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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

10 agosto, 2025

Meu fetiche por biblioteca

Aleatoriamente um toque de poesia



Nunca fui do tipo que entra numa biblioteca e vai direto à prateleira certa. Eu me perco. Deliberadamente. É como se, ao atravessar a porta, algum portal silencioso me sugasse para dentro de um mundo onde o tempo não existe. Há quem tenha fetiche por sapatos, bolsas ou perfumes; o meu é por estantes. Longas, altas, alinhadas ou meio tortas, com livros inclinados, alguns empilhados horizontalmente, como se tivessem perdido a vontade de ficar de pé.

O fetiche não é só pelo objeto-livro, mas pelo cenário todo: o cheiro de papel envelhecido, a poeira que dança nas frestas de luz, o sussurro de páginas viradas ao longe. Tudo isso me provoca uma espécie de vertigem boa, uma ânsia de tocar, abrir, folhear, descobrir.

Em bibliotecas, não tenho pressa. Passo a mão pelo dorso dos volumes como quem acaricia um animal adormecido. Leio títulos como quem espia cartas de amor alheias. Abro ao acaso, na esperança de que alguma frase salte e me escolha porque, sim, às vezes é o livro que nos escolhe.

E quando isso acontece, sinto quase um rubor. É como se eu tivesse sido pega em flagrante num romance proibido: eu, o livro e aquele pacto silencioso de nos acompanharmos para casa.

Talvez seja isso que me fascina tanto: em meio a tantas histórias, sempre existe a chance de encontrar uma que me leia de volta.

Quando saio da biblioteca, às vezes com um livro debaixo do braço, sinto uma espécie de leveza misturada com peso o peso dos mundos que carrego comigo. É curioso pensar que, embora as palavras estejam ali, inertes, é dentro da gente que elas ganham vida, cor, cheiro e som.

E não é só pelo prazer da leitura. É pelo refúgio. A biblioteca é um lugar onde posso ser invisível e, ao mesmo tempo, me encontrar inteira. Onde a pressa do mundo lá fora diminui e o tempo parece se esticar, como um elástico que não quer mais voltar ao tamanho normal.

Ali, entre paredes recheadas de histórias, me lembro de que o coração humano, assim como o mar, tem suas tempestades, suas marés e suas profundezas. Mas também tem pérolas aquelas descobertas raras, doces e inesperadas que só aparecem para quem se atreve a mergulhar.

Meu fetiche por biblioteca é, no fundo, meu fetiche pela esperança. Pela possibilidade de que, a cada página virada, a gente pode se reinventar, se curar, se apaixonar ou simplesmente se reconhecer.

E é por isso que, sempre que posso, volto para lá. Para esse lugar onde a palavra é abrigo e a leitura, um reencontro com a própria alma




Fernanda

Um comentário:

  1. Lindo e interessante este fetiche, viver esta sublime emoção de encontrar-se em livros, poemas, canções. Este sentir que parece ter escrito para nós é motivador e inspirador, como certas canções que nos envolvem num transe, como se o compositor soubesse tudo de nós e assim desnudando nossa vida para todos. Se há rubor, há emoção e o importante, é que esta sobreviva Fernandinha.
    Boa e linda semana iluminada.
    Bjs e paz no coração amiga.

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)