Hoje, olhando para o Céu me veio a seguinte reflexão.
Nos tempos primitivos, o mundo era um grande enigma suspenso entre o Céu e a Terra.
As estrelas, sem nome, piscavam como olhos atentos, e os homens, ainda sem telescópios, observavam com o que tinham: os próprios olhos, a intuição e o assombro.
Os meios de observação eram rudimentares, mas a curiosidade era imensa.
O Céu era um palco silencioso, onde os astros se moviam em ritmos misteriosos, e os homens tentavam decifrar seus passos como quem lê uma dança em uma língua estrangeira.
Nasceram então as primeiras teorias.
Não com instrumentos, mas com imaginação.
Para os babilônios, os astros falavam em presságios.
Para os egípcios, o movimento do Sol era a jornada de um deus em sua barca celestial.
Na Grécia, a mente inquieta de Pitágoras viu harmonia nos céus, e Platão sonhou com esferas perfeitas.
Aristóteles acreditava que a Terra era o centro de tudo uma ideia tão convincente quanto confortável.
Mas foi Ptolomeu quem desenhou o céu com mais ordem, ainda que fosse uma ordem enganosa.
Colocou a Terra no trono, e os planetas girando em círculos dentro de círculos, tentando explicar o inexplicável com engenho.
Era belo. Era errado.
Durante séculos, o universo girou em torno de nós ao menos na teoria.
Foi preciso que um polonês chamado Copérnico, séculos depois, virasse o mundo de cabeça para baixo.
Ou melhor, de volta para o Sol. E depois dele, Galileu apontou sua luneta e viu montanhas na Lua.
Descobriu que o céu também tinha imperfeições e isso, de certo modo, o aproximava de nós.
Assim, com instrumentos ainda frágeis, mas olhos cada vez mais aguçados, o ser humano foi rompendo o véu da ignorância.
Do mito ao cálculo.
Da astrologia à física.
Da fé na Terra ao assombro diante do universo.
Hoje, sondas atravessam o espaço, e telescópios enxergam galáxias que nem imaginávamos existir.
Mas a essência continua a mesma:
a busca por entender onde estamos,
e por que estamos.
E, curiosamente, quanto mais sabemos, mais percebemos o quanto ainda ignoramos.
não a certeza,mas o desejo de continuar olhando para o Céu e perguntando.
Fernanda
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)