A lua sobe, mansa, pela encosta do céu,
como um suspiro branco no véu da escuridão.
A noite, em prece muda, tira o chapéu,
e a alma se recolhe em contemplação.
Há um silêncio que não pesa consola.
Um brilho que não cega conduz.
A lua não fala, mas tudo ela acolhe,
como se fosse a lanterna de Jesus.
Deus caminha no escuro com os pés descalços,
sente as dores que a cidade não diz.
E enquanto o mundo se esconde em seus falsos,
Ele vigia o pequeno, o aflito, o infeliz.
A noite é o templo onde o mistério habita,
mas não há sombra que Deus não ilumine.
E a lua, tão alta, tão clara e bendita,
é a lembrança que no céu Ele assine.
É quando o mundo parece dormir,
que as estrelas se tornam oração.
E Deus, no silêncio, começa a ouvir
os murmúrios mais fundos do coração.
Então, se à noite você sentir saudade,
ou medo, ou sede de um sentido maior,
olhe a lua ela guarda a verdade:
há um Deus ali perto, em suave amor.
Fernanda
Nenhum comentário:
Postar um comentário
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)