o outro a adjetivos feios, como se diminuir alguém fizesse a própria sombra parecer menor.🥹
É curioso como, em certos momentos, não precisamos conhecer a “vítima” da fofoca para saber quem está errando. Basta observar os olhos de quem fala. A voz ganha um tom que não é só de crítica é prazer. Um prazer disfarçado de frustração, inveja, ou riso.
A língua revela mais do coração de quem fala do que do caráter de quem é falado.
E aí vem a chave da crônica: quando alguém denigre outra pessoa com tanta certeza e sem qualquer compaixão, você não aprende nada de novo sobre a pessoa atacada. Mas aprende tudo sobre quem fala mal.
O mal que alguém se dispõe a espalhar diz muito sobre o tipo de jardim que cultiva por dentro.
E é por isso que, muitas vezes, depois de uma conversa dessas, a gente vai embora em silêncio, como quem sai de um lugar onde algo foi quebrado. A confiança, talvez. A admiração. Ou só aquela paz de estar entre pessoas boas.
Sim quem fala mal dos outros com tanta facilidade, inevitavelmente, também falaria de você. Basta virar as costas. Basta você não ser útil. Basta não concordar.🥲
A fala é uma janela.
Mas o que se diz do outro com desprezo, sarcasmo ou prazer é, na verdade, um espelho. Seja do bem é o meu conselho diário.
O bem verdadeiro não precisa de palco nem plateia ele transforma o mundo em silêncio, do jeito que Jesus fez: começando de dentro.
Seja prudente com o que espalha de alguém.
Moral dessa crônica:
Uma coisa que a vida me ensinou é: Desconfie de quem sente prazer em diminuir o outro. Hoje ele fala de alguém. Amanhã, pode ser de você.
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)