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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

12 julho, 2025

O valor de cada um

Aleatoriamente um toque de poesia


Tem gente que só entende a importância da água quando a torneira faz silêncio.
Só percebe o valor da luz quando a conta vence e o escuro chega pontual.

Tem gente que só se dá conta do outro quando o outro já foi.
Quando a cadeira que ocupava está vazia, a xícara que deixava no escorredor permanece intacta e o cheiro que ficava no travesseiro evapora como se nunca tivesse morado ali.

É curioso esse negócio de presença: ela parece sempre óbvia até que desaparece.
A rotina camufla os gestos, os nomes, os rostos  e a gente só percebe que alguém sustentava a casa toda quando a casa desmorona com a ausência.

A gente se acostuma com o café pronto, com o recado no espelho, com o silêncio que não é solidão, mas companhia mansa. A gente se acostuma até com o incômodo do outro, com o jeito torto de dobrar a toalha, com a mania de interromper no meio da frase.
E aí um dia por descuido, tempo, vida ou orgulho  o outro não está mais.

É nessa hora que a importância do outro ganha corpo.
Na falta.
Na ausência que arranha.
No buraco que ninguém mais preenche igual.

E veja: não é só sobre perder quem se ama.
É sobre o padeiro que tirou férias, o vizinho que mudou de bairro, o porteiro que trocou de turno.
A moça do café que sabia seu pedido sem você precisar abrir a boca.
O amigo que você não respondeu a tempo.
A mãe que você julgava eterna.

Porque a verdade é essa: o valor de cada um se revela mais inteiro quando falta.
E talvez o desafio seja ver  enquanto ainda tem.
Enquanto ainda dá tempo de ligar, de agradecer, de voltar atrás.
Enquanto ainda há o cheiro no travesseiro, o bilhete na geladeira, o pão quente no balcão da esquina.

Talvez a sabedoria seja essa:
Viver o presente como se já soubesse da saudade que virá.

E amar agora,
como quem sabe o que é perder depois.





Fernanda!

12 comentários:

  1. Beleza, verdade ,recheados de profundidade!
    Não deixemos faltar para valorizar o que gostamos, o que nos faz bem!
    Depois só restará a saudade do que não foi dito, do que não foi vivido e aproveitado!
    beijos, ótimo fds! chica

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    1. Chica, que comentário mais certeiro e cheio de alma…
      Você tocou num ponto que me atravessa cada vez mais: essa urgência de viver o que importa, de dizer o que sentimos, de valorizar antes que vire ausência. Porque a saudade do que não foi dito, ah… essa é das mais silenciosamente doloridas. Que a gente não deixe passar os instantes que aquecem a alma.
      Um beijo grande e um final de semana lindo pra você também!

      😘

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  2. Perfeito Fernanda!
    Por isso que devemos deixar as pessoas que amamos, sempre com uma palavra doce, porque o amanhã muitas vezes não é tão distante e outras é longo. É preciso saber e valorizar cada tempo, cada pessoa e permitir-se estar denro e por inteiro.
    Bjs e bom domingo amiga numa feliz e leve semana.

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    1. Toninho, que bonito isso que você escreveu…
      Sim, o amanhã tem esse mistério às vezes chega antes do previsto, outras se arrasta no tempo. E é por isso que cada gesto, cada palavra dita com presença e doçura, faz toda a diferença.
      Estar por inteiro é um presente raro para o outro e para nós também.
      Obrigada pelo carinho de sempre. Um beijo e uma semana leve, com tudo de bom pra você também!

      Fernanda!

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  3. A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
    Vivamos o presente, sem ficar na rotina do quotidiano, precisamos sair para entrar noutra sensação do mundo. Não há só um caminho entorpecedor e mecânico. A vida é muito mais que isso!
    Precisamos amar a vida, escutar o canto das aves, sentir os aromas que nos perfumam a alma, deixar que o amor nos envolva com volúpia e prazer, viver intensamente o milagre de existir!
    Assim, atingiremos a verdadeira essência da nossa infinita acidentalidade.
    Aí, seremos eternos!

    Beijos, Fernanda.

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    1. Albino, que maravilha de comentário… Ler suas palavras é como respirar mais fundo. Há nelas um convite à vida que não se acomoda essa vida feita de presença, de sentidos despertos, de amor que se arrisca. E você diz tão bem: quando fugimos da dor, acabamos perdendo também a alegria que poderia vir com ela.
      É preciso mesmo deixar que a vida nos toque com tudo o que tem o belo, o áspero, o inesperado. Obrigada por me lembrar disso com tanta beleza.

      Um beijo com carinho,
      Fernanda

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  4. Fernanda de Deus que tema excelente, no ponto certo, no ponto dolorido de nossas vidas!
    Quantas vezes penso nisso, vejo coisas que dizemos, que não falamos, que falamos demais e que nada disso precisava! Os outros fazem, nós fazemos! E para quê, tantas coisas que não precisam serem feitas, ditas, pensadas. E depois... vem o dia do arrependimento! Cruzes.
    Gosto muito da maneira que você aborda tais assuntos do nosso cotidiano, seja com amigos, família ou apenas vizinhos.
    Te aplaudo, querida, gosto desta tuas abordagens psicanalíticas 😄💚 😅
    Você fala com a razão e com o coração.
    Uma boa semana, com muita paz, ideias e saúde sempre!
    Meu carinho,
    Beijo.

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    1. Ah, Tais,
      Que coisa boa é ser lida com essa escuta de dentro, onde moram as perguntas que a gente nem sempre sabe fazer, mas sente.
      Fiquei especialmente tocada com esse trecho teu:
      “E para quê, tantas coisas que não precisam serem feitas, ditas, pensadas. E depois… vem o dia do arrependimento! Cruzes.”
      É isso. A gente segue fazendo e desfazendo, dizendo e calando, tentando acertar em meio ao turbilhão do cotidiano e muitas vezes tropeçando onde só queríamos acolher. Mas saber que há quem perceba esse movimento, que lê nas entrelinhas não só o que está escrito, mas o que pulsa… isso me comove. E me fez sorrir teu carinho quando disseste:
      “Você fala com a razão e com o coração.”
      Tomara que seja isso mesmo. Porque escrever, pra mim, é esse equilíbrio frágil entre lucidez e afeto. É ir escutando a própria alma e, no processo, talvez tocar a de alguém. Obrigada por tua leitura generosa, pela partilha, pela tua presença que sempre acrescenta com inteligência, leveza e um humor que é só teu.

      Um beijo cheio de carinho,
      com gratidão e calor,
      Fernanda

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  5. Boa noite de domingo, querida amiga Fernanda!
    Aqui, tem escrito tudo que sinto e como sinto.

    "Tem gente que só se dá conta do outro quando o outro já foi."

    Para você, eu posso dizer a minha verdade, sei que me entende, só vão se dar conta de minha pessoa, quando souberem que estarei na minha tumba que já está preparada junto ao meu pai amado.
    Tenho certeza. será um pouco tarde, noutra dimensão, onde não haverá mais rancor, falta de perdão, o abraço amoroso acontecerá sincero sem revanches.
    Escrevo sempre no meu blog de amor:

    "Sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pois pode ser a ultima vez que as vejamos."

    Disse já todos os eu te amo a quem devia dizer... dei todo meu amor a quem deveria dar.
    Partirei com consciência reta, amiga.
    Eu amei TUDO, dei meu TUDO.
    Se não foi suficiente, não foi por falta de intensidade e carinho.
    Como sempre, a sensibilidade não me deixa continuar... se fosse escrito à tinta, estaria aqui tudo encharcado.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos fraternos de paz e amor enquanto temos tempo de dá-los.

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    1. Boa noite querida Roselia, tua resposta é uma tessitura delicada de afeto e escuta verdadeira. Ler você dizendo “onde moram as perguntas que a gente nem sempre sabe fazer, mas sente” é como abrir uma janela dentro da alma uma dessas que a gente nem sabia que estava fechada. Você não responde só com palavras: responde com presença, com essa atenção rarefeita que acolhe até o que não foi dito.
      E é tão bonito como você reconhece o tropeço humano com ternura, sem julgamento, como quem compreende que errar, às vezes, é parte do jeito de amar. Esse teu dizer:
      “Escrever, pra mim, é esse equilíbrio frágil entre lucidez e afeto.” É também o que te torna tão especial no que escreve e no que devolve porque há em ti essa rara capacidade de nomear o que é confuso, e de fazer isso com mãos de algodão, sem perder a força.
      Tua escuta é mais do que leitura. É um soar alto. É presença que sustenta.

      Com admiração e afeto,
      Fernanda

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  6. Talvez essa seja a atitude mais democrática do ser humano: só sentimos falta do que sempre esteve ali quando ela ali já não está. Trazer isso à consciência é de suma importância para que possamos valorizar pessoas e coisas que ainda temos, pois quando nos faltar, veremos como nos faz falta.
    E tem também aquele nosso hábito de santificar quem morreu. No funeral, dificilmente vemos alguém lembrar dos erros do falecido, de repente ele vira um santo...coisas humanas.

    Faço umas experiência de vez em quando com meu filho. Aos 14 anos ele não tem obrigação de fazer café, fazer almoço, e me servir, essa obrigação é minha em relação a ele, porém, de vez em quando eu digo, "Eduardo, vai pra cozinha, faz seu café, põe manteiga no seu pão, frita seu ovo..." pois logo, logo, você cresce e não vai mais ter papai pra te servir e você precisa saber fazer.

    Excelente seu texto nos fazer pensar nisso.

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    1. Eduardo, que bonito isso que você compartilhou. A sua fala tem aquele sabor de verdade que a gente só entende com o tempo e com a ausência. Valorizar o que ainda está ao nosso alcance é um exercício diário e, como você bem disse, profundamente democrático. Ninguém ensina isso pra gente na escola, mas a vida ensina com jeitinho… ou com pancada, né?
      E essa sua experiência com seu filho é de uma sabedoria imensa. É muito mais do que ensinar a fritar um ovo é ensinar a perceber o cuidado, a ausência dele, a autonomia e o valor das pequenas coisas que sustentam o afeto no cotidiano. Porque um dia, quando o “papai” não estiver mais servindo o café, ele talvez se lembre disso com um carinho que nem você imagina agora.
      Seu comentário me lembrou que amor também é isso: ensinar a presença antes que ela se torne saudade.

      Obrigada 🙏🏻

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)